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“A gente morre e não vê tudo”. Pelo visto, o servidor da Secretaria de Transporte e Trânsito que instalou uma câmera escondida em um banheiro da repartição decidiu reformar o ditado.
Como o recinto é unissex, o voyeur gravou mulheres e homens. Ele foi afastado das funções; os efeitos de seu ato, não. Mais difícil de desinstalar, a paranoia tomou assento, e não só na STT.
A vigilância íntima era restrita a um banheiro ou disseminada pela istração pelotense? É de supor que, em toda a prefeitura, venham tendo pensamentos persecutórios.
A literatura policial diz que o criminoso sempre volta ao local do crime. No caso, pior: as vítimas também voltavam, há quanto tempo não se sabe ainda. Maldito seja o misterioso por transformar um lugar de alívio num foco de tensão.
O assunto tem sido tratado com sigilo. Mas provavelmente a Segurança está fazendo uma varredura geral, não apenas nos banheiros, mas também nos gabinetes.
Será que, além de outras câmeras espalhadas por aí, não haverá escutas também? Será que o arquivo morto na verdade está vivo? Aquele ponto preto na parede é só uma mosca? Qual seria exatamente a intenção do voyeur? Satisfazer desejos sexuais? vender as imagens? Usá-las para constranger pessoas e subir na hierarquia? Chantagem? Chantagem política? Nessa hora, os pensamentos disparam em todas as direções.
Um filme com Gene Hackman, chamado A Conversação, leva ao extremo a paranoia quando ela se instala. À procura de grampos, literalmente ele destrói seu apartamento. No fim, senta num canto e toca saxofone.
Como um programa de varredura e distribuição de saxofones aos funcionários seria surreal na istração pública, o provável é que o pessoal da Segurança apenas redobre seus cuidados regulares, se é que a paranoia não está fazendo suspeitar da própria Segurança.
* Especula-se que as imagens circulem há algum tempo, em alguns ambientes (não pergunte quais). Para piorar, especulam que o voyeur fazia gravações há vários anos, pelo menos desde 2018.