Amigos de Pelotas

Vejo cada coisa nas redes sociais que preferia não ver 1n4q63

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“De perto, ninguém é normal”, fala o ditado.

Graças a Deus, a tecnologia tem provado isso sem que tenhamos de chegar muito próximo das pessoas para descobrir. Basta ear os olhos, na segurança dos nossos lares, pela timeline do facebook.

Algumas licenciosidades tornadas públicas pela despudorada evasão de privacidade dos novos tempos chocam. Sobretudo quando partem de pessoas por quem temos iração e respeito.

Gente que do nada manda uma pessoa “tomar naquele lugar”, com todas as letras.

Maiúsculas. Três exclamações. E coisas ainda muito pior.

Não pense que desisto dos meus amigos por isso. Não.

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Só me dou conta, um pouco decepcionado, que eles não são totalmente como eu os imaginava.

Eles devem sentir o mesmo quando leem algumas coisas que posto.

As redes sociais são como uma grande nave sem rumo no espaço. Cheias de criaturas que, na forma adulta, babam uma gosma entre dentes de aço. Tem sido feio de ver.

Certas coisas que vejo me deixam pra lá de perplexo. Expressões de médicos da nossa família, professores dos nossos filhos, o dono da padaria onde compramos o pão, colegas de trabalho, gente por quem em geral temos consideração mais elevada.

São pessoas que, no dia-a-dia, são simpáticas. Mas que, nas redes, entregam um lado “b”.

É como se todo mundo de repente tivesse virado hospedeiro de pequenos aliens. Naquela forma de feto nervoso que rompe a barriga de um tripulante da nave, no primeiro filme da série.

O bicho dentro de nós explode as nossas entranhas, cresce assustadoramente e salta nas redes sociais. O bom é que não há só um lado desagradável nessa expulsão involuntária. Graças a ela, eu me sinto menos solitário na minha própria “anormalidade”.

Em alguns casos, deduzo que sou até mais normal do que eu mesmo pensava.

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Outro dia li no face de um professor universitário: “Quem não tem lado, é um Bundão”.

Na verdade ele usou outra palavra menos elegante, referindo-se, igualmente no aumentativo, à parte menos nobre do corpo humano. Sim, no face de um professor de Universidade. Um doutor!

As redes sociais são como uma grande nave sem rumo no espaço. Cheias de criaturas que, na forma adulta, babam uma gosma entre dentes de aço. Tem sido feio de ver.

Todo dia eu luto comigo mesmo para manter minhas ilusões em relação às pessoas que gosto e iro. Em relação a mim mesmo também.

© Rubens Spanier Amador é jornalista.

Facebook do autor | E-mail: rubens.amador@yahoo.com.br

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