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Cultura e entretenimento

Um evento para recordar A. G. Schlee

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Está sendo lançado neste sábado, num grande evento literário coletivo promovido pela Editora Ardotempo no Mercado Público de Pelotas, o terceiro livro de João Félix Soares Neto, que fez carreira no Banco do Brasil depois de ter sido cabo do 9º RI, jogador de futebol do Farroupilha e repórter do Diário Popular, onde trabalhou na segunda metade dos anos 1950 ao lado de jovens estudantes de direito como Clayr Rochefort, Carlos Alberto Chiarelli, Irajá Andara Rodrigues, José Carlos Sica Diniz e Aldyr Garcia Schlee. O novo livro é “A Forja de Salus”, que romanceia histórias dos anos 40 e 50 em Sanga Rasa, cidadezinha fictícia na qual se pode distinguir a silhueta de Arroio Grande, terra natal do autor, que veio ao mundo no Natal de 1936.

Antes desse engenhoso romance, João Félix publicara dois livros de contos: “O Cigarro Ensanguentado” (2007); e “Na Palma da Mão” (2011), ambos editados pela Ponto de Vista, microempresa de A. G. Schlee, que escreveu dois prefácios para ambos os livros e sempre incentivou o amigo/colega a persistir na elaboração de textos ficcionais.

Perfeccionista, Félix demorou a terminar as narrativas que acompanham a história do ferreiro Salustiano e outros personagens descritos com seu modo arrevesado de narrar. Por falta de pressa na colocação do ponto final, perdeu a chance de ser o recordista de prefácios de Schlee (1934-2018), autor de mais de vinte apresentações de livros de escritores de Pelotas e arredores. Em compensação, o novo livro de Félix veio com uma apresentação de Luiz Carlos Vaz, jornalista que trabalhou ao lado de Schlee desde que, vindo de Bagé, chegou a Pelotas no início dos anos 1970.

Por coincidência, L. C. Vaz está lançando seu primeiro livro de contos e crônicas na mesma tertúlia vespertinoturna deste sábado no Mercado.

Prioritariamente fotógrafo, Vaz é também rápido no teclado, tanto que, incentivado por amigos e parentes, alinhavou uma série de “histórias familiares” para consumo dos parentes (a família é numerosa). Vazado para o editor Alfredo Aquino, responsável pelo relançamento de Aldyr Garcia Schlee a partir de 2009, o material virou livro intitulado “A História de Abel”, que conta o causo de um jovem que, obrigado a se casar com uma moça vizinha, escolheu fugir para o Uruguai.

O livro de Vaz é prefaciado por Paulo Rosa, o médico-cronista que cuidou de A. G. Schlee em seus últimos anos de vida e deverá autografar seu livro “Andar Térreo” (Ardotempo, 2019), que contém uma centena de crônicas cuja apresentação é assinada por Mariana Ianelli, poeta e cronista que participa do evento de sábado com mais de um livro. E foi assim que, juntando amigos do famoso escritor jaguarense acantonado em Pelotas e no Capão do Leão, o editor Alfredo Aquino organizou a maratona de autógrafos e recitais desta véspera de Natal. Começa às 16 horas e provavelmente se estenderá noite adentro com uma seresta inesquecível, pois há músicos e poetas escalados para se apresentar.

Schlee, fotografado por Luiz Carlos Vaz

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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