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IDENTIDADE. Por Déborah Schmidt h594b

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Disponível na Netflix, o elogiado drama racial Identidade apresenta duas mulheres negras que conseguem se ar por brancas, mas que decidem viver em lados opostos em um período de segregação racial.Amigas na infância, Irene (Tessa Thompson) e Clare (Ruth Negga) se reencontram na vida adulta em Nova York.

Irene é uma dona de casa e ativista social que vive no Harlem ao lado do marido (André Holland) e filhos negros. Igualmente de pele clara, a elegante e ambiciosa Clare, além de se ar por branca, é casada com um banqueiro branco e racista (Alexander Skarsgård).

Em sua estreia na direção, a atriz Rebecca Hall também assina o roteiro, que é uma adaptação do romance homônimo de Nella Larsen, lançado em 1929. A obra é considerada até hoje como um marco do chamado “renascimento do Harlem”, um dos bairros negros mais famosos dos Estados Unidos. 

Conhecemos Irene percorrendo o bairro de Manhattan, predominantemente branco, na década de 1920. Ela é uma mulher negra se “ando” por branca que consegue facilmente interagir em um ambiente rico sem se preocupar com racismo. Durante o eio, Irene reencontra Clare e se surpreende ao descobrir que a antiga amiga constantemente se “a” por branca e que seu marido racista desconhece a verdadeira cor da esposa.

Por mais surreal que possa parecer, o filme é inspirado em casos reais de pessoas que se “avam” por outra raça para escapar de convenções legais e sociais de segregação racial e discriminação. O filme tem em seu título original “ing” (agem), que confirma as motivações das protagonistas e que destoa completamente do título nacional de “Identidade”, visto que o que elas desejam esconder é exatamente as suas reais identidades. Identidade | Trailer | Dublado (Brasil) [HD]

A forte, e cada vez mais constante, presença de Clare na vida de Irene desperta velhos sentimentos. A tensão entre as duas é social, afetiva e sexual, e é evidente que há uma atração e uma repulsão mútuas. Clare vive em um mundo fantasioso e inveja Irene pelo simples fato de que a amiga não vive uma mentira. Para Clare, Irene é feliz e se sente segura. Entretanto, essa sensação não a de uma ilusão. Na maior parte das cenas, Irene anda com o olhar baixo e sempre coloca um chapéu como se pudesse se esconder ou se tornar invisível. “Não estamos todos nos ando por alguma coisa, no fim das contas?”, pergunta Irene em um determinado momento para o amigo Hugh (Bill Camp).

Filmado na proporção de tela 4:3, que troca o formato retangular por um “quadrado” que aumenta a sensação de aprisionamento, a belíssima fotografia em preto e branco de Eduard Grau utiliza luz e sombra conforme as mudanças ocorrem.

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Delicado e elegante, Identidade aborda questões raciais, sociais e culturais de forma bastante sutil. Com uma direção competente e atuações marcantes, é um filme que merece ser visto.

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