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Cultura e entretenimento 1f3218

Ainda estou aqui, nosso candidato ao Oscar. Por Déborah Schmidt 726v1h

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Adaptado do livro de memórias de Marcelo Rubens Paiva, Ainda Estou Aqui narra a emocionante trajetória de sua mãe, Eunice Paiva (Fernanda Torres), durante a ditadura militar. Ambientado no Rio de Janeiro dos anos 1970, acompanhamos a rotina da família, que vive confortavelmente na frente da praia, numa casa sempre de portas abertas para receber os amigos.

Um dia, o engenheiro e ex-deputado Rubens Paiva (Selton Mello) é levado por militares, acusado de conspiração contra o governo, e nunca mais voltou para casa. Sem vestígios e provas do paradeiro de seu marido, Eunice precisa se reinventar e traçar um novo futuro para si e os seus cinco filhos.

O filme do diretor Walter Salles explora não apenas o drama pessoal de Eunice, mas também o impacto do regime militar na vida de milhares de famílias brasileiras. Com uma narrativa profunda e sensível, Ainda Estou Aqui traz à tona questões de perda, coragem e resiliência, enquanto revisita um dos períodos mais sombrios da história do Brasil.

A trama, então, nos leva pelo período após o desaparecimento de Rubens Paiva, retratando a perseguição enfrentada pela família e a luta de Eunice em manter o bem-estar de seus filhos e a buscar respostas para o sumiço do marido. Vale lembrar que ela também foi capturada e ou dias sob interrogatório policial até poder retornar para casa.

A sensação de perda que a narrativa provoca é profunda, daquelas que apertam e nos fazem refletir. A produção é um tributo à força de Eunice Paiva, cuja busca pela verdade sobre o destino de Rubens se estenderia por décadas, se tornando uma figura central na luta pelos direitos humanos no país.

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Em uma das melhores atuações do ano, Fernanda Torres está brilhante em cena, ando da dona de casa de classe média alta para uma vítima do regime militar, explorando toda a força de sua protagonista. Como Rubens Paiva, Selton Mello impressiona na semelhança física e está ótimo no papel do homem que tentava manter escondida a ajuda dada às pessoas que precisavam fugir da perseguição da ditadura, em contraste com a vida comum de um pai de família divertido.

Se há algo aqui que se sobressai é a qualidade de todo o elenco e do incrível trabalho na recriação dos personagens reais, com coadjuvantes como Humberto Carrão, Maeve Jinkings, Daniel Dantas e Dan Stulbach. Como esperado, nenhuma participação especial é tão impactante como a de Fernanda Montenegro, que interpreta a versão mais velha de Eunice Paiva. Ela protagoniza a cena mais intensa do filme, daquelas que é impossível não se emocionar, e que deixa a sala de cinema em um completo e respeitoso silêncio.

Conhecido por seu olhar sensível, Walter Salles retorna ao cenário internacional após os aclamados Central do Brasil (1998) e Diários de Motocicleta (2004). O diretor mais uma vez aposta em questões fundamentais, em tons políticos, filosóficos e cinematográficos, como memória e identidade.

Tecnicamente impecável, o filme apresenta a excelente fotografia de Adrian Tejido, que inicia com a ensolarada praia carioca, porém, quando Rubens sai de cena, o tom sombrio toma conta da narrativa, e a casa da família a de acolhedora para intimidadora.

Escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa por uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar, Ainda Estou Aqui possui grandes chances de ser indicado. Afinal, poucos filmes irão emocionar com um drama simples, mas universal sobre família e afeto. O grande filme do ano até o momento. Extremamente necessário e imperdível.

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Déborah Schmidt é servidora pública formada em istração/UFPel, amante da sétima arte e da boa música.

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Brasil e mundo 3m3y11

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio b4o68

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento 1f3218

O perigo das Gagas da vida 1n4w28

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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