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Cultura e entretenimento

Poema da hora: Emília. Por Hector Szechir

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Me lembrei de Emília enquanto durmo pelo dia
Venezianas delimitam o campo de visão
Visiono a dança do quarto sob divisão
E suponho a natureza que a persiana guia

As cortinas se estiram cansadas
Descanse o toque que amanhã lhe agrada
Emília que nunca volta por nunca largar
As estações que na espreita estão a habitar

Enlace ao crepúsculo, o fim do dia vem logo
O aguardo na porta motiva o que não vivo sem
A ânsia desbrava o o de um travar ao foco
Sigo o traço de tua vista ao que sinto que vem

Abandonando a via, desci a rua para fugir
Cansaram vistas panorâmicas a velhos prantos
Que a corrente não prenda seus melhores anos
Sarando versos de brochura com ardor a persistir

Guia ao lado é brisa que me acaricia ao ear
Meu o que estende mais na coreografia
Disse que até aprender, sempre ensinaria
Por mais motivo a tanto lhe desejar

Aos céus, Emília recita as preces de encanto
Pelos céticos de certeza nas terras a subir
Suspira chamados, distantes estrelas que lia sonhando
Prometendo algo que logo vai provir e breve irá reluzir

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Aprendeu assumindo as nuvens do céu
Um novo modo de atender como a ressaltar
Única a chamar pelo nome carregado de véus
Rejuvenesce quando sabe uma forma única de amar

Já fora chamado reverberado sem intenção
Pronúncias estrangeiras à ponta da língua
Traços tingidos por base incompleta de tinta
Até mesmo verbo diminutivo a tamanha vastidão

Mas vestindo seu propósito tão maleável e leve
Tornou este nome um riso encorpado pela neve
Sem prazo até amanhã ou ao final da noite
Quando, por bis em dose dupla, testo minha sorte

Comeria beiras impacientes do cotidiano
Por mais uma noite sem razão pelo que estou pensando
Na vizinhança que avistei mil a desconhecer a existência
Deixo o toque do abraço ao conforto da doce vivência

Esta armadura tão sensível à ternura de seu carinho
Sabe que sua validade vale a costura de uma vida
Mesmo que dure um piscar de olhos sem indício
E um suspiro de prazer, satisfeito por tudo que via

Ela está na cama, esperando-me a ver
Posa como sempre na nuvem do pensamento
Não há corpo que sustente um amor a nascer
Tampouco mundo que sustente afeiçoado surgimento

Me deito, fecho os olhos, e sonho
Vivi o meu dia pela tua noite
Pelo gosto de um onírico encontro

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Descubro nos teus campos a fonte
Eternos olhos de rubi ao sono
Que me fazem atravessar ao teu mais belo norte”

Hector Szechir é estudante de jornalismo, escritor e poeta. Ávido ouvinte de música e leitor de livros.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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