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Cultura e entretenimento 1f3218

Cinema: Pobres criaturas, com 11 indicações ao Oscar. Por Déborah Schmidt 2j5y4o

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Ambientado durante a Era Vitoriana, Pobres Criaturas acompanha Bella Baxter (Emma Stone), uma jovem trazida de volta à vida em um experimento realizado pelo doutor Godwin “God” Baxter (Willem Dafoe), um cientista brilhante, porém nada convencional. A partir de então, God (a relação com “Deus” não é mera coincidência) recruta a ajuda de um de seus alunos de medicina, Max McCandles (Ramy Youssef) para que ele possa anotar o progresso motor e mental de Bella. Querendo conhecer mais do mundo, ela decide fugir com o advogado Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo) e viaja pelos continentes livre dos preconceitos de sua época.

Baseado no livro homônimo de Alasdair Grey e referenciando o clássico Frankenstein, de Mary Shelley, o brilhante roteiro adaptado por Tony McNamara mostra desde os primeiros estágios de desenvolvimento de Bella, aprendendo coisas simples como andar, falar e comer, até partir em uma busca por autoconhecimento e libertação. Além disso, a narrativa constrói diversas camadas, instigando o espectador a diferentes interpretações, transformado uma história relativamente simples, mas com personagens complexos, que se desenvolve através de diálogos afiados e situações que provocam o riso e o constrangimento na medida certa.

Um dos diretores mais originais da atualidade, e um dos meus favoritos, Yorgos Lanthimos já entregou obras-primas visuais e narrativas como O Lagosta (2015), O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017) e A Favorita (2018). Uma temática recorrente em sua filmografia é a existência humana, que atinge seu auge em Pobres Criaturas. Após uma minuciosa exploração física e intelectual, Bella conhece diferentes perspectivas do mundo real, sejam eles positivos ou negativos, assim como a sua sexualidade, em uma parte fundamental da narrativa.

Com 4 indicações ao Oscar (venceu por La La Land), e uma das favoritas neste ano, Emma Stone está magnífica no papel mais desafiador de sua carreira. Em um caminho explorado de forma magistral pela atriz, sua personagem a por um longo aprendizado, com todas as nuances físicas e emocionais da protagonista em contato com várias experiências.

Servindo de alívio cômico, quem também rouba a cena é Mark Ruffalo, em sua quarta indicação ao Oscar, como um advogado cafajeste e sedutor que leva Bella para conhecer o mundo. Ruffalo se destaca quando o roteiro revela um homem patético, inseguro e controlador que só quer ter o domínio sobre a protagonista. Ainda no elenco, o sempre incrível Willem Dafoe vive um cientista macabro e paternal, também obcecado por Bella, em um relacionamento que mostra o carinho que sente por ela além da criação.

Visualmente perfeito e deslumbrante, a produção inicia em preto e branco para ressaltar os primeiros momentos em vida de Bella, marcados pelo cotidiano e pelo confinamento com seu “criador”. Porém, quando parte para sua jornada de descobrimento, o colorido toma conta assim que a protagonista a a conhecer diferentes lugares e viver novas experiências. Lanthimos aprimora ainda mais a sua estética, utilizando uma lente olho de peixe e rápidos movimentos de câmera, em conjunto com a exuberante fotografia de Robbie Ryan, que contrasta a beleza das cores e de cenários propositalmente teatrais com o preto e branco. Méritos também do belíssimo figurino de Holly Waddington e a trilha sonora do compositor Jerskin Fendrix, em sua estreia em um longa-metragem.

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Com 11 indicações ao Oscar, Pobres Criaturas é uma experiência divertida e emocionante pela jornada de liberdade a autoconhecimento de Bella Baxter. Yorgos Lanthimos entrega mais uma obra-prima em sua filmografia, com um filme visualmente impecável e com atuações inesquecíveis.

Déborah Schmidt é servidora pública formada em istração/UFPel, amante da sétima arte e da boa música.

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Brasil e mundo 3m3y11

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio b4o68

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento 1f3218

O perigo das Gagas da vida 1n4w28

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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