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Brasil e mundo

Maurício, o beijo gay do novo Super-Man e os preconceitos

Foi uma tolice? Para mim, no frigir dos ovos, foi. Que diferença faz se Super-Homem é hetero ou gay? Nenhuma. O que importa é o trabalho que ele faz.

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Pela primeira vez o “cancelamento” de uma pessoa, por opinião reprovável pelo politicamente correto, me despertou mal-estar.

É complicado… Vou tentar me explicar.

O jogador de vôlei Maurício postou nas redes um quadrinho-divulgação da DC Comics de um beijo gay do filho do Super-Homem no namorado, perguntando: “Para onde estamos indo?”

Acabou punido com a perda do emprego no Minas Tênis Clube, após a ameaça da retirada de patrocínios fundamentais. Sumário.

Vi a foto de Maurício, em quem identifiquei um espanto qualquer, uma expressão parecida com a de presos fotografados na polícia.

Discordo da manifestação, embora veja fundamento (crítica à política identitária). Pareceu-me ambígua o suficiente para sugerir preconceito, apesar de seu direito à expressão.

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Mas hoje está assim, uma “bola fora” e pronto: por causa de um “deslize”, toda uma vida de qualidades e superações é apagada. Foi fora mesmo a bola ou terá batido na linha?

Receoso de consequências, pediu desculpas. Usou uma rede com menos seguidores que a da postagem original, ando a ser chamado, agora, de covarde. Confuso, tornou a invocar seu direito de expressão, mas era tarde: CANCELADO.

Vê: não estou a advogar por ele. Estou dizendo que a situação pela qual ou me pareceu exagerada para o que ele fez.

Alguém ainda duvida que o homem erre pelos séculos, acerte, erre de novo? Assim é porque o homem, como espécie, é precário, e, sendo assim, não pode ser responsável pelo que sente. Pelo menos assim eu vejo.

Vou tentar explicar adiante por que considero que errou o alvo.

Critica à politica identitária

Nem todo mundo concordou, igualmente, com o cancelamento. Muita gente pensa que não manifestou preconceito ao personagem gay, mas sim ao movimento crescente de transformar tudo em política identitária (“de repente as pessoas não têm mais o direito de ser hétero?“).

Da noite para o dia, Maurício ganhou 1 milhão de seguidores. Se o continuarem cancelando, encontrou uma massa de apoiadores capaz de levá-lo ao Congresso Nacional.

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Primeira infância

Ao menos na primeira infância, as diferenças comportamentais não são um problema. Bebês e primos infantes não percebem nem a si mesmos, vivem como se estivessem paradoxalmente mortos, numa espécie de antecipação terrestre do paraíso cristão.

A partir de certo momento, por alguma razão que estudiosos de psicologia veem como fruto do processo de “desenvolvimento”, a criança começa a perceber, além de si, as “diferenças entre os semelhantes”, e a se agrupar em tribos.

Em certo ponto parecemos fundar e firmar a nossa personalidade sobre preconceitos, rejeitando condutas nos outros, inclusive pelo exemplo dos pais. É uma falha do desenvolvimento, mas é assim.

E é uma falha porque a rejeição ao outro é cruel. Negar a vida como ela é?

Olha em volta e confirmarás uma famosa fala de filme: “Tudo se dá de maneira tão imprevisível, tão injusta, que a felicidade não parece ter sido incluída na Criação.”

O mistério da sexualidade

Se o novo Super-Homem que sucederá o pai supostamente machão (supostamente, por causa do conjuntinho azul e da capa vermelha), gosta de meninas e meninos é um direito de seu criador, e não há nada de errado nisso. Ser bi ou gay não diminui ninguém. As pessoas são como são.

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A sexualidade sempre foi um mistério, como costumavam ser misteriosos os próprios Super-Heróis, dos quais a vida sexual nunca foi motivo de interesse público, a não ser por especulações tolas, como a suscitada em relação a Batman e o Menino Prodígio, parceirão Robin, sempre pronto a apoiar o Morcegão, ainda assim um “prodígio”.

Por resultado daquelas distorções que nos afastaram do paraíso dos primeiros anos da nossa vida, um barbado Maurício resolveu questionar o beijo do filho do Super-Homem em outro garoto. Foi uma tolice? Para mim, no frigir dos ovos, foi. Que diferença faz se Super-Homem é hetero ou gay? Nenhuma. O que importa é o trabalho que ele faz.

Pergunto-me, porém, se igualmente não é uma estupidez a severidade da reação; se, em vez de apagar a pessoa, não deveríamos ser mais compreensivos com os equívocos de formação a que todos estamos submetidos.

De novo, Maurício, até onde vi, não foi agressivo. Fez uma pergunta incômoda, apenas isso. E deveria ter o direito de fazê-la. Homofobia é crime, ok! Se na postagem houve crime, me pergunto se é justa a pena de morte numa fase em que a tipificação é nova.

Se o preconceito é um pilar estrutural da psicologia, creio que deveríamos ter a humildade de procurar entender certos gestos com maior serenidade.

Intimo e pessoal

Sou do tempo em que os personagens de histórias de quadrinho eram eternos. Uma vez criados, nunca envelheciam. Também não mudavam de personalidade nem de estado civil. Se surgiam solteiros, continuavam assim. Os Super-Heróis eram os mesmos tipos heroicos, misteriosos e solitários. Também não havia sexo, apenas aventura, conflitos e resoluções, com o bem vencendo o mal.

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Não havia ainda revelação de identidades, muito menos de intimidades, pois não vinham ao caso. A regra na vida real também era assim: impulsos de julgamento podiam ser sentidos, não verbalizados. Nunca foi perfeito, mas costumava haver um respeito, uma etiqueta de convivência social. Ao menos era assim, sempre me pareceu certo que assim fosse, ainda me parece.

Até pouco mais de 10 anos, antes do surgimento das redes sociais, as intimidades eram artigo de luxo. Costumava-se dizer com orgulho: “Eu não devo satisfações a ninguém”. De repente, todo o mundo ou não apenas a dar satisfações públicas sem ninguém pedir, mas a tirá-las uns dos outros.

Talvez seja uma nova fase do desenvolvimento, dar vazão a rancores recalcados por séculos. Mas me pergunto se não deveríamos fazer um esforço para compreender as intolerâncias que todos somos íveis de manifestar, especialmente quando estamos zangados. Não se mudam comportamentos de uma hora para a outra, exige esforço, tempo. De repente parecemos todos muito confusos e ansiosos por inclusão, talvez não por acaso numa hora em que o mundo está mais hostil economicamente.

Saudades do Paraíso

Tenho que o desassombro e o respeito em relação aos outros deveriam ser a próxima etapa, posterior a da rejeição dos comportamentos, que começamos a exercitar em certo ponto da infância, por razões tão inexplicáveis como a própria vida. Será que estou idealizando as possibilidades humanas?

Às vezes minha impressão – o que explicaria as atuais exaltações – é de que, depois de tantos rosários de injustiças, andamos com saudades do tempo em que éramos bebês e conhecíamos o paraíso, sem nos darmos conta dele. Alguma memória parece ter ficado como registro de um tempo em que aceitávamos uns aos outros sem julgamento, sem precisar apelar para a necessidade de pregar rótulos na testa de ninguém para que nos sentíssemos distintos.

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Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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Brasil e mundo

CCJ do Senado aprova fim da reeleição para cargos do Executivo

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A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que acaba com a reeleição no Brasil para presidente, governadores e prefeitos foi aprovada, nesta quarta-feira (21), na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. A PEC 12/2002 ainda aumenta os mandatos do Executivo, dos deputados e dos vereadores para cinco anos. Agora, o texto segue para análise do plenário do Senado.

A PEC previa o aumento do mandato dos senadores de oito para dez anos, mas a CCJ decidiu reduzir o tempo para cinco anos, igual período dos demais cargos. A proposta ainda unifica as eleições no Brasil para que todos os cargos sejam disputados de uma única vez, a partir de 2034, acabando com eleições a cada dois anos, como ocorre hoje.

A proposta prevê um período de transição para o fim da reeleição. Em 2026, as regras continuam as mesmas de hoje. Em 2028, os prefeitos candidatos poderão se reeleger pela última vez e os vencedores terão mandato estendido de seis anos. Isso para que todos os cargos coincidam na eleição de 2034.

Em 2030, será a última eleição com possibilidade de reeleição para os governadores eleitos em 2026. Em 2034, não será mais permitida qualquer reeleição e os mandatos arão a ser de cinco anos.  

Após críticas, o relator Marcelo Castro (MDB-PI) acatou a mudança sugerida para reduzir o mandato dos senadores.

“A única coisa que mudou no meu relatório foi em relação ao mandato de senadores que estava com dez anos. Eu estava seguindo um padrão internacional, já que o mandato de senador sempre é mais extenso do que o mandato de deputado. Mas senti que a CCJ estava formando maioria para mandatos de cinco anos, então me rendi a isso”, explicou o parlamentar.

Com isso, os senadores eleitos em 2030 terão mandato de nove anos para que, a partir de 2039, todos sejam eleitos para mandatos de cinco anos. A mudança também obriga os eleitores a elegerem os três senadores por estado de uma única vez. Atualmente, se elegem dois senadores em uma eleição e um senador no pleito seguinte.

Os parlamentares argumentaram que a reeleição não tem feito bem ao Brasil, assim como votações a cada dois anos. Nenhum senador se manifestou contra o fim da reeleição.

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O relator Marcelo Castro argumentou que o prefeito, governador ou presidente no cargo tem mais condições de concorrer, o que desequilibraria a disputa.

A possibilidade de reeleição foi incluída no país no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1997, mudança que permitiu a reeleição do político em 1998.

“Foi um malefício à istração pública do Brasil a introdução da reeleição, completamente contrária a toda a nossa tradição republicana. Acho que está mais do que na hora de colocarmos fim a esse mal”, argumentou Castro.

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Um homem coerente

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Eis um homem que irei pela absoluta coerência entre o que pensava e o modo como viveu. Um homem de esquerda que me fazia parar para ouvi-lo, porque o que dizia tinha solidez e fazia pensar.

Não precisava concordar com ele para irá-lo. E sim: um homem de esquerda que nunca roubou. Foi uma pessoa rara. Eu diria, única.

Vivia num sítio, dele de fato, com o essencial. Na companhia da mulher e de cachorros. Só tinha um defeito: andava em má companhia internacional. Talvez por um motivo humano. Para se sentir menos sozinho do que era. Menos prisioneiro de suas convicções.

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