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Brasil e mundo

Maurício, Thatcher, Billy e a liberdade

Há um paradoxo na tese dos críticos da política identitária. Um furo. Lembre: para os liberais, “a liberdade econômica é a mãe de todas as liberdades”.

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A polêmica suscitada pela postagem do jogador Maurício questionando o beijo gay do filho do super-homem me fez lembrar de um filme do ano 2000: Billy Elliot. De repente, me caiu a ficha. Fui ver melhor o que disse Maurício. Diz que não foi homofóbico. Vítima de preconceitos de formação, ível em parte de compreensão, mas foi sim: homofóbico.

Fui pensar mais um pouco e entendi que a liberdade de expressão não é um direito absoluto, existe o limite da dignidade humana. Se questiona beijo gay, não importa a circunstância, está dizendo que não aceita gays.

Muitos liberais o defenderam, dizendo que Maurício fez uma crítica à política identitária, segundo eles, um movimento mundial que tenta impor identidades de minoria para a maioria. A política identitária seria um modo de a esquerda, ante a impossibilidade de uma revolução armada, fazê-la por dentro, minando valores predominantes na sociedade. Maurício foi mais básico: medo da influência do beijo gay em seus filhos pequenos.

Há um paradoxo na tese dos críticos da política identitária. Lembre: para os liberais, “a liberdade econômica é a mãe de todas as liberdades”. Pois bem. Em Billy Elliot, história de um menino inglês que resolve dançar balé, esse entendimento é posto à prova, assim como a tese da política identitária.

Billy e o pai

O pai de Billy, carvoeiro em uma das tantas minas em que a economia inglesa sindicalizada baseava sua riqueza, é contra o filho dançar balé. Ele trabalha numa mina de carvão, assim como o irmão de Billy, um destino inescapável. É uma vida de escravidão econômica: insalubre, danosa ao meio ambiente, sem perspectiva.

Vivem de extrair commodity, bem de origem primária que pode existir em qualquer lugar, uma riqueza natural que não favorece a criatividade e não expande as possibilidades econômicas e humanas. Ganham uma miséria para fazer um trabalho que lhes corrói os pulmões e abrevia a vida.

Billy não quer seguir a vida do pai. Tem um talento inesperado: gosta de dançar, atividade “incerta” para ganhar a vida. Pai e irmão não aprovam o balé, que, no íntimo, não consideram “coisa de homem”. Nunca verbalizam isso, mas fica claro que pensam assim. Ocorre que a paixão do garoto pela dança é mais forte. Ele não quer minerar, quer dançar. No fim, seu desejo acaba se impondo, ao ponto de pai e irmão o entenderem e aprovarem.

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O filme foi rodado dez anos depois de encerrado o governo da primeira-ministra Margareth Thatcher (1979-1990), defensora tão ferrenha do Liberalismo que ganhou o apelido de Dama de Ferro. O choque de Liberalismo promovido por Thatcher mudou a face da Inglaterra, despertando os ingleses para modos produtivos de vida mais criativos que viver de extrair um bem natural das profundezas da Terra. Com ela, a Inglaterra deu um salto de autoconfiança.

Em Billy Elliot a questão da sexualidade está presente. Mas não é um filme sobre sexualidade. É mais. É um filme sobre o bem maior do ser humano: a LIBERDADE. Justamente o maior ativo defendido pelos autênticos liberais, inclusive pelos que defendem Maurício, daí o paradoxo e o furo na defesa do atleta.

Liberdade é liberdade: as pessoas devem ter não apenas o direito de ser o que são, mas o dever, como Thatcher pregou e convenceu. Não se trata de ter opinião sobre algo, mas sim de respeitar a condição da pessoa em todas as suas nuances.

Na última cena do filme vemos o pai e o irmão de Billy na plateia do teatro em que este, agora adulto, vai dançar. Homens com aparência sofrida de carvoeiros que desciam para a escuridão das minas. Quando Billy adentra a ribalta, o pai, emocionado, engole em seco.

O filme termina com Billy no ar, após um salto de cisne.

Thatcher deve ter aplaudido. Tudo que ela desejou para a Inglaterra, e conseguiu, está simbolizado no salto de Billy. Triunfo da liberdade sobre as limitações. Vitória do espírito criativo sobre a acomodação.

Billy: como a Inglaterra, dá um salto

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Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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Brasil e mundo

CCJ do Senado aprova fim da reeleição para cargos do Executivo

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A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que acaba com a reeleição no Brasil para presidente, governadores e prefeitos foi aprovada, nesta quarta-feira (21), na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. A PEC 12/2002 ainda aumenta os mandatos do Executivo, dos deputados e dos vereadores para cinco anos. Agora, o texto segue para análise do plenário do Senado.

A PEC previa o aumento do mandato dos senadores de oito para dez anos, mas a CCJ decidiu reduzir o tempo para cinco anos, igual período dos demais cargos. A proposta ainda unifica as eleições no Brasil para que todos os cargos sejam disputados de uma única vez, a partir de 2034, acabando com eleições a cada dois anos, como ocorre hoje.

A proposta prevê um período de transição para o fim da reeleição. Em 2026, as regras continuam as mesmas de hoje. Em 2028, os prefeitos candidatos poderão se reeleger pela última vez e os vencedores terão mandato estendido de seis anos. Isso para que todos os cargos coincidam na eleição de 2034.

Em 2030, será a última eleição com possibilidade de reeleição para os governadores eleitos em 2026. Em 2034, não será mais permitida qualquer reeleição e os mandatos arão a ser de cinco anos.  

Após críticas, o relator Marcelo Castro (MDB-PI) acatou a mudança sugerida para reduzir o mandato dos senadores.

“A única coisa que mudou no meu relatório foi em relação ao mandato de senadores que estava com dez anos. Eu estava seguindo um padrão internacional, já que o mandato de senador sempre é mais extenso do que o mandato de deputado. Mas senti que a CCJ estava formando maioria para mandatos de cinco anos, então me rendi a isso”, explicou o parlamentar.

Com isso, os senadores eleitos em 2030 terão mandato de nove anos para que, a partir de 2039, todos sejam eleitos para mandatos de cinco anos. A mudança também obriga os eleitores a elegerem os três senadores por estado de uma única vez. Atualmente, se elegem dois senadores em uma eleição e um senador no pleito seguinte.

Os parlamentares argumentaram que a reeleição não tem feito bem ao Brasil, assim como votações a cada dois anos. Nenhum senador se manifestou contra o fim da reeleição.

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O relator Marcelo Castro argumentou que o prefeito, governador ou presidente no cargo tem mais condições de concorrer, o que desequilibraria a disputa.

A possibilidade de reeleição foi incluída no país no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1997, mudança que permitiu a reeleição do político em 1998.

“Foi um malefício à istração pública do Brasil a introdução da reeleição, completamente contrária a toda a nossa tradição republicana. Acho que está mais do que na hora de colocarmos fim a esse mal”, argumentou Castro.

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Brasil e mundo

Um homem coerente

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Eis um homem que irei pela absoluta coerência entre o que pensava e o modo como viveu. Um homem de esquerda que me fazia parar para ouvi-lo, porque o que dizia tinha solidez e fazia pensar.

Não precisava concordar com ele para irá-lo. E sim: um homem de esquerda que nunca roubou. Foi uma pessoa rara. Eu diria, única.

Vivia num sítio, dele de fato, com o essencial. Na companhia da mulher e de cachorros. Só tinha um defeito: andava em má companhia internacional. Talvez por um motivo humano. Para se sentir menos sozinho do que era. Menos prisioneiro de suas convicções.

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