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Brasil e mundo

‘Por um pacto social na crise’. Por Adolfo Fetter Jr

Afinal, qual o limite para as ações do Poder Público, em uma situação tão inusitada e anormal em relação ao que estávamos acostumados? Têm os Governos o poder e o direito de nos proteger contra nossos próprios interesses? A questão crucial é: quem governa sabe mais do que nós, os governados?

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Adolfo Antonio Fetter Junior, produtor rural, ex-prefeito de Pelotas |

Em momentos excepcionais é necessário unir a Sociedade em nome da sobrevivência, mas também da boa convivência.

A função dos Governos não é de tutelar as pessoas e impor-lhes o que deve ser feito, mas orientar e estabelecer regras capazes de proteger a vida social, sem que isto signifique tirar a liberdade individual.

Sei que este equilíbrio não é fácil de encontrar e que a boa-fé na busca dele pode trazer muitas consequências indesejáveis.

OS DILEMAS E AS INÚMERAS DÚVIDAS DO PRESENTE

É issível – em um período de “guerra convencional” contra um “inimigo visível” – estabelecer medidas como o “toque de recolher”, “zonas de exclusão” ou outras restrições nos contatos, nas comunicações e nos deslocamentos.

E numa “guerra contra o inimigo invisível” – como esta fase que estamos atravessando – o que Governos podem fazer para seu enfrentamento? Podem usar a tecnologia para saber qual o nível de isolamento em uma comunidade a partir dos dados dos celulares (ou outros aspectos da vida das pessoas)? Podem obrigar as pessoas a não trabalharem ou proibir a realização de algumas atividades, enquanto outras podem? Podem impedir as pessoas de se deslocarem e até impor multas se o fizerem?

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 Na China – onde surgiu o Coronavírus e não é nenhum exemplo de Democracia – houve o isolamento, por cerca de 2 meses, da região onde ele se originou. Muitos citam isto como exemplo de eficiência, mas também pode ser visto como uma confissão de culpa e a issão de erro (até porque esconderam a então epidemia do resto do mundo por um bom tempo até agirem desta forma extremada).

 E aqui no Brasil, quem está certo? É o Presidente, que quer flexibilizar (assim como muitos outros o estão fazendo, de Prefeitos a Governadores), ou as autoridades que estão impondo isolamentos parciais e até praticamente totais (como anunciados recentemente em algumas cidades e até estados)?

Temos que continuar focando nossas atenções no debate entre Saúde e Economia, para discutir ionalmente o que é mais importante? E quem define o que é uma atividade Essencial e outras não? Aliás, o termo essencial estaria correto (pois ele varia de pessoa para pessoa) ou se deveria usar a distinção entre o que é prioridade neste momento e o que pode esperar?

Como sabemos, a saúde, a segurança, a produção de alimentos, os supermercados, a coleta de lixo, o funcionamento dos sistemas de água e esgoto, entre outros, não pararam, por serem vistos, corretamente, como prioridade para a própria sobrevivência comum.

Aí cabe perguntar se todos os outros setores deixaram de ser essenciais, ou apenas não foram considerados prioritários neste momento?

Enfim, estamos sendo “bombardeados” por informações e estamos confusos…

Afinal, qual o limite para as ações do Poder Público, em uma situação tão inusitada e anormal em relação ao que estávamos acostumados? Têm os Governos o poder e o direito de nos proteger contra nossos próprios interesses? A questão crucial é: quem governa sabe mais do que nós, os governados?

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A REALIDADE E OS FATOS

Para um catador de resíduos, um camelô, um prestador de serviços autônomo (ou empregado neste setor), um dono de boteco ou de uma loja e um industrial dos mais diversos segmentos, a sua atividade é fundamental para ele (e para uma parte da sociedade, que demanda seus bens ou serviços, por mais “supérfluos” que possam parecer a outros), pois dela depende para sobreviver.

Em um País onde metade da classe trabalhadora está no “mercado informal”, poder trabalhar é poder comer, cuidar da família e pagar suas contas básicas (aluguel, luz, etc.), sem depender de auxílios ou da benemerência e solidariedade de outros (embora isto seja importante e deva ser saudado).

Na outra metade – os “formais”, ou também os “autônomos” legalizados (dentistas, advogados, médicos de várias especialidades, construtores, academias de ginástica e de artes marciais, cabelereiros, manicures, pedreiros, para citar alguns) – boa parte também depende de poder operar para continuar existindo.

A verdade é que vivemos em uma sociedade com múltiplos relacionamentos e, quando paramos de utilizar alguns serviços ou de comprar alguns produtos, criamos um “Efeito Dominó” que se reflete em toda a economia.

Se as pessoas não produzem e consomem, tampouco vão pagar impostos e aí tem o “Efeito Bumerangue” nos Governos, pois começa a faltar dinheiro para o próprio combate à doença e para os demais serviços que presta (agora não considerados “essenciais”), inclusive para os salários dos seus servidores. Isto já está acontecendo, com perdas expressivas de arrecadação em todos os níveis (municipal, estadual e federal).

No início, o nome disto é recessão. Quando dura por um período mais longo, a a se chamar de depressão, em termos econômicos.

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OS GOVERNOS E A SOCIEDADE

Neste ponto, muitos dirão que a vida é mais importante do que o bolso e terão razão, em parte.

No entanto, as pessoas não terão Saúde se não comerem, ou comerem mal… O Desemprego (ou o medo de perder seu “ganha-pão”) e a Ansiedade causadas por todas estas restrições, tem reflexos profundos e duradouros na saúde física e mental da maioria da população (ou da sua quase totalidade, se formos somando os informais, os formais e, por último, os que têm estabilidade e, ainda, salários garantidos).

 Neste momento são os Governos que estão decidindo quem pode ou deve parar, até quando isto deve acontecer e debatem se o isolamento deve ser Horizontal, Vertical, Seletivo ou não deve ocorrer (como na Suécia e em alguns outros países, por exemplo).

Se fosse fácil encontrar saída para estes dilemas e superar nossas dúvidas, não estaríamos assistindo a tantos debates acalorados, tensões e dúvidas. Mas podemos – e devemos – discutir os LIMITES da atuação do Poder Público e a sua capacidade de nos impor a sua concepção de como a crise deve ser enfrentada (mesmo que isto seja orientado por alguns “especialistas”).

Salvo engano, creio que a melhor saída para estes imes é o diálogo e o envolvimento da sociedade na discussão das soluções e não dos problemas. Focar no “fogo” e não na “fumaça”, que atrapalha a visão, nossa e de quem nos governa.

UM PACTO SOCIAL

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Nossos governantes – em todos os níveis – precisam entender que devem usar sua capacidade de convocar – e mobilizar – a Sociedade para esta discussão, bem como ter a coragem de ouvir as pessoas e dividir as decisões. Necessitam superar seu medo de perder o controle (e a capacidade de responder a estes enormes desafios) e ter a humildade e a sabedoria de reconhecer que as pessoas tem discernimento e são responsáveis (em sua maioria, pelo menos) para tomar suas próprias decisões.

Hoje, parece que muitos estão deslumbrados com o imenso poder que assumiram em nossas vidas e a possibilidade de decidir em nosso nome, mas isto não é exatamente uma postura democrática… embora certamente tentadora (ainda mais em ano eleitoral!).

Penso que, ao contrário, se decidissem continuar ouvindo os especialistas, mas também tentassem entender a “maioria silenciosa”, teriam maiores possibilidades de êxito e menores chances de errar.

Mas sobreviveremos a tudo isto. Seu custo será maior ou menor, dependendo da postura e das atitudes de quem tem que enfrentar um momento sério e desafiador como este. Se, ao invés de impor medidas duras, chamassem a sociedade para participar das soluções e medidas e reassem a responsabilidade das ações para as pessoas se cuidarem, creio que os resultados seriam melhores e de efeitos mais rápidos, diminuindo os danos colaterais e perversos que estamos sentindo e ainda sofreremos no futuro.

Precisamos, na verdade, de um PACTO SOCIAL entre Governantes e Governados e não de “chefes iluminados” que queiram pensar e agir por nós, por pretensamente saberem mais do que a gente. Ainda há tempo para minimizar ou reduzir os problemas. Basta compreender o momento, ter bom senso, humildade e capacidade de ouvir, bem como empatia para entender a todos e não apenas alguns.

Adolfo Antonio Fetter Jr. | Face do autor


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A liberdade sagrada das redes

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Noutro dia escrevi um texto sobre a cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem, responsabilizando parcialmente as novas tecnologias de comunicação. Disse: “Se por um lado as tecnologias deram voz à sociedade, por outro, nos têm distraído da concretude do mundo, de interação mais hostil, levando-nos a viver em mundos paralelos”. E: “No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades, mas sim no mundo virtual, um refúgio, retroalimentado pelo algoritmo, onde não há frustrações, mas sim gratificações instantâneas”. Bem, esse é um lado da questão. E não é novo.

Desde Freud se sabe que, diante do trauma, a criança dissocia-se para á-lo, refugiando-se na neurose, uma estratégia de defesa. Pois, assim como a criança abalada pelo trauma, as pessoas, diante das escalabrosidades do mundo concreto, fazem igual: elas podem se retirar para o mundo virtual, guardando, daquele, uma distância.

O outro lado da questão, o reverso da moeda, é que, sem as novas tecnologias de comunicação, a voz traumatizada da sociedade permaneceria atravessada na garganta, sem chance de extravasar-se.

A possibilidade de expressão liberou uma carga de justos ressentimentos contra os limites da política, as injustiças, o teatro social. De súbito, tivemos uma ideia do tamanho da insatisfação com os sistemas de vida, ando publicamente a protestar, em alguns casos chegando à revolução, como ocorreu na Primavera Árabe, onde as redes sociais cumpriram um papel fundamental.

Pois não é por outra razão que os donos do antigo mundo estão incomodados e querem controlar a liberdade de expressão, especialmente a velha imprensa, os monopólios empresariais, os sistemas políticos totalitários. Enfim, todos aqueles para quem a internet e as redes sociais ameaçam seu poder, ao por de pernas pro ar as certezas convenientes sobre as quais se assentaram.

Fato. As inovações desarranjam os mercados e os modos de vida. Toda inovação faz isso. É o preço do progresso. Mas, assim como é impossível voltar ao tempo do telégrafo (imagine o desespero nas Bolsas de Valores), é impensável retroagir ao mundo exclusivo da prensa de Gutenberg. Porque as descobertas, afinal, permitem avançar nos arranjos produtivos: propiciam economia de tempo, dinheiro e, no caso da comunicação, ampliam a liberdade, seu bem mais precioso. Pode-se dizer que não estávamos preparados para tanta liberdade súbita, e que venhamos, neste momento, usando-a “mal”. Contudo, parece razoável dizer que, à medida que o tempo e, estaremos mais e mais preparados para lidar com a liberdade e seus efeitos.

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Com todos os defeitos que a vida tem, é preferível mil vezes, ao controle da palavra, a liberdade de dizê-la. Quem pode afirmar (ou julgar) o que é verdadeiro e o que é falso, senão as pessoas mesmas, em última análise, de acordo com suas percepções e as pedras em seus sapatos? Pois hoje, depois de provarmos a liberdade trazida pelas novas tecnologias, mais do que nunca sabemos que a imprensa, em sua mediação da realidade, é falha, e como o é!

É interessante (e triste) ver como, após a criação da internet e das redes, grande parte da imprensa, ao perder o monopólio da verdade, se vêm tornando excessivamente opinativa e crítica das novas tecnologias. Deveria, sim, era aprimorar-se no trabalho para prestá-lo melhor. Acontece que — eis o ponto — como a velha imprensa não é livre de fato, como depende do financiador, muitas vezes de governos, ela vê nas novas tecnologias de ampla liberdade uma ameaça à velha cadeia de produção acostumada a filtrar o que valia ser dito, e o que não valia, em seu óbvio interesse, hoje nu, como o rei da história.

Além de tudo, há essa coisa interessante: a percepção. Para alguns pensadores do novo mundo, o que chamamos de realidade é uma simulação, no que concordo. Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros, paladares etc. não existem no mundo concreto (são imateriais), sendo portanto simulações percebidas pelos sentidos (pessoas veem cores em diferentes matizes, quando não divergentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado exclusivo dos nossos sentidos. Assim, a única coisa real seria a razão. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. “Penso, logo existo”.

Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos com que amos o mundo concreto, estando entrelaçados, não haveria diferença entre eles. Logo, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor. Eu acredito que é assim.

Uma vez provadas as inovações, não é possível retroagir. Podemos, isso sim, é refinar, em decorrência delas, o nosso comportamento.

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Vivendo em mundos paralelos

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Algo mudou na relação entre o jornalismo e os pelotenses. Até por volta de 2015, havia um marcado interesse nos assuntos da cidade. Um mero buraco, e nem precisava ser o negro, despertava vívida atenção. Agora já ninguém dá a mínima. Nem mesmo se o buraco for um rombo fruto de corrupção numa área de vida e morte, como a de saúde. O valor da notícia sofreu uma erosão nas percepções. Não é uma situação local, mas, arrisco dizer, do mundo.

Vem ocorrendo uma cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem. Um corte entre elas e a vida social. O espaço, que no ado era público, já hoje parece ser de ninguém.

A responsabilidade parcial disso parece, curiosamente, ser das novas tecnologias de comunicação. Se por um lado elas deram voz à sociedade como um todo, por outro, ao igualmente darem amplo o ao mundo virtual, elas nos têm distraído da concretude do mundo, de interação sempre mais hostil — distraído, enfim, da realidade mesma, propiciando que vivamos em mundos paralelos.

Outra razão é que, no essencial, nada muda em nossa realidade. Isso ficou mais evidente porque as redes sociais deram vazão, sem os filtros editoriais da imprensa, a um volume de problemas reais maior do que o que era noticiado. Se antes já havia demora nas soluções, essa percepção foi multiplicada pelo crescente número de denúncias feitas nas redes pelos próprios cidadãos. Os problemas que dizem respeito à coletividade se avolumam sem solução a contento, desconsolando e fatigando a vida.

Como a dinâmica da cidade (e da realidade) não responde como deveria, eis o ponto, estamos buscando reparações no ambiente virtual, sensitivamente mais recompensador, além de disponível na palma da mão.

No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades. Estamos habitando no mundo virtual, onde não há frustrações, mas sim gratificação instantânea. Andamos absortos demais em nossa vida. Abduzidos por temas de exclusivo interesse pessoal, retroalimentados minuto a minuto pelo algoritmo.

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Antes vivíamos num mundo de trocas diretas entre as pessoas. Hoje habitamos numa nuvem, no cyber-espaço. Andamos parecendo cada dia mais com Thomas Anderson, protagonista do filme Matrix. Conectado por cabos a um imenso sistema de computadores do futuro, ele vive literalmente em uma realidade paralela. Isso dá

Para complicar tudo, há pensadores para quem a realidade é uma simulação.

Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros etc. não existem no mundo concreto, mas são simulações percebidas pelo nosso corpo (pessoas veem as cores em diferentes tons, quando não em diferentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado dos nossos sentidos.

Assim, a única coisa real seria a razão, quer dizer, o modo como processamos aquelas percepções dos sentidos. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos que amos o concreto, não haveria diferença entre eles.

Segundo aqueles pensadores, como o mundo virtual está entrelaçado com o mundo concreto, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor.

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