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Brasil e mundo

Argentina desregula transporte intermunicipal. Já por aqui…

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Argentina desregulou transporte de ageiros intermunicipal. Qualquer empresa agora pode viajar para qualquer destino, desde que habilitada. Precisa cumprir todos requisitos de segurança, por supuesto. E habilitação leva só cinco dias. Ganha o consumidor, como deve ser.

Enquanto isso, aqui o monopólio ainda manda, inclusive no RS, em Pelotas e região, cobrando mais caro pela agem e com menos oferta de horários e confortos aos ageiros.

No Brasil dos cartórios, pra fazer transporte de ageiros precisa de autorização da “Nasa”. E da Agência de Segurança Nacional…

A empresa B, por exemplo, tenta prestar serviços no Rio Grande do Sul e outros estados, mas enfrenta resistências do governo do estado. Essa resistência é reflexo do modelo de capitalismo que temos no Brasil: capitalismo cartorial, em que o interesse dos monopólios e dos políticos associados vem primeiro, enquanto o consumidor vem sentado no último banco, ao lado do banheiro.

Há um livro excelente que mostra por que os Estados Unidos são o que são como país em produção, competividade, riqueza. Chama-se Capitalismo na América, escrito pelo economista Allan Greenspan, o mítico presidente do Federal Reserve, o Banco Central deles. Ao contrário do Brasil, nos EUA a atividade econômica é majoritariamente desregulamentada para favorecer o empreendedorismo, a inovação, o mercado, enfim, o consumidor. Ler Greenspan, uma aula de história e economia, mostra também por que o Brasil é mais pobre naqueles quesitos estruturantes – riqueza, produção, competividade: atrasado séculos em relação aos EUA.

CAPITALISMO NA AMÉRICA

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Capitalismo na América

Se os americanos não temem a inovação nos negócios, no Brasil os cartórios são fortificações comparáveis às Muralhas da China. Aqui o sistema está armado para impedir ou retardar a inovação, com o objetivo de manter os privilégios.

Há vários motivos para compreender a natureza deste gene fundador do Brasil. O principal, talvez: aqui tivemos Rei, e, tendo-o, vimos surgir essa figura fruto da precisão definidora brasileira, os “Amigos do Rei”, beneficiários dos cartórios outorgados pelo Trono Real, franquias “modernas” das capitanias hereditárias, pelas quais, 500 anos após o descobrimento, mostram-se sempre prontas a retribuir ao Rei, na forma de compensações sociais. Nos EUA, não tiveram Rei.

Lá, quem forjou a nação foram os pioneiros, desde que as 13 colônias de migrantes se instalaram nas terras das Bruxas de Salem. Lá, o próprio cidadão colonizou aquele País, e – sem esperar nada de ninguém que não dos próprios braços – impediu toda e qualquer forma de apropriação de suas riquezas por governos. A gente vê essa autonomia nos filmes de faroeste deles: “Toma a estrela, o xerife é tu”. A coisa lá, desde sempre, foi assim: os pioneiros elegiam, entre si, os seus representantes. Não precisava o governo nomear.

“Toma a estrela, o xerife é tu!”

Depois de ler Capitalismo na América, o leitor começa a entender as ideias que os liberais brasileiros tentam inserir no Brasil. É sempre uma luta titânica, inclusive porque o emaranhado legal sobre o qual se amparam os cartórios foi criado para dificultar a vida dos inovadores e do livre mercado.

Os liberais querem liberdade econômica, para eles A Mãe de Todas as Liberdades, porque entendem que a livre iniciativa plena liberta a sociedade do jugo do Estado; juntos, governos e cartórios formam um bloco compacto de poder, enquanto o povo vive nas galés, sustentando o bloco, quando poderia ele mesmo, favorecido por aquele espírito dos colonos americanos, apropriar-se dos dividendos de seu próprio esforço para tocar a vida como melhor lhe aprouvesse.

Para os liberais, impedir a inovação e a concorrência desfavorece a cidadania e o seu correspondente econômico: o consumidor, que deveria ter a disposição um cardápio de escolhas e a palavra final. Para eles, o combinado de liberdade de mercado e governo concentrado na saúde, na educação, na segurança faria bem ao Brasil, que adquiriria um ânimo adormecido, ando a depender menos do governo e mais de si próprio, não mais tão suscetível a governos e a benemerências sociais feitas com o excedente de seu dinheiro – e em seu nome.

Quem precisa de favor do Estado se pode conseguir as coisas por si mesmo?

O simples fato de que membros do partido Novo sejam hoje quase vozes solitárias no Brasil a se posicionar claramente a favor da B, enquanto políticos de outros partidos se conservam mudos e fazem cara de paisagem, demonstra a que ponto os cartórios de capitanias estão entranhados não só nas esferas de poder, mas também no senso médio do cidadão, que, por inércia, sente-se agradecido ao monopólio, quando na verdade é ele quem o sustenta.

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O caso dos monopólios brasileiros no transporte é clássico. No sistema aéreo, hoje a competição voa. No terrestre, onde é mais ramificado, o percurso é mais longo e difícil. Como há décadas estão sós no mercado, sem competidores a lhes ameaçar o conforto e a tabela de preços, eles estabeleceram a prestação de serviços de concessão pública nos termos que lhes convieram, e neles se acomodaram, sabendo que os consumidores, sem saída, se acostumariam aos serviços por absoluta necessidade.

Os lucros, certos e graúdos, continuam a fluir em cascata para a piscina-cofre do Tio Patinhas. A julgar pela grande luta travada pela B para se firmar em toda a federação, o medo de Patinhas é se ver obrigado a diminuir a altura do trampolim para evitar acidentes.

A B cobra pelas agens até 60% menos do que o preço cobrado em rodoviárias do País. Se o benefício é evidente para o consumidor, por que o governo gaúcho “trabalha” para impedir a empresa de atuar no mercado estadual? O que ganha com isso? Não deveriam os governos trabalhar em favor da população, em benefício do bolso do consumidor? Ultimamente o governo gaúcho, através do Daer, vem apreendendo ônibus da B. Por sua vez a B vem lutando na justiça para derrubar as oposições. Tem tido assim em todos os estados da federação, uma luta para fazer valer no Brasil a inovação.

RESPONSABILIDADE SOCIAL

No Brasil, diz-se que o bêbado nativo reserva o primeiro gole para o santo. No caso dos monopólios, o primeiro gole pode nem sempre ser para o santo. É certo, porém, que este não ficará sem saborear, em algum momento, o paladar de um Ferreira Garrafeira Port Tinto. Como o dinheiro está sobrando, os monopólios reservam parte do excedente da montanha dos lucros para financiar “projetos sociais”, muitas vezes em parceria com governos, com todos faturando a “preocupação social”.

É sempre boa política devolver um pouco de atenção aos de baixo, todos eles. Ostentar o Selo de Responsabilidade Social é visto como algo de grande sensibilidade em território tão desigual. Ou seja, no modelo atual, não competitivo, o vínculo entre concessionários, governantes (e jornalistas) tende a se tornar um meio de vida, em que cada ator representa seu papel conforme um roteiro baseado na repartição conveniente da riqueza concentrada. Numa peça assim, o povo, sempre tão volúvel, é um detalhe, como nas histórias de Shakespeare. E ao fim, após alguns conflitos (será?), repetem Hamlet: “O resto é silêncio.”

O teatro é quinhentista, mas não há grandeza no edifício quando o cartório é o patrocinador da mesma e entediante peça. Os “benefícios sociais” são a cota que se paga para que nada mude. Muita gente aplaude, sem se dar conta de que a benemerência é feita com chapéu alheio, do próprio consumidor, que paga mais caro para sustentar o monopólio.

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Afinal, o dinheiro é de todos nós, o povão, consumidor cada vez mais exigente, que temos sido obrigados a bancar o cartório e as adjacências nas coxias, quando podíamos, se houvesse concorrência, pagar mais barato pelas agens, sem perder qualidade nos serviços (até mesmo ganhar!), e com a oferta de promoções, como vemos nas empresas aéreas e telefônicas; e, ora bolas, dispor de mais dinheiro no nosso bolso para gastarmos como bem quisermos. Vendida na forma de “filantropia sensível”, aquela cota de bondade é na verdade a derrota do espírito dos envolvidos na trama, cuja temporada os liberais lutam para ver encerrada, para dar vez a novas histórias. O povo merece espetáculos melhores.

Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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CCJ do Senado aprova fim da reeleição para cargos do Executivo

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A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que acaba com a reeleição no Brasil para presidente, governadores e prefeitos foi aprovada, nesta quarta-feira (21), na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. A PEC 12/2002 ainda aumenta os mandatos do Executivo, dos deputados e dos vereadores para cinco anos. Agora, o texto segue para análise do plenário do Senado.

A PEC previa o aumento do mandato dos senadores de oito para dez anos, mas a CCJ decidiu reduzir o tempo para cinco anos, igual período dos demais cargos. A proposta ainda unifica as eleições no Brasil para que todos os cargos sejam disputados de uma única vez, a partir de 2034, acabando com eleições a cada dois anos, como ocorre hoje.

A proposta prevê um período de transição para o fim da reeleição. Em 2026, as regras continuam as mesmas de hoje. Em 2028, os prefeitos candidatos poderão se reeleger pela última vez e os vencedores terão mandato estendido de seis anos. Isso para que todos os cargos coincidam na eleição de 2034.

Em 2030, será a última eleição com possibilidade de reeleição para os governadores eleitos em 2026. Em 2034, não será mais permitida qualquer reeleição e os mandatos arão a ser de cinco anos.  

Após críticas, o relator Marcelo Castro (MDB-PI) acatou a mudança sugerida para reduzir o mandato dos senadores.

“A única coisa que mudou no meu relatório foi em relação ao mandato de senadores que estava com dez anos. Eu estava seguindo um padrão internacional, já que o mandato de senador sempre é mais extenso do que o mandato de deputado. Mas senti que a CCJ estava formando maioria para mandatos de cinco anos, então me rendi a isso”, explicou o parlamentar.

Com isso, os senadores eleitos em 2030 terão mandato de nove anos para que, a partir de 2039, todos sejam eleitos para mandatos de cinco anos. A mudança também obriga os eleitores a elegerem os três senadores por estado de uma única vez. Atualmente, se elegem dois senadores em uma eleição e um senador no pleito seguinte.

Os parlamentares argumentaram que a reeleição não tem feito bem ao Brasil, assim como votações a cada dois anos. Nenhum senador se manifestou contra o fim da reeleição.

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O relator Marcelo Castro argumentou que o prefeito, governador ou presidente no cargo tem mais condições de concorrer, o que desequilibraria a disputa.

A possibilidade de reeleição foi incluída no país no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1997, mudança que permitiu a reeleição do político em 1998.

“Foi um malefício à istração pública do Brasil a introdução da reeleição, completamente contrária a toda a nossa tradição republicana. Acho que está mais do que na hora de colocarmos fim a esse mal”, argumentou Castro.

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Um homem coerente

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Eis um homem que irei pela absoluta coerência entre o que pensava e o modo como viveu. Um homem de esquerda que me fazia parar para ouvi-lo, porque o que dizia tinha solidez e fazia pensar.

Não precisava concordar com ele para irá-lo. E sim: um homem de esquerda que nunca roubou. Foi uma pessoa rara. Eu diria, única.

Vivia num sítio, dele de fato, com o essencial. Na companhia da mulher e de cachorros. Só tinha um defeito: andava em má companhia internacional. Talvez por um motivo humano. Para se sentir menos sozinho do que era. Menos prisioneiro de suas convicções.

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