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Adaptação da peça escrita por Samuel D. Hunter, A Baleia acompanha o professor de inglês Charlie (Brendan Fraser). Recluso, vive com obesidade severa e dá aulas online, já que não consegue se locomover por conta de seus quase 300 kg. Sua saúde está cada vez mais debilitada, causando preocupações em sua amiga e enfermeira Liz (Hong Chau). O maior arrependimento de Charlie foi ter abandonado a filha, Ellie (Sadie Sink), na infância. Então, ele decide tentar se reaproximar da jovem pelos dias que lhe restam.
Dirigido por Darren Aronofsky, conhecido por uma filmografia repleta de produções perturbadoras e narrativas incômodas, o filme explora a complexidade de seu protagonista, enquanto acompanhamos sua última semana de vida, na qual se esforça para reestabelecer contato com sua rebelde filha adolescente. Sem fugir de sua origem teatral, a obra de Aronofsky tem o roteiro do próprio autor da peça, que mergulha Charlie em um espiral de depressão e culpa.
Ambientado dentro do apartamento de Charlie, o design de produção aposta em um local pequeno, pouco iluminado, lotado de livros e que, aliado a uma fotografia opaca, reflete o estado de espírito de seu morador. Com um cotidiano cheio de limitações agoniantes devido à obesidade mórbida e à compulsão alimentar, vemos Charlie com um misto de compaixão e aversão.
Merecidamente premiado com o Oscar de melhor ator, Brendan Fraser está magnífico ao apresentar gentileza e humanidade ao seu personagem, fugindo da caricatura. Fora o trabalho físico que o papel demanda, e debaixo de muitas próteses e maquiagem, Fraser conquista com uma interpretação pautada pelo olhar, quase sempre melancólico, e uma fala calma que expressa com perfeição todos os triunfos e tragédias de Charlie, emprestando alguma verdade à sua crença inabalável no otimismo e na bondade humana.
Ainda no elenco, Hong Chau, em uma ótima atuação que justifica sua indicação ao Oscar, tem a missão de dosar uma personagem cética e raivosa, porém, vulnerável e protetora com a saúde de seu amigo. A história ainda traz um jovem missionário religioso, vivido por Ty Simpkins, que acredita em um motivo divino para ter cruzado o caminho do protagonista, além das sempre talentosas Sadie Sink, como a filha de Charlie, e Samantha Morton, como a ex-esposa e mãe de sua filha.
O título A Baleia pode gerar uma impressão errada. O título faz uma alusão ao clássico da literatura Moby Dick. Apaixonado pela arte da escrita, Charlie é apegado a um antigo papel que traz uma pequena análise do livro. Sempre que se sente diante de uma crise de saúde, ele se volta para aquelas linhas para se acalmar. A simbologia desse instante é explicada ao longo da narrativa, e que, na sequência mais emocionante do filme, mostra a reconexão entre um pai distante e sua filha adolescente.
Difícil e claustrofóbico, A Baleia vale pela atuação impecável e memorável de Brendan Fraser.