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‘Zona de interesse’ é um filme pesado, mas imperdível. Por Déborah Schmidt 3h1u20

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Durante a Segunda Guerra Mundial, Rudolf Höss (Christian Friedel), um comandante de Auschwitz, sua esposa Hedwig (Sandra Hüller) e os filhos desfrutam de uma vida aparentemente comum e bucólica. Mas, por trás da fachada de tranquilidade, a família vive, na verdade, ao lado do campo de concentração de Auschwitz.

Com a magnífica direção de Jonathan Glazer (merecidamente indicado ao Oscar), que se nega a explicar qualquer detalhe da trama, Zona de Interesse apenas explora a trajetória de uma família vivendo em um subúrbio qualquer. A primeira cena, com os personagens em um lago se banhando durante um dia de verão, expressa justamente essa naturalidade em forma de estranheza com a qual o cineasta conduz seu filme.

Adaptando o romance homônimo de Martin Amis, Glazer parece não questionar os motivos de cada crueldade cometida, nem mesmo as motivações da família Höss. Do belo jardim com piscina, vemos muros em volta com arames farpados, uma contínua fumaça preta no céu e barulhos violentos, vindos de tiros, sirenes ou gritos de prisioneiros no campo de concentração. A narrativa está mais interessada em mostrar como o holocausto foi normalizado por essas pessoas, que mantinham suas vidas confortáveis, sem que se sentissem abaladas ou afetadas. Zona de Interesse | Trailer Oficial | Prime Video

Iniciando com uma tela completamente preta e uma sonorização propositalmente desconfortável, a cinematografia acinzentada do polonês Lukasz Zal, indicado ao Oscar pelo belíssimo Guerra Fria (2018), faz um excelente trabalho na construção de planos que contrastam a beleza do local com as atrocidades que eram cometidas. Como mencionei, o grande destaque do filme fica para o trabalho poderoso do design de som de Tarn Willers e Johnnie Burn. É daqui que parte o contato com todos os sons assustadores vindos de Auschwitz. É uma experiência sonora realmente marcante e perturbadora, com o som, e até mesmo o silêncio, impactando sem nunca mostrar o que realmente está acontecendo.

Assim como no fantástico Anatomia de uma Queda, que lhe rendeu uma indicação ao Oscar, Sandra Hüller tem mais um desempenho espetacular e que, assim como Christian Friedel, a perfeitamente a indiferença de seus personagens, que só se preocupam com os seus interesses.

Com 5 indicações ao Oscar, e com a estatueta de melhor filme internacional praticamente garantida, o longa é um retrato do lado mais sombrio da humanidade, que choca pela perversidade e pela frieza da família sobre o que estava acontecendo ao seu redor.

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Mesmo sem suspense, tensão ou cenas de violência explícita, Zona de Interesse é um filme pesado como poucos conseguem ser. Abordando o horror do nazismo através de uma perspectiva única, é um filme simplesmente imperdível.

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