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“Crime em Foz e o Talião” 6g1x6i

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O assassinato do guarda petista por um policial bolsonarista, em Foz do Iguaçu, é um desses eventos em que a gente percebe o quanto a natureza humana é precária. Em um instante, junto com o controle, vidas se perdem. O episódio vem servindo de alerta para os perigos do ódio “político” de parte à parte. Lembrei de um filme, sobre o conflito de árabes e israelenses.

Em Munique, Spielberg conta uma história de vingança. Após o atentado de terroristas árabes contra atletas israelenses, nas olimpíadas de 1972, na cidade alemã, o governo de Israel decide caçar e eliminar os assassinos.

Por muitos anos, agentes do Mossad cumprem a tarefa, matando os agressores, um por um. Em certo ponto, emocionalmente arrasados com seus próprios atos, começam a questionar a validade da violência.

No ado longínquo, quando árabes queriam punir um assassino, amarravam-no vivo ao corpo da vítima e abandonavam os dois no deserto. A associação com Foz é inevitável, pela remissão aos primórdios da barbárie.

A Lei do Talião, “olho por olho”, é da aurora da civilização. De dois mil anos antes de Cristo, na Babilônia, onde hoje é o Iraque, e onde, não por acaso, Saddam Hussein foi enforcado de maneira grotesca.

O Talião diz que, como resposta a uma agressão, é justo infligir a mesma agressão como castigo a quem a praticou. Cristo estava longe de nascer. O conceito de perdão não existia, não como amos a conhecê-lo, depois do cristianismo. Hoje existe, ao menos como uma possibilidade, embora exigente.

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Ao longo dos séculos, todo um grande arcabouço legal foi criado para tentar conter os instintos agressivos, e naturais. Ironicamente, o próprio fato de ser um arcabouço parece uma prova de que, por baixo de todo civilizado, há um selvagem pronto a explodir.

Não revidar pode exigir muito, mais do que uma pessoa pode ar. Revidar, dependendo da intensidade, pode destruir quem revida. Qual a medida de uma reparação?

Em O Mal-Estar da Civilização, Freud afirma que a violência habita o íntimo do homem. Sentimentos de mal-estar ligados à nossa constituição fisiológica, que, reprimidos pela vida em sociedade, sua moralidade e suas leis, latejam, perturbando o comportamento. Assim, o homem não caberia na lei. No máximo, numa carta de intenções.

É o que temos constatado, ainda mais, nestes tempos estranhos.

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