2m452i
Os defensores brasileiros do Estado forte (do “bem-estar social”) não gostam dos chamados liberais, principalmente desses que parecem ter decorado meia dúzia de chavões sobre liberdade econômica e começado a discursar com a convicção de que o Brasil pode ser uma cópia dos Estados Unidos – como se tivessem sido atacados por uma súbita doença cujo primeiro sintoma é a expressão facial de quem descobriu ontem a pólvora. E sem dar a menor importância para a diferença das colonizações, como o fato de que nos EUA não tiveram rei, enquanto aqui tivemos. Enquanto lá os próprios colonos forjaram o país, aqui o rei dava as cartas, distribuindo favores.
Para os estatistas, o liberalismo pleno, com liberdade total de mercado e menos impostos sobre o couro da sociedade, não funciona no Brasil porque há esse pequeno problema por aqui: multidões de pobres e iletrados no último país a abolir a escravidão no continente e o que recebeu o maior número de escravos nas Américas, uma mágoa gigante e tão profunda, que até mesmo a expressão científica “buraco negro” ofende a ministra da Igualdade Racial, para se ter ideia de até onde vai o ressentimento.
Já os liberais não gostam de estado forte, protetor-assistencial, com suas bolsas e demais subsídios sociais, porque entendem que assim a sociedade se acomoda, fica mais e mais dependente, e porque quanto mais estado, quanto mais estatais, mais os governos roubam – e roubam mesmo, como sabemos bem –, chegando os gatunos a ver nessa atividade uma curiosa forma de “reparação social” e até familiar.
É um nó de marinheiro. Um nó que não conseguimos desatar.
Há estatistas menos ortodoxos, que defendem um combinado de responsabilidade fiscal e liberdade de mercado com uma grande malha de proteção na forma de subsídios sociais. Para esses, o governo, além da regulação habitual dos juros, deve intervir com força na economia com investimentos públicos apenas em momentos críticos, como ocorreu na Crise de 29 ou mesmo na Pandemia da Covid-19, saindo de campo, porém, assim que a crise e, para que a sociedade volte a andar com as próprias pernas.
Por outro lado, existe o liberal ortodoxo rico de berço, privilegiado por herança, para quem defender o liberalismo é uma barbada. Imagine o filho do Rockefeller dando palestras sobre o valor do trabalho! Trouxa de quem comprar o ingresso! Há vários deles no Brasil. Estamos longe de desatar esse nó de marinheiro, como os que atavam nas caravelas que vinham da África para que a viagem transcorresse rápida e segura até o destino, satisfazendo o rei e os amigos deste.