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Uma vez um político velho me disse: “Partido bom é como rio. Tem que ter água suja.” Não sou mais guri, mas ainda hoje essas assertivas de quem supostamente “sabe das coisas” sempre me espantam, porque é como se a “sujeira”, no ser humano, fosse algo inevitável.
Esse velho senhor, essa “raposa velha”, foi deputado federal por vários mandatos, ajudou a fazer a Constituição de 1988, era bom de papo, mas tinha um sorriso velhaco, de quem, descrente do ser humano, em vez de chorar, tinha aprendido a se divertir como um porco na lama.
Outra história que ele me contou, num almoço:
“Conhece a história do homem honesto?”
“Diga lá.”
“Saía toda manhã de casa com a firme determinação de ser honesto. Voltava todo final de dia – extenuado – tendo conseguido. Hahahaha”.
ou o almoço mastigando uma costela gorda, com destreza no manejo dos talhares e volúpia na articulação das mandíbulas.
Ontem, a quatro dias do Ano Novo, a Câmara aprovou o aumento de salário para vereadores, prefeito, vice e secretários de governo. A matéria chegou de súbito na última hora, apresentada por Marcos Ferreira, ex-petista agora filiado União Brasil e líder do governo Paula no Legislativo. O aumento ará a valer em 2025 e se estenderá até 2028.
Um aumento médio de 60% nos rendimentos. Quem é que, na massa de trabalhadores, tem aumento assim?
Vereador ará a ganhar R$ 18.742,91. Vereador que presidir a Câmara, R$ 28.144,36. Prefeito, igualmente, R$ 28.144,36. O vice-prefeito ganhará R$ 19.680,05. Secretários municipais, R$ 18.742,91.
Considerando que 85% das famílias pelotenses ganham até 2 salários mínimos e meio, segundo o IBGE, é um privilégio de casta: a perpetuação da desigualdade. Sabem disso.
Para completar, aprovaram o aumento no mesmo dia em que elevaram as alíquotas de impostos para a mesma população. Como o velhaco dizia, gabando-se de sua malícia: rio sujo.