Connect with us

Pelotas e RS

Quilombolas encontram barreiras na busca pelo direito à terra

Em Pelotas, famílias quilombolas não reivindicam direitos territoriais por medo de perder principal fonte de renda

Publicado

on

Luísa Ximendes, da Universidade Federal da Bahia

Marlene Dias tem 53 anos e mora no Rio Grande do Sul, na zona rural de Pelotas, com os filhos e o marido. Agricultora e dona de casa, dedica-se à lida doméstica e ao trabalho na lavoura para garantir o sustento de sua família. No entanto, apesar do trabalho duro, todos os anos tem de lidar com a incerteza de poder produzir seu alimento. Sem a posse da terra que cultiva, Marlene precisa buscar entre os vizinhos alguém disposto a arrendar um pedaço de chão para poder plantar.

No Quilombo do Algodão, trabalhar na terra de outros agricultores e não ter espaço para o plantio do próprio alimento não é uma realidade exclusiva da família de Marlene. Composta por 106 famílias, a comunidade do Algodão é reconhecida pela Fundação Cultural Palmares desde 2010, mas não possui titulação de terras pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Assim, resta aos quilombolas trabalhar por temporada nas lavouras vizinhas para garantir a subsistência o ano inteiro.

Marlene e sua horta. Foto de Gustavo de Witt
Marlene. Foto de Gustavo de Witt

Por não dispor de território demarcado, o quilombo é organizado por núcleos situados em diferentes localidades da região gaúcha conhecida como Serra dos Tapes. Esses núcleos são compostos por aglomerações de famílias quilombolas pertencentes à comunidade, distanciados por terras de outros pequenos agricultores da região, a maioria de origem pomerana, italiana e sa. “A maior parte das famílias [quilombolas] trabalha nas lavouras de tabaco, outras vendem a sua mão de obra para trabalhar no raleio ou na colheita de pêssego, e outras trabalham no que a gente chama de corte de mato, principalmente de florestas de eucalipto”, explica Robson Loeck, sociólogo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater).

O presidente da Associação Quilombola do Algodão, Nilo Dias, conta que a comunidade não discute a possibilidade de demarcação territorial pelo receio de perder a principal oportunidade de trabalho das famílias. “Imagina o Quilombo do Algodão pedir um estudo antropológico para a titulação de terras quilombolas. A gente ia comprar uma briga justamente com as pessoas que dão o nosso emprego”, afirma Dias. A incerteza de amparo às famílias quilombolas que arriscariam perder sua fonte de renda é considerada um entrave na busca pelo direito à terra. “Se nós ficarmos um ano sem ter esse trabalho eventual na lavoura dos pequenos agricultores, quem não for embora vai morrer de fome. O poder público não vai trazer alimento para nós”, constata Nilo ao falar sobre o temor dos quilombolas.

INEFICÁCIA DOS PROCESSOS

O estudo antropológico citado por Nilo compõe uma das etapas do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), que, por sua vez, é o primeiro o do processo de titulação de território quilombola pelo Incra, e visa identificar os limites das terras de remanescentes de quilombos. A partir do levantamento feito, quando observadas incidências de imóveis privados na região atribuída aos quilombolas, inicia-se o processo de desapropriação dessas terras, que são avaliadas a preço de mercado, e adquiridas pelo Instituto para que sejam destinadas à comunidade.

Publicidade

O reconhecimento de posse dos remanescentes de quilombos sobre as terras que ocupam é um direito previsto pela Constituição Federal de 1988 (Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias), sendo o Incra a instituição responsável pela titulação dos territórios. No entanto, para garantir a proteção desse direito, o instituto encontra uma série de dificuldades, que vão desde recursos operacionais até entraves burocráticos.

De acordo com Vanessa dos Santos, antropóloga e analista do Serviço Quilombola do Incra/RS, de 108 processos de regularização fundiária de territórios quilombolas abertos no estado até hoje, 70 ainda aguardam condições de recursos humanos e orçamentários para atender a demanda. Do total de processos, 71 foram iniciados em data anterior ao ano de 2010, segundo o Relatório de Avaliação da Superintendência Regional do Incra no RS (Controladoria-Geral da União, 2020).

Além dos recursos limitados, as etapas burocráticas previstas pela Instrução Normativa que rege o procedimento de titulação de terras quilombolas (IN 57/2009) também são apontadas como justificativas para a demora dos processos. “De uma forma geral, os processos de regularização de territórios quilombolas são complexos, exigem muitos estudos e levantamentos e incluem etapas com prazos para contraditório, e por isso demandam bastante tempo”, explica Vanessa. Os prazos mencionados consistem no período de 90 dias, após publicação do Relatório Técnico, para viabilizar a contestação dos resultados por terceiros que possam ser afetados em caso de desapropriações.

TRABALHO E DESIGUALDADE

A morosidade dos processos de titulação é somada à dificuldade de o a serviços básicos e à falta de oportunidades de emprego, criando obstáculos na busca de direitos para os moradores do Algodão. O sociólogo Robson Loeck afirma que as famílias do quilombo muitas vezes dependem da ajuda de vizinhos não-quilombolas para suprir necessidades básicas e garantir uma renda mínima. A abertura de um processo de demarcação territorial poderia ameaçar essa relação, aumentando a desigualdade existente. “Ao mesmo tempo que essas pessoas trabalham sem nenhum o a direitos trabalhistas, a uma carteira assinada, elas são gratas por lhe serem ofertadas essas possibilidades de trabalho”, explica Loeck. “Se não fosse isso, a situação delas seria ainda pior, porque elas não teriam o que fazer, não teriam outra fonte de renda a não ser o Bolsa Família”, acrescenta. A situação de Marlene expressa a análise feita pelo sociólogo. A agricultora conta que já precisou recorrer aos vizinhos para ir à cidade por motivos de saúde urgentes. O pagamento pelo transporte foi feito em dias de trabalho nas terras dos agricultores.

Hoje, Dona Marlene vive com a família em uma área menor que 1 hectare, onde cultiva uma horta e algumas árvores frutíferas. O desejo dela era ter uma área maior para plantar as sementes de feijão que recebe da Emater. “Às vezes eles trazem as sementes, mas a gente não tem onde plantar, temos que esperar o vizinho dar um pedaço de terra”, lamenta. Com isso, o alimento também é dividido. Marlene conta que a troca para pagar o espaço de terra cedido é feita pela partilha de sua colheita. “A gente planta na terra do vizinho, e divide a metade com ele. Se produzimos dois sacos, um é dele e outro é nosso”, explica.

Publicidade
Publicidade
Clique para comentar

Brasil e mundo

Edital do Enem 2025 é publicado; veja datas e regras do exame

Publicado

on

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) publicou em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) desta sexta-feira (23), o edital do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025.

O período de inscrições será de 26 de maio a 6 de junho. Os interessados deverão se inscrever na Página do Participante do exame, no site do Inep.

Conforme adiantado pelo ministro da Educação, Camilo Santana, participantes do Enem com mais de 18 anos, que ainda não concluíram a educação básica, voltarão a obter a certificação no ensino médio para quem conquistar pelo menos 450 pontos em cada uma das áreas de conhecimento das provas e nota acima de 500 pontos na redação.

Provas

O Enem 2025 será aplicado nos dias 9 e 16 de novembro, em todo o Brasil.

São quatro provas objetivas e uma redação em língua portuguesa. Cada prova objetiva terá 45 questões de múltipla escolha.

No primeiro dia do exame, serão aplicadas as provas de redação e as objetivas de língua portuguesa, língua estrangeira (inglês ou espanhol), história, geografia, filosofia e sociologia. A aplicação terá 5 horas e 30 minutos de duração.

Publicidade

No segundo dia do Exame, serão aplicadas as provas de matemática, Química, Física e Biologia. Nesta data, a aplicação terá 5 horas de duração.

Os portões de o aos locais de provas serão abertos às 12h e fechados às 13h (horário de Brasília). O início será às 13h30.

No primeiro dia, as provas irão terminar às 19h. No segundo dia, o término é às 18h30

“Excepcionalmente, considerando a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – COP 30, que será realizada em Belém-PA, a aplicação do Enem 2025 para o participante que indicar os municípios de Belém-PA, Ananindeua-PA ou Marituba-PA como município de aplicação no ato da inscrição será realizada em 30 de novembro de 2025 e 7 de dezembro de 2025”, diz o edital.

No ato de inscrição, os candidatos podem requerer o tratamento pelo nome social, que é destinado à pessoa que se identifica e quer ser reconhecida socialmente, conforme sua identidade de gênero. 

Serão usados dados da Receita Federal, por isso o participante deverá cadastrar o nome social na Receita FederalTravestis, transexuais ou transgêneros receberão esse tratamento automaticamente, de acordo com os dados cadastrados na Receita.

O candidato não precisa enviar documentos comprobatórios.

ibilidade

Publicidade

O participante que necessitar de atendimento especializado deverá, no ato da inscrição, solicitá-lo.

O candidato deve informar as condições que motivaram a solicitação, como baixa visão, cegueira, visão monocular, deficiência física, auditiva, intelectual e surdez, surdocegueira, dislexia, discalculia, déficit de atenção, Transtorno do Espectro Autista (TEA), gestantes, lactantes, diabéticos, idosos e estudantes em classe hospitalar ou com outra condição específica. 

Os recursos de ibilidade disponibilizados aos candidatos estão descritos no edital.

Taxa de inscrição

taxa de inscrição do Enem é no valor de R$ 85 e pode ser paga por boleto (gerado na Página do Participante), pix, cartão de crédito, débito em conta corrente ou poupança (a depender do banco). O prazo para fazer o pagamento vai até 11 de junho. Não haverá prorrogação do prazo para pagamento da taxa.

Para pagar por Pix, basta ar o QR code que constará no boleto.

De acordo com o edital, não serão gerados boletos para participante que informar na inscrição que usará os resultados do Enem 2025 para pleitear o certificado de conclusão do ensino médio ou declaração parcial de proficiência e que esteja inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) concluinte do ensino médio (no ano de 2025), mesmo que ainda não tenha solicitado isenção da taxa

Publicidade

Reaplicação

De acordo com o edital, as provas serão reaplicadas nos dias 16 e 17 de dezembro para os participantes que faltaram por problemas logísticos ou doenças infectocontagiosas.

Continue Reading

Pelotas e RS

Vídeo: PT pede ao MP providências contra Eduardo Leite, por documentário de “autopromoção”

Publicado

on

Continue Reading

Em alta

Copyright © 2008 Amigos de Pelotas.

Descubra mais sobre Amigos de Pelotas

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter o ao arquivo completo.

Continue reading