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O som abafado de vozes e soluços que preenchia a sala decorada por um quadro de santa, no hospital que levava o nome da família, foi quebrado pelo comunicado que o Comendador, anunciado como morto há dez minutos, na verdade, estava vivo.
– Ai meu Deus! – foi o que se ouviu com mais clareza no emaranhado de exclamações que tomou conta do ambiente.
Depois, quando as conversas retomavam o tom contido e a diretoria médica do hospital já havia sido convocada para as devidas explicações, alguém perguntou:
– Como assim, “ai meu Deus”?
– Autorizei o anúncio fúnebre em todos os jornais, encomendei coroas de flores, as rádios já devem estar chamando para o velório e a prefeitura pendurou a bandeira a meio-pau. Isso sem falar nas listas de distribuição – respondeu a ruiva, neta mais velha, sem tirar os olhos do celular.
– Nossa Senhora! – gemeu tia Antonella, irmã do vivo.
Mais dez minutos de perplexo silêncio e o som de os firmes anunciam a chegada da presidente do hospital, acompanhada de todos os médicos.
– Lamentamos informar que o Sr. Comendador, apesar dos nossos esforços, veio a falecer.
– Graças a Deus! – foi dito entre vozes abafadas e soluços, mas é o que foi ouvido.
Página de Vitor Bertini – AQUI.