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Cultura e entretenimento

Cinema: Druk, mais uma rodada

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Representante da Dinamarca no Oscar, Druk – Mais uma Rodada acompanha os quatro professores do ensino médio Martin (Mads Mikkelsen), Tommy (Thomas Bo Larsen), Nikolaj (Magnus Millang) e Peter (Lars Ranthe). Enfadados com suas rotinas familiares e desmotivados com o trabalho, os amigos decidem conduzir um experimento a partir de uma hipótese científica, a qual propõe que a permanência de 0,05% de álcool no sangue garante um melhor desempenho, tanto no âmbito profissional quanto pessoal.  

Com foco no professor de História Martin, a direção de Thomas Vinterberg faz com que a jornada dele e de seus colegas seja o mais espontânea possível. Como bons mestres, eles criam uma espécie de diário onde relatam os resultados da experiência. Com isso, acompanhamos diariamente os seus índices alcoólicos, que aparecem na tela o tempo todo. Enquanto parte dos amigos permanece bebendo para seguir a teoria científica, outros am a depender exclusivamente do álcool para seguir com suas vidas. Martin, por exemplo, se nega a enxergar de que seus problemas, como a falta de comunicação com sua esposa, só aumentaram devido ao alto consumo de bebida.  

O roteiro de Vinterberg e Tobias Lindholm destaca a sensação de bem-estar dos personagens, ao mesmo tempo em que os limita graças ao poder do novo vício. O filme fala sobre como nossas escolhas podem ser libertadoras, mas também aponta para as consequências de algumas delas. De forma acertada, a produção não está interessada em fazer julgamento moral, e sim em retratar a crise de meia idade de homens brancos da classe média dinamarquesa.

Com o filme, Thomas Vinterberg conseguiu sua primeira e merecida indicação ao Oscar de melhor diretor, totalizando as duas indicações do filme. Um dos mais originais e interessantes autores europeus da atualidade, possui em sua premiada filmografia títulos como Festa de Família e o esplêndido A Caça. Sempre colocando assuntos controversos sob uma nova perspectiva, aqui, Vinterberg apresenta um desfecho irável, que culmina em uma cena de dança espetacular e memorável.  

Retomando a parceria com o diretor após A Caça, o sempre impecável Mads Mikkelsen está brilhante com uma atuação que prioriza muito mais o olhar e a expressão corporal. Uma jornada de autoconhecimento e reflexão que torna a sequência final ainda mais fantástica, daquelas que nos deixa com um sorriso no rosto.  

Favorito ao Oscar de Melhor Filme Internacional, Druk – Mais uma Rodada apresenta um ótimo estudo de personagens misturando humor, álcool e melancolia. Um dos melhores e mais honestos filmes do ano. Sem dúvidas, é o meu favorito.

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Déborah Schmidt é servidora pública formada em istração/UFPel, amante da sétima arte e da boa música.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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