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Brasil e mundo

“A iniciativa privada sequestrou o país”, diz o ex-banqueiro Eduardo Moreira

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O economista, engenheiro e ex-banqueiro Eduardo Moreira falou sobre os acertos e erros dos governos petistas que culminaram na atual situação econômica do país.

O argumento de que “o PT quebrou o Brasil” foi muito usado para justificar votos em Jair Bolsonaro e continua sendo usado para validar a nefasta reforma da Previdência proposta pelo governo de extrema direita.

Moreira desmistifica muitos destes mitos e aponta soluções para a crise econômica brasileira. Leia a entrevista na íntegra:

Um dos argumentos para a eleição de Bolsonaro e para a ascensão da direita é o de que o PT destruiu a economia do país. Na sua visão, o que os governos PT de fato fizeram de certo e errado nesta área?

Primeiro, precisamos deixar uma coisa bem clara: de 2005 a 2013, pegando no meio a crise de 2008, o Brasil cresceu em média 3,8% ao ano. Foi um crescimento que pouquíssimos países tiveram por conta da crise de 2008, que pegou vários países e não pegou o Brasil.

Qual foi o grande problema, na minha opinião, do governo do PT? Qualquer país, para maximizar sua capacidade de gerar riquezas, tem que dar a toda sua população a possibilidade de contribuir no processo de geração de riqueza. E, para as pessoas poderem contribuir com esse processo, elas têm que ter primeiro: uma condição humana, física e estrutural de produzir riqueza, ou seja, têm que ter o mínimo de saúde, morar com dignidade, ter saneamento básico…

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E a segunda condição que você tem que dar é a opção dessas pessoas também serem donos do processo de geração de riqueza, ou seja, deles serem donos de máquinas, donos de terras, donos de capacidade intelectual para criar um programa de computador, por exemplo. Então, o que isso significa? Significa ter o mínimo de distribuição dos meios de produção.

O que o governo do PT fez no começo? Eles viram que tinha muita riqueza acumulada de um lado da sociedade e não havia riqueza nenhuma em todo o resto da sociedade.

Além do lado econômico, tem o lado humano, é você pensar “poxa, a maioria das pessoas não têm a mínima condição de sobreviver”. Então, você precisa fazer as pessoas terem condições de vida pelo lado humano, mas pelo lado econômico também, porque pessoas nessa situação viram um peso para a economia, elas não contribuem e precisam ser sustentadas.

O PT, então, disse “eu vou dar o mínimo de condição para que essas pessoas virem agentes participantes na nossa economia”.

Então, o governo começou a distribuir riqueza para essas pessoas, seja com atividades do governo (com o PAC, com os programas que o PT criou de investimento público…), então eles fizeram com que o dinamismo da economia viesse dos gastos e criou programas de transferência de renda também.

Boa parte da população começou a deixar de ser um peso e começou a ser um agente fomentador da economia brasileira.

Só que qual foi o problema? O dinheiro, os recursos e a riqueza que o governo usou para redistribuir foram só do governo. Então, o cofre do governo foi esvaziando e chegou num ponto em que a capacidade de investir do governo se esgotou.

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O que o governo então deveria ter feito?

“Eu começo o processo, mas teremos que mexer nos outros cofres também”, porque, se não não tem riqueza para todo mundo.

Então, teria que mexer no cofre dos grandes bancos, teria que mexer nos cofres das grandes empresas brasileiras, fazendo uma reforma tributária que transformasse nosso sistema de tributação em um sistema progressivo. Teria que começar a taxar dividendos, teria que fazer uma reforma que fosse redistributiva e o papel de começar o processo de redistribuição de riqueza não ficasse só com o governo.

O governo do PT não fez isso e uma hora seus recursos acabaram e os dos outros não foram redistribuídos.

O Brasil, para continuar crescendo, precisava continuar investindo e esse investimento tinha que vir de algum lugar, do governo não dava mais para vir. E quando teve que vir de outro lugar, a iniciativa privada viu que tinha ganhado um poder enorme na jogada e falou “olha só, o governo não tem mais capacidade para investir e para a gente investir, tem que jogar com as nossas regras”. Aí já começa com o [Joaquim] Levy entrando no governo da Dilma.

Começa um processo que a gente vê até hoje, que é cada vez mais a iniciativa privada se aproveitar de uma situação de fragilidade do poder público e sabendo que precisa gerar riqueza e fazendo o país de refém das vontades dela.

Isso são as empresas e os bancos falando “olha, eu quero acabar com esses impostos, quero que você perdoe nossas dívidas fiscais, quero uma reforma da Previdência para que o trabalhador custe menos e trabalhe até o final da vida…”.

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E aí para garantir ainda que não teria outra solução para a gente crescer, ainda conseguem fazer um lobby para ar a PEC 95, que é a do teto dos gastos públicos. Ou seja, além do governo não ter capacidade de investir, deixaram isso na Constituição, para que a única possibilidade de investimento venha da iniciativa privada.

Então, o PT acertou vendo que o problema do Brasil é muito simples: é só você fazer a população inteira se tornar participante do processo econômico do país e, com isso, todo mundo vive uma vida mais digna e com mais motivação. Só que [o PT] não conseguiu fazer com que o processo de redistribuição de riqueza atingisse outros setores da sociedade.

Hoje em dia, as pessoas não enxergam mais o amanhã como algo cheio de possibilidades. Agora, elas dependem da vontade de outros de lhes darem condições para se desenvolverem. Isso cria um país desmotivado, triste e cheio de ódio.

Essa tristeza que você mencionou se transformou no processo que gerou o cenário político que vivemos hoje, certo?

A eleição do Bolsonaro me lembra a eleição do Severino Cavalcanti para a Câmara, onde estava todo mundo revoltado e queria mandar um recado. “A gente não aguenta mais isso aqui e vai mostrar para vocês”, e colocaram o Severino Cavalcanti, um jabuti no poste.

Aí, a gente elege Bolsonaro que até 6 meses antes da eleição presidencial era uma figura caricata, de programa de comédia de televisão. E aí eu acho que vendo a possibilidade de um personagem representar esse ódio que estava embebedado na população, vamos lembrar que viemos do governo temer, com mais de 90% de rejeição, e estava todo mundo doido para dar um recado. E esse recado, já vimos no ado, é o Macaco Tião, é o Tiririca.

Aí eles têm a sacada genial que é trazer para o holofote o Paulo Guedes, que é um cara que não tem muita visibilidade, mas pegam ele como sendo um cara que tem uma retórica muito boa, uma cultura acima da média, outro personagem. E juntam os dois personagens: o “gêniozinho” econômico e o “eu vou acabar com tudo isso, vou matar bandido e prender corrupto”.

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Aí, com a junção dos dois personagens, a população pensa “que ótimo, juntaram o melhor de um com o melhor de outro” (como se tivesse melhor, porque não consigo ver nada de muito bom em nenhum dos dois).

A gente conseguiu juntar o pior de tudo, juntou a vaidade do Moro com a arrogância do Paulo Guedes, com os impulsos irresponsáveis de Bolsonaro e construiu um governo que é absolutamente acéfalo.

Surreal, não é?

Sim, parece que a gente está dentro daqueles filmes de realidade fantástica. É tão doido, que parecem pessoas decidindo coisas em uma mesa de bar: “vamos matar bandidos? Vamos! Então a aí uma lei anticrime”, “vamos liberar agrotóxico? Bora!”.

São coisas absolutamente desconectadas, não existe um projeto de governo, ninguém sabe o que vai ser. Aí, na ausência de projeto de governo, elege-se uma reforma estrutural como sendo O projeto do governo. Então, o projeto do governo Bolsonaro virou a reforma da Previdência.

Quando o governo fala que se não aprovar, vai virar um caos, de alguma maneira ele tem razão no seguinte sentido: ele não tem nenhuma outra ideia, é a única coisa em que eles estão apostando.

Assim como Severino Cavalcanti mostrou a que ponto o Congresso brasileiro poderia chegar, o Bolsonaro mostra até que ponto chegou a situação do país em termos de ser um país machista, preconceituoso, racista, de ser um país raso em suas discussões, um país que ou a ter ódio do Estado, quando, na verdade, o Estado nada mais é do que um patrimônio dele.

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Então, Bolsonaro faz isso e também está fazendo algo que ninguém conseguiu fazer na história do Brasil: unir a esquerda. Se tem a chance de existir algum motivo bom pelo qual Bolsonaro vai entrar para a história, será o de ter unido o campo progressista deste país.

Você acha que o Bolsonaro é o nosso fundo do poço?

Acredito que estamos próximos a viver o melhor momento das forças progressistas deste país. E eu acho que isso vai vir por causa do Bolsonaro.

Lembre-se que as coisas vão de um extremo para o outro, a gente foi de Obama para Trump. Então, quando o pêndulo vai muito para um lado, ele volta muito para o outro.

Acho que a gente tem que estar preparado para não desperdiçar um dos momentos em que as questões sociais no Brasil vão ter a maior oportunidade de serem trabalhadas, discutidas e endereçadas.

Falando agora da reforma da Previdência, existem setores da esquerda que defendem que ela não precisa ser feita. A direita bate na tecla de que, se não fizer, o país vai explodir. Então, para você, a reforma precisa de fato ser feita?

Para começar, é o seguinte: o país “explodir”, como a direita diz, significa que a gente vai chegar lá na frente e vai ter dificuldade em pagar nossa dívida. Porque a dívida está 90% nas mãos dos fundos de investimento, dos bancos e dos investidores estrangeiros. Então isto que é o “explodir”.

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Então eu digo: vem cá, vocês estão com medo de não honrar um compromisso que vocês prometeram lá atrás para um grupo de pessoas, mas vocês estão fazendo a mesma coisa com a reforma da Previdência.

Vocês não estão honrando com algo que prometeram para milhões de brasileiros. Então, é importante definir o que é “quebrar”, porque para não quebrar com os ricos, vocês estão quebrando com os pobres.

A reforma da Previdência tira mais de 90% da economia de pessoas que estão ganhando, em média, menos de 2 mil reais.

A gente está escolhendo não quebrar com os ricos, para quebrar com os pobres, se é que o Brasil vai quebrar como eles dizem.

O segundo ponto é o seguinte: a estratégia do governo é “vamos apertar o cinto e, com o que a gente economizar, iremos parar nossa dívida”.

Mas, se você economizar esse dinheiro, a economia vai desaquecer. Então, você vai ter menos receita, não vai adiantar nada.

Aí o governo fala “mas a iniciativa privada vai investir e o crescimento vem da confiança dessas pessoas”.

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Tudo bem, eles têm uma tese e podem até estarem certos. Vamos lembrar que existem países que implementaram o neoliberalismo e deram certo, como a Austrália. Mas, existem países que tentaram implementar o neoliberalismo e viveram um caos, como a maioria deles, inclusive a Argentina.

No que eu acredito e as forças progressistas acreditam? A gente tem que fazer o contrário, estimular a economia agora e para isso a gente tem que tirar esses entraves para estimular a economia, ou seja, rediscutir PEC 95 do teto dos gastos, a gente tem que rediscutir a lei de responsabilidade fiscal, abrir espaço para o Espaço poder investir.

Aí a gente vai gerar riqueza, e com essa riqueza gerada, também iremos pagar a dívida.

A gente quer fazer um outro caminho e pode ser que estejamos certos. A Bolívia foi nesse caminho e é o país que mais deu certo na América Latina nos últimos 10 anos.

Portugal está escrevendo uma história maravilhosa com um governo de esquerda, muito melhor do que estava antes com os governos que eram de direita.

A gente também pode estar certo, como podemos estar errado. Mas, se estivermos errados, ao longo do caminho a gente vai ter investido em educação, em saúde, em infraestrutura, em moradia, em tudo isso. Se lá na frente der errado, no caminho ficou um rastro de construção.

Se o governo Bolsonaro chegar lá na frente e ele estiver errado, só terá deixado um rastro de destruição. Ele deixa as pessoas com menos educação, menos saúde, menos escolas, ando mais dor.

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Eu não tenho dúvidas de que nossa aposta é melhor do que a deles.

Sobre essa questão de apostar no investimento externo, os escândalos do governo Bolsonaro impactam nos investimentos?

A gente que está no meio da confusão esquece como é olhar o Brasil de fora. Você vê um presidente que se elege dizendo que se o filho fosse gay, preferia que morresse, vê um candidato que aparece em campanha eleitoral pegando um tripé e fingindo que é um fuzil.

Você vê um cara que xinga as mulheres que estão na frente dele, que assume o poder e quer botar uma arma na mão de cada brasileira, um cara que em cada entrevista que dá fala uma maluquice diferente, que vai pra Nova York e o prefeito de lá não aceita o cara, que os filhos dele podem estar envolvidos no assassinato de uma vereadora, que a família tem ligações com a milícia…

Você vê isso e pensa “vem cá, eu vou investir nesse governo com a pior taxa de aprovação de todos os presidentes eleitos em primeiro mandato no Brasil? É aí que eu vou investir?”, é difícil imaginar que a resposta seja positiva.

Ainda tem a questão do Guedes, que é uma pessoa intempestiva, que já teve desentendimentos com a imprensa, que já teve problemas em diversos lugares onde trabalhou e saiu de vários deles com conflitos com as pessoas. É neste país que você vai confiar para colocar seu dinheiro?

Eu acho difícil uma onda grande de investimento no Brasil com o país vivendo essa situação.

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Independentemente de a reforma da Previdência ser aprovada ou não…

Exato. Você pode ter um lapso de investimento depois da reforma, porque sempre tem algumas pessoas que estavam falando tanto que ficam constrangidas de não fazer um investimento depois de um negócio desses ar. Mas, estruturalmente, acho muito difícil.

Você pensa em investir, se tiver gente para comprar. Você vai construir uma fábrica de camisa, se ninguém vai comprar sua camisa?

Se não tem demanda, não adianta investimento.

Não adianta. E lembrando que o mundo está ando por um soluço. As chances de os Estados Unidos entrar em momento recessivo estão cada vez maiores, essa guerra comercial entre EUA e China, a questão da renúncia da Theresa May, do Brexit, a Itália ando por um governo populista de direita que está levantando um monte de questionamentos… o mundo não está em uma situação tranquila.

Pode vir susto lá de fora também. Em vez de o Brasil aproveitar que tem 280 milhões de pessoas que estão sentadas em um baú de riquezas enorme e estimular seu mercado consumidor interno, fazer o que a China e a Índia fizeram, não, quer imitar o Chile.

50% das exportações do Chile são cobre, o cobre subiu 4 vezes de preço nos últimos 20 anos. Se o cobre cai 90% de preço, o Chile é a próxima Venezuela. Então, é isso que a gente vai imitar?

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Se é para imitar quem tem renda maior per capita, vamos imitar Luxemburgo, não vamos imitar o país que está em 84º lugar no mundo em renda per capita.

São análises muito rasas que as pessoas têm repetido.

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A liberdade sagrada das redes

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Noutro dia escrevi um texto sobre a cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem, responsabilizando parcialmente as novas tecnologias de comunicação. Disse: “Se por um lado as tecnologias deram voz à sociedade, por outro, nos têm distraído da concretude do mundo, de interação mais hostil, levando-nos a viver em mundos paralelos”. E: “No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades, mas sim no mundo virtual, um refúgio, retroalimentado pelo algoritmo, onde não há frustrações, mas sim gratificações instantâneas”. Bem, esse é um lado da questão. E não é novo.

Desde Freud se sabe que, diante do trauma, a criança dissocia-se para á-lo, refugiando-se na neurose, uma estratégia de defesa. Pois, assim como a criança abalada pelo trauma, as pessoas, diante das escalabrosidades do mundo concreto, fazem igual: elas podem se retirar para o mundo virtual, guardando, daquele, uma distância.

O outro lado da questão, o reverso da moeda, é que, sem as novas tecnologias de comunicação, a voz traumatizada da sociedade permaneceria atravessada na garganta, sem chance de extravasar-se.

A possibilidade de expressão liberou uma carga de justos ressentimentos contra os limites da política, as injustiças, o teatro social. De súbito, tivemos uma ideia do tamanho da insatisfação com os sistemas de vida, ando publicamente a protestar, em alguns casos chegando à revolução, como ocorreu na Primavera Árabe, onde as redes sociais cumpriram um papel fundamental.

Pois não é por outra razão que os donos do antigo mundo estão incomodados e querem controlar a liberdade de expressão, especialmente a velha imprensa, os monopólios empresariais, os sistemas políticos totalitários. Enfim, todos aqueles para quem a internet e as redes sociais ameaçam seu poder, ao por de pernas pro ar as certezas convenientes sobre as quais se assentaram.

Fato. As inovações desarranjam os mercados e os modos de vida. Toda inovação faz isso. É o preço do progresso. Mas, assim como é impossível voltar ao tempo do telégrafo (imagine o desespero nas Bolsas de Valores), é impensável retroagir ao mundo exclusivo da prensa de Gutenberg. Porque as descobertas, afinal, permitem avançar nos arranjos produtivos: propiciam economia de tempo, dinheiro e, no caso da comunicação, ampliam a liberdade, seu bem mais precioso. Pode-se dizer que não estávamos preparados para tanta liberdade súbita, e que venhamos, neste momento, usando-a “mal”. Contudo, parece razoável dizer que, à medida que o tempo e, estaremos mais e mais preparados para lidar com a liberdade e seus efeitos.

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Com todos os defeitos que a vida tem, é preferível mil vezes, ao controle da palavra, a liberdade de dizê-la. Quem pode afirmar (ou julgar) o que é verdadeiro e o que é falso, senão as pessoas mesmas, em última análise, de acordo com suas percepções e as pedras em seus sapatos? Pois hoje, depois de provarmos a liberdade trazida pelas novas tecnologias, mais do que nunca sabemos que a imprensa, em sua mediação da realidade, é falha, e como o é!

É interessante (e triste) ver como, após a criação da internet e das redes, grande parte da imprensa, ao perder o monopólio da verdade, se vêm tornando excessivamente opinativa e crítica das novas tecnologias. Deveria, sim, era aprimorar-se no trabalho para prestá-lo melhor. Acontece que — eis o ponto — como a velha imprensa não é livre de fato, como depende do financiador, muitas vezes de governos, ela vê nas novas tecnologias de ampla liberdade uma ameaça à velha cadeia de produção acostumada a filtrar o que valia ser dito, e o que não valia, em seu óbvio interesse, hoje nu, como o rei da história.

Além de tudo, há essa coisa interessante: a percepção. Para alguns pensadores do novo mundo, o que chamamos de realidade é uma simulação, no que concordo. Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros, paladares etc. não existem no mundo concreto (são imateriais), sendo portanto simulações percebidas pelos sentidos (pessoas veem cores em diferentes matizes, quando não divergentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado exclusivo dos nossos sentidos. Assim, a única coisa real seria a razão. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. “Penso, logo existo”.

Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos com que amos o mundo concreto, estando entrelaçados, não haveria diferença entre eles. Logo, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor. Eu acredito que é assim.

Uma vez provadas as inovações, não é possível retroagir. Podemos, isso sim, é refinar, em decorrência delas, o nosso comportamento.

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Vivendo em mundos paralelos

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Algo mudou na relação entre o jornalismo e os pelotenses. Até por volta de 2015, havia um marcado interesse nos assuntos da cidade. Um mero buraco, e nem precisava ser o negro, despertava vívida atenção. Agora já ninguém dá a mínima. Nem mesmo se o buraco for um rombo fruto de corrupção numa área de vida e morte, como a de saúde. O valor da notícia sofreu uma erosão nas percepções. Não é uma situação local, mas, arrisco dizer, do mundo.

Vem ocorrendo uma cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem. Um corte entre elas e a vida social. O espaço, que no ado era público, já hoje parece ser de ninguém.

A responsabilidade parcial disso parece, curiosamente, ser das novas tecnologias de comunicação. Se por um lado elas deram voz à sociedade como um todo, por outro, ao igualmente darem amplo o ao mundo virtual, elas nos têm distraído da concretude do mundo, de interação sempre mais hostil — distraído, enfim, da realidade mesma, propiciando que vivamos em mundos paralelos.

Outra razão é que, no essencial, nada muda em nossa realidade. Isso ficou mais evidente porque as redes sociais deram vazão, sem os filtros editoriais da imprensa, a um volume de problemas reais maior do que o que era noticiado. Se antes já havia demora nas soluções, essa percepção foi multiplicada pelo crescente número de denúncias feitas nas redes pelos próprios cidadãos. Os problemas que dizem respeito à coletividade se avolumam sem solução a contento, desconsolando e fatigando a vida.

Como a dinâmica da cidade (e da realidade) não responde como deveria, eis o ponto, estamos buscando reparações no ambiente virtual, sensitivamente mais recompensador, além de disponível na palma da mão.

No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades. Estamos habitando no mundo virtual, onde não há frustrações, mas sim gratificação instantânea. Andamos absortos demais em nossa vida. Abduzidos por temas de exclusivo interesse pessoal, retroalimentados minuto a minuto pelo algoritmo.

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Antes vivíamos num mundo de trocas diretas entre as pessoas. Hoje habitamos numa nuvem, no cyber-espaço. Andamos parecendo cada dia mais com Thomas Anderson, protagonista do filme Matrix. Conectado por cabos a um imenso sistema de computadores do futuro, ele vive literalmente em uma realidade paralela. Isso dá

Para complicar tudo, há pensadores para quem a realidade é uma simulação.

Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros etc. não existem no mundo concreto, mas são simulações percebidas pelo nosso corpo (pessoas veem as cores em diferentes tons, quando não em diferentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado dos nossos sentidos.

Assim, a única coisa real seria a razão, quer dizer, o modo como processamos aquelas percepções dos sentidos. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos que amos o concreto, não haveria diferença entre eles.

Segundo aqueles pensadores, como o mundo virtual está entrelaçado com o mundo concreto, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor.

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