2m452i
Elisabeth Sparkle (Demi Moore) é uma estrela de Hollywood em declínio que enfrenta uma reviravolta inesperada ao ser demitida de seu programa fitness na televisão. Desesperada por um novo começo, ela decide experimentar uma misteriosa droga que promete replicar suas células, criando temporariamente uma versão sua mais aprimorada. Ela então gera uma versão mais jovem e perfeita de si mesma, Sue (Margaret Qualley). Porém, as suas duas versões devem coexistir enquanto navegam pelos desafios da fama e da identidade.
Em sua estreia no cinema, a diretora sa Coralie Fargeat chamou bastante atenção com o arrebatador Vingança (2017), um filme que explora o subgênero do terror “rape and revenge”. Com A Substância, ela aposta em outro subgênero, o “body horror”, que recentemente ganhou destaque com Titane, de Julia Ducournau, e ganhador da Palma de Ouro em Cannes em 2021. As duas produções de Fargeat são extremamente competentes ao causar desconforto através do absurdo, uma vez que a diretora e roteirista brinca e subverte o olhar fetichista masculino sobre o corpo feminino, se aproveitando de toda potência do horror corporal para mostrar a autodestruição das mulheres na tentativa de alcançar (ou recuperar) um padrão de beleza com a destruição do próprio corpo.
Com a pergunta “Já sonhou com uma versão melhor de si mesmo?”, o longa coloca Elisabeth e Sue existindo como uma só, precisando respeitar regras específicas e com a troca acontecendo a cada 7 dias. Enquanto a primeira representa a insatisfação e a vulnerabilidade de uma mulher que chegou aos 50 anos de idade e se vê rejeitada pela indústria que outrora a amou, a segunda representa o olhar hipersexualizado que atende aos padrões que são impostos pela sociedade, mas que no caminho desrespeita os próprios limites.
Entregando a melhor atuação de sua carreira, Demi Moore (que continua belíssima aos 60 anos) está perfeita e se entrega de corpo e alma à personagem. Sua performance é avassaladora e cheia de sutilezas, transmitindo a dor e o desespero de sua personagem de forma intensa e comovente. Confirmando sua versatilidade, Margaret Qualley também está ótima ao reviver os dias de glória da protagonista, enquanto que, como o repugnante Harvey, Dennis Quaid exerce total domínio nos trejeitos da figura repulsiva daqueles que estão em posição de poder.
A Substância ousa e vai aos extremos sem limites, com cenas sangrentas e perturbadoras em quase 2h30 de duração. Destaco também a surpreendente fotografia de Benjamin Kracun, de Bela Vingança (2020), repleta de cores vibrantes em um filme de horror, onde normalmente estamos acostumados com clima frio e cores sombrias. Além disso, vemos um primoroso trabalho de efeitos visuais, com próteses e maquiagens impressionantes.
Um dos melhores lançamentos do ano até agora, A Substância está em cartaz nos cinemas. Premiado com o melhor roteiro no Festival de Cannes, o filme é um horror corporal visceral e uma crítica social sobre a autodestruição e a pressão causada pela sociedade e pela indústria da beleza. Desconfortável, provocativo e imperdível.