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Oppenheimer, o grande filme do ano. Por Déborah Schmidt 2f43w

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Filme mais aguardado do ano para mim, Oppenheimer marca o retorno aos cinemas de Christopher Nolan, três anos após Tenet, o filme mais confuso e pretensioso de sua incrível filmografia. Sem grandes mudanças de tempo e espaço (embora eles existam), uma das marcas do diretor, Oppenheimer confirma (se é que havia alguma dúvida) a brilhante habilidade de Nolan em criar um verdadeiro espetáculo visual.

Inspirado no livro vencedor do Pulitzer escrito por Kai Bird e Martin Sherwin, Oppenheimer: O triunfo e a tragédia do Prometeu americano, o filme foi escrito e dirigido por Christopher Nolan.

Ambientado na Segunda Guerra Mundial, o longa acompanha J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), físico teórico da Universidade da Califórnia e diretor do Laboratório de testes de Los Alamos durante o Projeto Manhattan, que tinha a missão de projetar e construir as primeiras bombas atômicas.

A trama acompanha o físico e um grupo formado por outros cientistas ao longo do processo de desenvolvimento da arma nuclear que foi responsável pelas tragédias nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 1945.

Ao mesmo tempo em que acompanhamos o desenvolvimento do Projeto Manhattan, há também uma outra linha temporal, alguns anos à frente, encabeçada, principalmente, pelo empresário e oficial naval Lewis Strauss (Robert Downey Jr.), fundador da Comissão de Energia Atômica dos Estados Unidos. Strauss foi líder do comitê que retiraria as credenciais científicas de Oppenheimer e que entrou em uma verdadeira caça às bruxas com o objetivo de expor o físico como um espião comunista.

Vale destacar que há uma separação visual aqui: as cenas coloridas nos dão a perspectiva do próprio Oppenheimer, enquanto as cenas em preto e branco funcionam mais como uma “documentação” dos acontecimentos. Méritos da fotografia sempre impecável de Hoyte Van Hoytema, parceiro de Nolan em Interestelar (2014), Dunkirk (2017) e Tenet (2020).

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Tecnicamente exuberante, como edição e mixagem de som beirando a perfeição, ainda vemos o excelente trabalho de montagem de Jennifer Lame e a trilha sonora do vencedor do Oscar Ludwig Göransson.

OPPENHEIMER - Novo Trailer (Universal Studios) – HD

Christopher Nolan teve permissão de explodir uma bomba de verdade, sem usar efeitos gráficos. Com isso, temos uma cena extremamente realista e visualmente impressionante. Embora, é claro, a explosão seja de encher os olhos, é a tensão que precede a sequência que torna o filme ainda mais impactante.

A preparação do Teste Trinity (o primeiro com uma arma nuclear na história), e as visões do protagonista acerca de seus atos, fazem com que o espectador realmente sinta o perigo e a ameaça do que está por vir.

Oppenheimer marca a sexta colaboração entre Cillian Murphy e Christopher Nolan, sendo que esta é a primeira vez que o talentoso ator irlandês ganha o papel principal. Em uma atuação brilhante e digna de Oscar, Murphy sustenta o filme ao dar vida a um retrato complexo e humano, embora falho, de J.R. Oppenheimer.

Acompanhado por coadjuvantes poderosos, com destaque para a performance excepcional de Robert Downey Jr., o elenco também traz nomes como Matt Damon, Gary Oldman, Casey Affleck, Josh Hartnett, Rami Malek e Kenneth Branagh. Porém, é com as ótimas Emily Blunt (Kitty Oppenheimer) e Florence Pugh (Jean Tatlock), que Nolan frustra e repete o erro de outros filmes seus, conferindo tratamento superficial às suas personagens femininas. As duas representam relacionamentos românticos que tiveram um peso enorme para o físico, com a esposa Kitty sendo o alicerce que estimulou suas conquistas e Tatlock a força política na sua vida.

Conhecido como o “pai da bomba atômica” e responsável por um dos momentos mais terríveis da história da humanidade, é inegável que J. Robert Oppenheimer é uma das pessoas mais importantes que já viveram, assim como, é notável o fascínio do diretor por seu protagonista. Fica muito claro também para quem assiste a figura instigante que está sendo retratada. Uma vez que já sabemos como essa história termina, o grande trunfo do filme é explorar os conflitos morais e éticos do protagonista.

Com três horas de duração, Oppenheimer pode ficar cansativo em sua parte final, porém, não há cena que não seja fundamental para a narrativa. Com atuações memoráveis, um diretor no auge de sua genialidade e tecnicamente perfeito, Oppenheimer é o grande filme do ano, e um dos mais importantes dos últimos tempos.

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