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Cultura e entretenimento 1f3218

O APRENDIZ, a história de Trump. Por Déborah Schmidt 42472

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O Aprendiz acompanha a ascensão da carreira de um dos maiores e mais polêmicos empresários dos Estados Unidos: Donald Trump. A trama segue o jovem Trump (Sebastian Stan) na cidade de Nova York entre os anos 70 e 80, buscando erguer o império de negócios imobiliários da família enquanto tenta fugir do governo americano e de um importante processo judicial. Para isso, ele conta com a ajuda do impiedoso advogado Roy Cohn (Jeremy Strong), em uma relação na qual Trump aprende todos os artifícios e os truques necessários para mentir, trapacear e sair por cima.

Dirigido pelo cineasta iraniano Ali Abbasi, do ótimo Holy Spider (2022), e com o roteiro de Gabriel Sherman, a primeira versão que vemos de Trump é a de um jovem ingênuo, sonhador e desacreditado pelo pai. Somente após conhecer Cohn que ele ganha confiança. Logo, de um jovem subestimado, ele se transforma no símbolo do capitalismo desenfreado, acumulando riqueza às custas dos outros. A narrativa aproveita para traçar paralelos entre a trajetória de Trump e a política norte-americana, utilizando vídeos de arquivo de discursos presidenciais intercalados com cenas da vida do empresário.

Com uma interpretação fantástica, Sebastian Stan surpreendeu quem esperava uma personificação caricata de Donald Trump, como muitas daquelas imitações que já vimos anteriormente, especialmente na comédia. De forma certeira, a atuação de Stan vai aderindo aos poucos aos maneirismos do ex-presidente, como o biquinho e o gestual característico durante os discursos. Igualmente espetacular em cena, Jeremy Strong encarna Roy Cohn como homem poderoso e ambicioso, em uma dinâmica de médico e monstro que se intensifica conforme Donald Trump vai sugando todos os aprendizados de seu mentor.

Para fugir (pelo menos um pouco) da caricatura de Trump, vemos um excelente trabalho de maquiagem, apostando até em um comedido tom de laranja. Em uma transformação visual, o longa cria um design de produção extravagante, assim como o figurino luxuoso, em cenários frequentemente banhados em tons dourados que reforçam a obsessão do personagem pelo dinheiro. A fotografia de Kasper Tuxen, de A Pior Pessoa do Mundo (2021), reflete cada época com perfeição, com filtros que remontam a aparência de TV, com o granulado nos anos 70 e uma imagem mais limpa nos anos 80, que se também reflete na trilha sonora com clássicos de bandas como New Order e Pet Shop Boys.

Em 2016, Donald Trump se tornou o 45º presidente dos Estados Unidos. O filme faz pequenas referências em torno do cenário político do país e brinca com a possibilidade do jovem Trump se tornar presidente. A produção irritou Trump com inúmeras de suas polêmicas retratadas na cinebiografia, como a própria relação com Roy Cohn, que morreu de AIDS em 1986, os procedimentos estéticos e, principalmente, seu relacionamento com sua primeira esposa, a tcheca Ivana Trump (Maria Bakalova), com agens por seu contexto familiar e sua visão de negócios, e também por mostrar uma impactante sequência de violência sexual.

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Enquanto Donald Trump reclama que o filme poderia “atrapalhar” sua candidatura nas eleições de 2024, nada do que é visto durante o filme realmente surpreende vindo do comportamento de Trump. A agem do jovem para o homem frio, inescrupuloso e disposto a fazer de tudo para conquistar seus objetivos é construída na sutileza de detalhes. O tempo avança e Trump vai incorporando os mantras de Cohn, em especial suas três “regras de ouro”, em táticas que ele usaria décadas depois, como não reconhecer a derrota na reeleição em 2020.

Exibido na competição pela Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano, O Aprendiz está em cartaz nos cinemas. Com atuações memoráveis, é uma comédia sarcástica sobre um personagem controverso e de moral questionável.

Déborah Schmidt é servidora pública formada em istração/UFPel, amante da sétima arte e da boa música.

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Brasil e mundo 3m3y11

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio b4o68

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento 1f3218

O perigo das Gagas da vida 1n4w28

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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