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Cultura e entretenimento 1f3218

A CARTA DO SEU JOÃO (Por Vitor Bertini) d3s4l

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A placa na porta não deixava dúvidas: Dr. Carlos Sinovial Santos – Delegado de Polícia. 

“Formosa dama. Permita uma breve apresentação meu nome é João Castanheira e sou o encarregado da obra do novo Colégio Santa Mathilde. Ali na subida da Rua Tristão. A razão que me permitiu vir trabalhar nessa cidade é a mesma que talvez me permita ficar sou viúvo. Dito isso sou honrado e franco – quis o destino quando achei que trabalhar era tudo o que de melhor podia acontecer na minha vida fazer com que meu alojamento seja duas quadras distante de sua janela na direção de quem vem ou vai para a Rua Tristão. No caminho do trabalho minhas manhãs não são mais as mesmas. Sua presença na janela, tudo enaltece. As tardinhas encontram a janela fechada quando se faz a escuridão. Não sei seu nome nem sua situação. Nunca vi outras pessoas na casa. o pontual as 7:00 horas da manhã carrego uma pasta preta uso chapéu claro e paletó mas acho que já me vistes. Com todo o respeito posso Seu João como o pessoal da obra me chama. Ou seu João. Sorrir na minha agem será sua resposta.”

– Li corretamente, seu João?
– Sim, delegado. Bem certo. Isso mesmo.
– E o senhor quer dar queixa do que exatamente, seu João?
– Doutor, eu não ofendi nem faltei com o respeito a ninguém. Como escrevi, sou um homem honrado. A surra que levei é ilegal. Quero dar queixa.
– Seu João, deixa eu lhe contar uma coisa: a senhora que enaltecia suas manhãs é casada e quem recolheu sua carta na caixa do correio foi o marido dela. O senhor deve dar graças a Deus que esteja vivo e falando. Nessa cidade, por muito menos, tem gente no cemitério.
– Com todo o respeito que o doutor merece, apanhei de vara, estou machucado, quase engasguei com a carta e tenho razão. Amanhã…
– Seu João, preste atenção: não vai ter amanhã. O senhor vai mudar seu caminho para a obra. Na ida, e na volta. Se eu souber que o senhor ou por lá novamente, eu é que vou lhe prender. Entendeu, seu João?
– Doutor, a minha carta…
– Seu João, a sua carta está com o nome da Santa escrito errado – não tem aquele agá – e foi endereçada para uma santa casada. A Santa solteira não gostou de ver seu nome errado e o marido da outra está bem brabo. Agora, para casa. Sua carta fica por aqui.

Inconformado, Seu João saiu da delegacia. Intrigado, o delegado foi reler a frase sobre as duas formas de propostas pelo apaixonado – a única vírgula ele já tinha atribuído à expressão “tudo enaltece”.

Na manhã seguinte, antes de ir trabalhar, Seu João ligou para o departamento jurídico da construtora. Tinha uma ação de prevaricação para propor, contra o delegado, junto à Corregedoria da Polícia Civil.

Seu João foi promovido para o cargo de Supervisor Regional na semana seguinte – em outra região.

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Página de Vitor – AQUI.

Depois de tudo, escritor. Autor do livro "Não me Abandone" - Editora Esquina do Lobas e da página "A História da Sexta".

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Brasil e mundo 3m3y11

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio b4o68

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento 1f3218

O perigo das Gagas da vida 1n4w28

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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