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Adaptação do conto de Haruki Murakami, Drive My Car segue duas pessoas solitárias que encontram coragem para enfrentar o seu ado. Yûsuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima) é um ator e diretor de sucesso no teatro, casado com Oto (Reika Kirishima), uma roteirista com quem colabora artisticamente. Quando Oto morre repentinamente, Kafuku é deixado com muitas perguntas sem respostas sobre seu relacionamento com ela. Dois anos depois, ainda sem conseguir sair do luto, ele aceita dirigir uma peça de teatro em Hiroshima, embarcando em seu precioso carro Saab 900. Lá, ele conhece Misaki Watari (Tôko Miura), uma jovem motorista com quem tem que deixar seu carro. Apesar das dúvidas iniciais, uma relação especial se desenvolve entre os dois.
Dois anos após a morte da esposa, Yûsuke segue com sua vida até ser convidado para adaptar a peça de teatro “Tio Vânia”, de Anton Chekhov. A peça dá ao longa espaço para outros personagens, como uma atriz muda que volta a atuar para superar um aborto e o ex-amante de Oto, interpretado por um ator jovem que Yûsuke escolhe para protagonizar a peça.
Com três horas de duração, o filme dirigido com perfeição por Ryûsuke Hamaguchi não tem pressa em contar sua história, desenvolvendo seus complexos personagens com calma e contemplação. O roteiro, escrito por Hamaguchi e Takamasa Oe, tem como objetivo a construção de uma trama de perdas e dores internalizadas em seu protagonista, um homem atormentado por sentimentos dolorosos que o assombram, preso em um ado do qual não consegue se libertar.
As três horas de duração podem assustar ou então dar a impressão de que o filme é lento e arrastado. Não se enganem, afinal, é na lentidão que ele se torna memorável e impactante. A jovem dirige tão bem que o faz esquecer que está em um carro, enquanto escuta repetidamente os textos gravados da peça na voz de sua falecida esposa. Conforme os ensaios vão avançando, Misaki e Yûsuke vão criando uma relação mais profunda e am a compartilhar suas histórias sobre expectativas e perdas, aprendendo a enfrentar e conviver com a dor.
Vencedor do Oscar de melhor filme internacional, além de ter sido indicado também a melhor filme, diretor e roteiro adaptado, Drive My Car fez sua estreia mundial no Festival de Cannes, concorreu à Palma de Ouro e recebeu três prêmios, incluindo melhor roteiro.
Um filme delicado que explora perda, solidão, superação e o tempo que levamos para percorrer nossos caminhos. Drive My Car é uma obra-prima sobre recomeços.