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Sobre o voto do eleitorado gaúcho (Por Robson Loeck) 3jz2k

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Robson Loeck

No Rio Grande do Sul, o feriado de 20 de setembro exalta as “virtudes” dos gaúchos. A comemoração da data, atrelada a Revolução Farroupilha, ajuda a reforçar nos dias atuais o imaginário de que, desde muito tempo antes, prevalece nessas terras um cidadão positivamente diferenciado, que recusou ser argentino e preferiu ser brasileiro.

Isso fez e faz boa parcela dos gaúchos se considerarem politizados, crença essa compartilhada até mesmo por brasileiros de outros estados. Mas, seria verdadeiro que “o povo gaúcho” é realmente mais politizado? Pode até ter sido, no entanto, pesquisas científicas sobre comportamento político, realizadas nas décadas de 80 e 90 do século ado, vieram a contradizer tal percepção ao apontar que o comportamento dos gaúchos era similar ao dos demais cidadãos brasileiros.

A análise numérica das últimas eleições no RS permite visualizar algumas “inconsistências” e a fragmentação dos votos dos gaúchos, considerando os votos válidos dos candidatos mais votados no primeiro turno. Em 2014, José Ivo Sartori (PMDB) recebeu 40% dos votos, Tarso Genro (PT) 33% e Ana Amelia Lemos (PP) 22%. Na mesma eleição, interessante observar que a candidata a presidente Dilma Rousseff (PT) recebeu 42% dos votos. Nas eleições de 2018, Jair Bolsonaro (PSL) fez 53% dos votos e Haddad 23%, enquanto Eduardo Leite (PSDB) obteve 36%, seguido de José Ivo Sartori (MDB), Miguel Rossetto (PT) e Jairo Jorge (PDT) que, respectivamente, fizeram 31%, 18% e 11%.

Os números mostram que os votos recebidos por Tarso em 2014 foram menores do que obteve Dilma. O mesmo ocorreu com Rossetto em relação a Haddad em 2018. Já os votos somados de Leite e de Sartori ultraaram os votos recebidos por Bolsonaro. Na eleição que acaba de terminar, Onyx Lorenzoni (PL) fez 38% dos votos, Eduardo Leite (PSDB) e Edegar Pretto (PT) chegaram a 27% (com os arredondamentos), e uma diferença mínima de 2.491 votos levou Leite ao segundo turno.

Assim, em 2022, mais uma vez pode-se destacar um “estranhamento” eleitoral em virtude de Lorenzoni fazer menos votos do que Bolsonaro (49%), candidato pelo PL, e, da mesma forma, Pretto menos do que Lula do PT (42%). Numa situação de “normalidade” comportamental, em que todos os eleitores tivessem como norte do voto as propostas programáticas dos partidos políticos e dos seus candidatos, os resultados das eleições seriam diferentes.

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O que temos, então, é que um número considerável e importante de eleitores para a definição dos pleitos, vota, por exemplo, em um candidato do partido “A” para presidente ao mesmo tempo em que vota num candidato do partido “B” para governador do estado. Tal comportamento não corresponde ao de um eleitor politizado e acaba por dificultar a previsibilidade dos resultados eleitorais.

Boa parte dos eleitores gaúchos vota de forma personalista, influenciados por diversos fatores atrelados a sua vida cotidiana e a percepções da realidade, e, por conseguinte, do que entendem já terem feito ou irão fazer os políticos para transformá-la. Desta forma dividem-se os votos entre os candidatos e quem perde com isso é a política. Eleição após eleição, os eleitores que votam de forma “programática” e acreditam na democracia, acabam por conviver com os eleitores que, ao votarem sem “critérios políticos”, contribuem para aflorar, entre si mesmos, o sentimento negativo de que político é tudo igual e, até mesmo, de que não faz muita diferença votar em um ou outro candidato.

Levando-se em consideração essa conjuntura e a continuidade da campanha eleitoral no segundo turno no RS, serão agora decisivos os eleitores que votaram no Pretto. Valendo-se das suas convicções políticas ou meramente de percepções, vão se abster ou escolher entre Lorenzoni ou Leite.

Robson Becker Loeck é sociólogo, graduado e mestre em ciências sociais, especialista em política.

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Brasil e mundo 3m3y11

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio b4o68

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento 1f3218

O perigo das Gagas da vida 1n4w28

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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