Ainda não me recuperei da beleza do que se viu acontecer em Nova Roma do Sul. Habitantes daquela pequena cidade no coração da serra gaúcha – 3 mil pessoas só, imagine – decidiram assumir para si a tarefa de reconstruir uma ponte, dispensando o governo estadual. Foi um acontecimento “extraordinário”, como diria Lula, que só vem ao caso pelo adjetivo que usa a toda hora; tanto o usa, que, em sua boca, gastou e perdeu o sentido.

Pois os habitantes de Nova Roma revalidaram o adjetivo com um gesto real, concreto. O simbolismo foi (é) muito forte.

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Como se sabe, a ponte anterior, levada pela enchente, desconectou Nova Roma do município de Farroupilha. O governo do Estado havia projetado a reconstrução ao custo entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões, segundo informou a GaúchaZH, sem data certa de entrega definida. Estimava-se em final de 2024 ou depois desse ano.

Os moradores decidiram então eles mesmos resolver o assunto. Associaram-se. Venderam rifas. Aceitaram Pix e doações. Artistas fizeram shows para ajudar. Conseguiram o dinheiro e, em 138 dias, reconstruíram a ponte, inaugurada sábado (21), ao custo de… R$ 5,7 milhões, ainda menor do que os R$ 6 milhões de que se chegou a falar.

Isto é história com H maiúsculo, uma lição ao Brasil. Uma denúncia. O Estado brasileiro é lento, pesado, cheio de compadres, move-se num tempo atrasado em relação às necessidades da sociedade, num mundo à parte. Cobra impostos com volúpia e dá menos do que a sociedade merece.

No dia da inauguração da ponte, o tesoureiro da Associação dos moradores de Nova Roma, Heleno Pasuch, fez um discurso bonito e constrangedor ao Estado. Chovia na hora e a população permaneceu no evento, que teve, inclusive, prestação pública de contas. Parecia uma assembleia da antiga democracia direta grega. Como se Nova Roma fosse, na verdade, Atenas.

Pausch falou: “Essa ponte foi construída por pessoas que têm valores fortes (…). Nós vamos todos morrer, mas os valores que a gente tem, bons ou de ruins, ficarão presentes por gerações e gerações”. Visivelmente emocionado, arrematou com uma mescla de ironia e voz embargada: “Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra”. Copiado do hino gaúcho, este é o lema da propaganda do governo do Estado.

Como disse Cleo Kohls, leitora do Amigos: “Mostraram que ainda há esperança no ser humano!”

Por que mais iniciativas como essa não acontecem no Brasil?

Porque o nível de impostos é tão alto que não sobra recursos para iniciativas da população.

Por que tudo tem de ar pelo Estado e pelos políticos?

Um soco no estômago do governo gaúcho