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Opinião

Paula tem enfrentado um ano “quente”

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Nossos vereadores, que no apagar das luzes de 2023 aumentaram os próprios salários (mais o do prefeito, do vice e dos secretários de governo, a valer a partir de 2025), além de aprovar o aumento dos impostos de parte da população, mostraram-se preocupados, nesta terça (16), com o atraso no pagamento dos salários de funcionários da Santa Casa. Alguns vereadores dizem que foram procurados por gente do Hospital pedindo ajuda.

Se é verdade, como pode ser, dá uma ideia da pressão que enfrenta a prefeita Paula (PSDB), que ontem se licenciou para descansar uma semana, em férias. Por sua expressão facial em algumas fotos de eventos recentes, divulgadas pela Assessoria de Comunicação, ela denota, de fato, exaustão.

Prefeita Paula, em evento nesta semana, antes de se licenciar

Num tempo de tempestades climáticas, com chuvas fortes, alagamentos e calores de fazer suar até esquimó, imagine a situação da prefeita tucana.

O problema financeiro dos hospitais é recorrente e se relaciona em parte com a crise financeira do Município. No caso da Santa Casa, a prefeitura alega que não há atrasos nos rees para quitar pessoal. Que “apenas parou de antecipar os rees”, ando a fazê-lo nas datas corretas. Está difícil de fechar as contas no geral. Pior no caso da saúde, porque os preços dos insumos no setor subiram e há defasagem de valores da tabela SUS.

O orçamento anual da prefeitura é de R$ 2 bilhões. Para ter ideia, o déficit orçamentário do Município, em 2024, será de R$ 282 milhões (já foi de R$ 110 milhões em 2023). Ou seja, faltarão, neste ano, quase R$ 300 milhões para honrar compromissos futuros no ano, sem contar que os compromissos ados têm sido empurrados com a barriga, alarmando os fornecedores.

Um retrato do quadro pode ser conferido AQUI.

Para ler sobre QUESTÕES CENTRAIS DA CIDADE, AQUI.

Por outro lado, Paula vem enfrentando dissidências no PSDB, com tucanos históricos reclamando que ela se fechou em copas, preferindo isolar-se daqueles quadros e cercar-se de um pequeno grupo de pessoas sem ligação orgânica com o partido, como se estivesse contrariada com os rumos. Isso, sem cortar um cargo de confiança sequer dos 500 existentes. Pelo contrário, criou uma pasta nova, mesmo sem necessidade prática.

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Quando assumiu como prefeita na primeira vez, há sete anos, Paula escreveu nas redes que “não era salvadora da pátria”. Se salvar só a si como política, estará de bom tamanho. Seu último ano será mais difícil do que o do acalorado esquimó, vendo as geleiras em volta derretendo em blocos.

Vereador que mais pegou diárias em 2023 foi o mesmo que propôs aumento de 66,7% nos salários de vereadores, aprovado no apagar das luzes de 2023
“Não estou preocupado com isso”, diz presidente da Câmara sobre denúncia de advogado para anular aumento de salários de vereadores
Advogado denuncia aumento de salários de vereadores e outras autoridades e quer sua anulação
Ainda sobre o aumento médio de 60% nos salários de vereadores e outras “autoridades”

Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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