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As baixarias de campanha eleitoral começaram em Pelotas. Apelando para a xenofobia, um vídeo que circula no WhatsApp “acusa” Marciano Perondi, do PL, candidato a prefeito de Pelotas, de “ser de fora de Pelotas“.
O advogado Perondi, de 41 anos, vive há um ano e nove meses na cidade, onde abriu uma escola, o colégio Praça XV. Aqui escolheu viver e trabalhar, juntamente com a mulher e dois filhos.
A concepção desse tipo vídeo, com aquela “acusação”, é mal pensada. Não comove, e até ofende um sentimento humano de acolhimento ao estrangeiro, presente até nas obras do grego Homero. Além do mais, o pelotense está acostumado a receber e conviver com “gente de fora”. Portanto, ofende o receptivo povo pelotense.
As Universidades estão cheias de professores e de estudantes “de fora”. Frequentemente comandantes das forças militares são transferidos de outras cidades para cá – “gente de fora”. Empresários vêm “de fora” atuar aqui, desde antes do tempo da fábrica Cotada, dirigida por um chinês que era adorado na cidade.
Todos conhecem várias pessoas “de fora” que se integraram rapidamente e são muito queridas na cidade, verdadeiros herois, como um empreendedor do ramo de produtos de saúde, comerciantes, gente do ramo da moda, médicos, políticos (Bernardo de Souza era de Pedro Osório, Anselmo Rodrigues é de Santa Vitória do Palmar). Pelotas está acostumada, ao ponto de muitos “de fora” se sentirem mais pelotenses que os locais.
Alguns personagens absolutamente relevantes da História de Pelotas vieram de fora! Coronel Pedro Osório veio de Caçapava, Dom Antônio Zattera veio de Bento Gonçalves, Antônio Caringi veio da Itália…
Aliás, os próprios candidatos vivem falando que é preciso trazer para a cidade “empresas de fora”. A verdade é que os “de fora” logo são acolhidos e integrados ao convívio dos pelotenses. A própria ida de Perondi ao segundo turno, com chances reais de vencer a eleição, prova isso.
Muitos locais vieram “de fora”, de cidades da região, viver e trabalhar aqui. Muita gente “de fora” vive e trabalha em Pelotas, inclusive descendentes de nativos de outros países.
Isso de ser “de fora” não cola. Ofende o eleitor. Mexe inclusive com um sentimento ancestral humano.
O acolhimento ao estrangeiro é um tema universal. Na Odisseia, por exemplo, Ulisses naufraga e dá numa praia, onde adormece nu. A filha do rei o descobre. Ninguém sabe quem ele é. Ninguém supõe que seja Ulisses, o heroi da Guerra de Troia. Mesmo assim, é levado para dentro do Palácio, onde recebe roupas e onde lhe oferecem um banquete. Durante a refeição à mesa, alguém conta da lenda do Cavalo de Troia, “que teria sido um feito de Ulisses”. Ele ouve e, só no fim, revela que ele era o próprio Ulisses. Quando avisa que precisa partir, a filha do rei, que já estava apaixonada por ele, sem saber que era Ulisses, chora. Já estava com saudade.