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Prefeitura insiste em 50 mil pessoas no reveillón. Foi menos. Cadê os dados turísticos? 211x2s

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Se a festa de reveillón do Laranjal tivesse reunido 50 mil pessoas, como alguns insistem em dizer, teria sido ótimo, um sinal do apreço de um maior número de pessoas por sambar, apesar dos problemas da cidade decorrentes do caixa da prefeitura, quebrado, e do preço salgado da picanha.

A verdade, porém, é que, pelas imagens divulgadas, é impossível aquele número. É possível, isto sim, afirmar o contrário: que o público foi bem menor, o que, aliás, não é nenhum problema. Apenas um retrato da realidade como ela é. Por que a dificuldade? 15 mil pessoas ou 10 mil, como parece o mais provável, seria pouco? Claro que não.

Mesmo assim a comunicação da prefeitura divulgou às 22h18 desta segunda (01) um release em que insiste naquele número de 50 mil. Festeja-o. E o credita, agora, a uma “estimativa da Brigada Militar”. Ah, uma estimativa! Ok.

A discrepância de números de público em eventos do tipo – entre o que dizem as organizações e a Polícia Militar – é velha conhecida no Brasil, tanto quanto Xuxa e outras louras que comandam programas de auditório. Aquelas discrepâncias númericas de público são frequentemente gritantes e cômicas.

No caso em questão, o curioso é que não houve discrepância, mas sim uma total e absoluta sintonia. A confiar no dito pelo deputado Daniel Trzeciak, autor da ideia do show, e pela prefeitura, sua beneficiária indireta, a Brigada contou um mesmo número (50 mil pessoas) que já era ventilado nas redes sociais desde dias antes do evento, em cartões de divulgação, como se quem divulgou tivesse bola de cristal. No mínimo, uma tremenda coincidência.

Cartão de divulgação do evento nas redes “antecipava” a presença de 50 mil pessoas

No release, a prefeitura destaca que a festa ocorreu graças “a uma emenda parlamentar de R$ 500 mil destinada por Daniel”. Muito bem, gostamos de ver… Daniel é um dedicado representante dos interesses da região. Por isso mesmo, é de estranhar a insistência dele naquele número improvável, claramente uma fake news. Gastar meio milhão dos cofres públicos numa festa exigiria sucesso de público a qualquer preço? É isso? Se sim, talvez seja compreensível a recorrência aos melhores enquadramentos de câmera e aos efeitos de luz e sombra nas imagens.

Em vídeo divulgado pelo deputado, ele duplicou a imagem, A imagem duplicada sugere mais público do que tinha na verdade.

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Quem redigiu o release fala que o evento foi “uma injeção de economia (sic) ao município, que “vem (a injeção) por meio do turismo, hotéis e restaurantes (sic), além do povo merecer este momento de lazer depois de um ano difícil”. Afirmar isso é tão impossível quanto dirigir o carro sem solavancos pelas ruas do Laranjal ou mergulhar nas águas do balneário sem encostar nos coliformes fecais, além de ser, cá entre nós, de uma pieguice de dar dó.

Onde estão os números com os dividendos turísticos, de hospedagens em hotéis, de consumo em restaurantes, no comércio? Quantos turistas foram à festa? Quantos locais compareceram? Quem pode fornecer isso com segurança? A secretaria de Desenvolvimento Econômico, dirigida por um homem chamado Gilmar Bazanella, poderia revelar os dados? Deveria.

Sempre preocupado com “a geração de emprego e renda”, um mantra que o secretário genericamente repete em toda entrevista que dá, como se o tivesse decorado, seria esperado que ele fornecesse aqueles números. Se não o fez ainda, provavelmente é porque não os têm. Quem saberia dizer?

Talvez Gilmar, de bigode, na foto apontando o dedo para Daniel, como a dizer “este é o cara do emprego e da renda”, ainda o faça. Talvez a lembrança do contato com o grupo Revelação o anime a soltar a voz.

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