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Modelo de “fomento à cultura” não é inteligente, pra não dizer outra coisa 181c1u

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Com a notícia de que Gilberto Gil recebeu R$ 4 milhões do governo Lula para uma turnê — dinheiro dos Correios, uma estatal que opera no vermelho — vale voltar ao tema. Além do absurdo da situação em si, vale considerar outros pontos.

No Brasil, governos dão dinheiro público para financiar produtos culturais. Contudo, o que se vê, na maioria das vezes, é que a verba oficial produz cultura chata.

Se um livro, um filme, um show de música, uma peça de teatro não se sustenta com a venda de ingressos, o que ocorre com frequência, é porque as pessoas não estão interessadas. Por que então seguir jogando dinheiro fora?

Se o governo quer fomentar a cultura, e existem pessoas querendo ter o à cultura, mas não tem dinheiro para isso, melhor seria então o governo distribuir vouchers e deixar as pessoas escolherem onde gastá-los, em vez de dar dinheiro ao artista. Porque, na mão deste, ele produz o que bem quer, sem considerar o interesse do público.

Ao pôr o dinheiro na mão do consumidor, o governo estimularia a competição entre os artistas para que esses fornecessem produtos culturais atraentes, produzidos com dinheiro de investidores privados, interessados no lucro das produções. Seria a solução mais inteligente.

O Procultura, fundo gaúcho para o setor, é um mau exemplo. Prova do mau uso do dinheiro público. Em vez de patrocinar ao artista, digamos, um livro com R$ 50 mil, porque não dar vouchers nesse valor total para estudantes da escola municipal para que esses escolham, por si mesmos, o livro de seu interesse para comprar?

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Antes de a esquerda assumir o governo e “subsidiar a cultura”, os produtos culturais eram financiados por particulares. Sim, havia iniciativa privada no ramo do entretenimento, sem verba pública como garantia por trás.

Um exemplo próximo nosso: os filmes do compositor e cantor Teixeirinha. Podíamos não gostar, mas havia quem gostasse.

Teixeirinha

Lembro de filas imensas para ver os filmes do artista gaúcho nos cinemas locais, no Rei especialmente. Muitos moradores da colônia vinham à cidade para assisti-los. Era assim também em outras cidades.

A Leopoldis Som produziu, dele, Coração de Luto, em 1967. A Itacir Rossi produziu Motorista sem Limites, de 1969. O artista também criou a sua própria produtora, a Teixeirinha Produções Artísticas Ltda, com a qual escreveu, produziu e distribuiu dez filmes.

Houve um tempo em que faziam filmes no Brasil que as pessoas queriam ver e, dando lucro, faziam outros. Obviamente isso era (é) essencial para que uma indústria se desenvolva.

Compare Hollywood com a nossa Ancine. É uma piada a comparação, porque por aqui não há competição para fazer filmes que disputem bilheteria. Fracassando ou não, o governo banca. Com o tempo, isso leva à acomodação, quando não a desfalques em verba pública.

Chaplin

Outro exemplo, agora distante. Chaplin fez 88 filmes com dinheiro de particulares. Primeiro, como empregado de companhias. Depois, como dono da sua própria companhia, a United Artists. Os filmes tinham de dar lucro. Era o que garantia a continuidade das produções.

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Na autobiografia, Chaplin explica que a cada 8 metros de rolo de filme tinha de inserir uma “graça”, para agradar o público. Antes de vender seus filmes aos distribuidores, ele os ava em um cineminha pequeno, no subúrbio, para conferir a reação do público. Esse esquema de produção não o atrapalhou. Pelo contrário.

Foi o pop mais culto que se viu até hoje no cinema. Mesmo sendo popular, um grande artista. irado no mundo todo.

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