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Opinião

Vejo cada coisa nas redes sociais que preferia não ver

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“De perto, ninguém é normal”, fala o ditado.

Graças a Deus, a tecnologia tem provado isso sem que tenhamos de chegar muito próximo das pessoas para descobrir. Basta ear os olhos, na segurança dos nossos lares, pela timeline do facebook.

Algumas licenciosidades tornadas públicas pela despudorada evasão de privacidade dos novos tempos chocam. Sobretudo quando partem de pessoas por quem temos iração e respeito.

Gente que do nada manda uma pessoa “tomar naquele lugar”, com todas as letras.

Maiúsculas. Três exclamações. E coisas ainda muito pior.

Não pense que desisto dos meus amigos por isso. Não.

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Só me dou conta, um pouco decepcionado, que eles não são totalmente como eu os imaginava.

Eles devem sentir o mesmo quando leem algumas coisas que posto.

As redes sociais são como uma grande nave sem rumo no espaço. Cheias de criaturas que, na forma adulta, babam uma gosma entre dentes de aço. Tem sido feio de ver.

Certas coisas que vejo me deixam pra lá de perplexo. Expressões de médicos da nossa família, professores dos nossos filhos, o dono da padaria onde compramos o pão, colegas de trabalho, gente por quem em geral temos consideração mais elevada.

São pessoas que, no dia-a-dia, são simpáticas. Mas que, nas redes, entregam um lado “b”.

É como se todo mundo de repente tivesse virado hospedeiro de pequenos aliens. Naquela forma de feto nervoso que rompe a barriga de um tripulante da nave, no primeiro filme da série.

O bicho dentro de nós explode as nossas entranhas, cresce assustadoramente e salta nas redes sociais. O bom é que não há só um lado desagradável nessa expulsão involuntária. Graças a ela, eu me sinto menos solitário na minha própria “anormalidade”.

Em alguns casos, deduzo que sou até mais normal do que eu mesmo pensava.

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Outro dia li no face de um professor universitário: “Quem não tem lado, é um Bundão”.

Na verdade ele usou outra palavra menos elegante, referindo-se, igualmente no aumentativo, à parte menos nobre do corpo humano. Sim, no face de um professor de Universidade. Um doutor!

As redes sociais são como uma grande nave sem rumo no espaço. Cheias de criaturas que, na forma adulta, babam uma gosma entre dentes de aço. Tem sido feio de ver.

Todo dia eu luto comigo mesmo para manter minhas ilusões em relação às pessoas que gosto e iro. Em relação a mim mesmo também.

© Rubens Spanier Amador é jornalista.

Facebook do autor | E-mail: [email protected]

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Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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1 Comment

1 Comments

  1. Mauro Bandeira

    06/03/19 at 15:49

    Buenas Rubens. Então camarada ,coaduno das tuas reflexões. ” Redes antissociais” , assim que me refiro ao consultório psiquiátrico virtual que se tornou a internet. As pessoas devem achar que o ódio que destilam nas redes seja apenas ” de brincadeira”. Mas infelizmente nos leva a conhecer o ” lado B” de muitas delas ,uma tristeza , eu era feliz e não sabia. Divergências de opiniões é uma coisa,agora estimular e apoiar certas condutas , definitivamente é muito ruim. Eu não tenho idéia , mas imagino que algum tipo de estatística , se fosse feita , revelaria a quantidade de inutilidades e maldades que povoam a rede ultimamente. Pior é que em termos profissionais praticamente não temos como escapar. E nave parece rumar para um buraco negro.

Brasil e mundo

Vivendo em mundos paralelos

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Algo mudou na relação entre o jornalismo e os pelotenses. Até por volta de 2015, havia um marcado interesse nos assuntos da cidade. Um mero buraco, e nem precisava ser o negro, despertava vívida atenção. Agora já ninguém dá a mínima. Nem mesmo se o buraco for um rombo fruto de corrupção numa área de vida e morte, como a de saúde. O valor da notícia sofreu uma erosão nas percepções.

Não é uma situação local, mas, arrisco dizer, do mundo. Nós apenas sentimos seus efeitos de forma drástica, por razões de ordem econômica e social. E também dimensionais.

Como a cidade não é grande, os problemas são ainda mais visíveis. Topamos com eles no cotidiano. Acontece que os buracos reais e metafóricos, ainda que denunciados, inclusive pelo cidadão que vai às redes sociais reclamar, avolumam-se sem solução que satisfaça, levando a outro problema, este de ordem comportamental.

Vem ocorrendo uma cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem. Um corte entre elas e a vida social. O espaço, que no ado era público, já hoje parece ser de ninguém.

A responsabilidade parcial disso parece, curiosamente, ser das novas tecnologias de comunicação. Se por um lado elas deram voz à sociedade como um todo, por outro, ao igualmente darem amplo o ao mundo virtual, elas nos têm distraído da concretude do mundo, de interação sempre mais hostil — distraído, enfim, da realidade mesma, propiciando que vivamos em mundos paralelos.

Outra razão é que, no essencial, nada muda em nossa realidade. Isso ficou mais evidente porque as redes sociais deram vazão, sem os filtros editoriais da imprensa, a um volume de problemas reais maior do que o que era noticiado. Se antes já havia demora nas soluções, essa percepção foi multiplicada pelo crescente número de denúncias feitas nas redes pelos próprios cidadãos. Os problemas que dizem respeito à coletividade se avolumam sem solução a contento, desconsolando e fatigando a vida.

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Como a dinâmica da cidade (e da realidade) não responde como deveria, eis o ponto, estamos buscando reparações no ambiente virtual, sensitivamente mais recompensador, além de disponível na palma da mão.

No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades. Estamos habitando no mundo virtual, onde não há frustrações, mas sim gratificação instantânea. Andamos absortos demais em nossa vida. Abduzidos por temas de exclusivo interesse pessoal, retroalimentados minuto a minuto pelo algoritmo.

Antes vivíamos num mundo de trocas diretas entre as pessoas. Hoje habitamos numa nuvem, no cyber-espaço. Andamos parecendo cada dia mais com Thomas Anderson, protagonista do filme Matrix. Conectado por cabos a um imenso sistema de computadores do futuro, ele vive literalmente em uma realidade paralela. Isso dá

Para complicar tudo, há pensadores para quem a realidade é uma simulação.

Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros etc. não existem no mundo concreto, mas são simulações percebidas pelo nosso corpo (pessoas veem as cores em diferentes tons, quando não em diferentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado dos nossos sentidos.

Assim, a única coisa real seria a razão, quer dizer, o modo como processamos aquelas percepções dos sentidos. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos que amos o concreto, não haveria diferença entre eles.

Segundo aqueles pensadores, como o mundo virtual está entrelaçado com o mundo concreto, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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