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Cultura e entretenimento 1f3218

A tragédia de Macbeth. Por Déborah Schmidt 394no

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Baseado na clássica tragédia de William Shakespeare, a nova adaptação de A Tragédia de Macbeth segue a história de Lorde Macbeth (Denzel Washington), que, ao retornar de uma guerra, é abordado por três bruxas que lhe profetizam de que será o próximo rei da Escócia. Ao contar a notícia para sua esposa, Lady Macbeth (s McDormand), eles planejam o assassinato do rei atual e assim garantir o reinado de Macbeth.  

Primeiro filme do diretor e roteirista Joel Coen sem a participação de seu irmão Ethan Coen, o longa é ambientado na Escócia do final do século XV e começo do século XVI e explora uma trama repleta de ambição, traição e vingança. A narrativa, além de manter a atmosfera teatral, opta por utilizar o texto original de Shakespeare, mantendo a poesia e o lirismo nos diálogos. O início dá-se com uma certa estranheza por causa do texto rebuscado, tornando o filme cansativo em seu primeiro ato. Porém, esse cansaço vai sumindo e tornando o filme cada mais poderoso e com o espectador totalmente impactado e imerso na história.  

O filme já chama atenção quando vemos que os protagonistas são Denzel Washington, que já tem garantida sua nona indicação ao Oscar, e s McDormand, em mais uma brilhante parceria com seu marido, Joel Coen. Soberba, a dupla comanda o filme sem perder a essência de seus complexos personagens, aliados a um elenco de coadjuvantes que conta com a presença de outros ótimos personagens, como o valente Macduff (Corey Hawkins), Banquo (Bertie Carvel), o melhor amigo de Macbeth, e Malcolm (Harry Melling), filho do Rei Duncan (Brendan Gleeson) e legítimo herdeiro do trono. Mas quem rouba a cena é a dramaturga Kathryn Hunter, no papel das bruxas e também do “homem velho”, em atuações simplesmente incríveis.

Visualmente perfeito, o longa possui o enquadramento clássico em 4×3, um formato quadrado que diminui os personagens ao mesmo tempo em que impressiona com cenários desproporcionais, com portas e escadarias imensas para ocupar um vazio que é amplificado pela total ausência de adereços ou mobílias. A estética do filme também foge do convencional e aposta na teatralidade fantástica, em uma clara homenagem ao expressionismo alemão.  

A belíssima fotografia em preto e branco de Bruno Delbonnel abusa de um impecável jogo de luz e sombra para criar ambiguidade na personalidade complexa de Lorde Macbeth ou na loucura de Lady Macbeth. A evocativa trilha sonora de Carter Burwell, que começou sua carreira junto com os irmãos Coen em Gosto de Sangue (1984), aparece nos momentos certos em um trabalho solene.  

Disponível na Apple TV+, A Tragédia de Macbeth não é apenas uma das melhores traduções de Shakespeare no cinema, como é também uma das melhores produções dos últimos anos. Uma obra-prima. Literalmente, um espetáculo!  

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Déborah Schmidt é servidora pública formada em istração/UFPel, amante da sétima arte e da boa música.

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Brasil e mundo 3m3y11

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio b4o68

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento 1f3218

O perigo das Gagas da vida 1n4w28

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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