Connect with us

Cultura e entretenimento

Cherry – Inocência perdida

Publicado

on

Mundialmente conhecidos graças ao sucesso da saga final dos Vingadores em Guerra Infinita e Ultimato, os irmãos Anthony e Joe Russo estão de volta com Cherry – Inocência Perdida, estreia da Apple TV+.

Primeiro filme dirigido pela dupla após 5 anos dedicados a 4 filmes da Marvel, Cherry acompanha um ex-médico do exército (Tom Holland) que sofre de transtorno de estresse pós-traumático ao retornar do Iraque. Ao tentar lidar com a doença, ele vira assaltante de bancos para sustentar seu vício em drogas.

Baseado no livro de Nico Walter e com roteiro de Jessica Goldberg e Angela Russo-Otstot, o filme é narrado pelo protagonista e dividido em capítulos, desde sua juventude, ando pelo seu casamento com Emily (Ciara Bravo) até retornar do Iraque. O filme entrega uma história de caos, tanto na vida do protagonista como na forma que os irmãos Russo utilizam para contá-la.

A trama aborda a dificuldade que os soldados norte-americanos têm em se readequar à sociedade no período pós-guerra. O problema é que os momentos em campo no Iraque duram muito pouco tempo, pois é ali que os traumas e os efeitos da guerra causam uma mudança de vida brutal e inesperada no protagonista. Durante os outros momentos do longa, observamos cenas em câmera lenta, músicas clássicas que sobrepõem diálogos e momentos excessivamente dramáticos.

Com isso, o filme se perde em meio às diversas subtramas, como seu relacionamento com Emily. Afinal, há poucas informações sobre os personagens e como eles eram antes do relacionamento. Em acontecimentos repetitivos e desgastantes, não conseguimos sentir empatia pelo casal, visto que a falta de dinâmica na direção dos Russo parece se preocupar mais no estilo, abusando de cortes, edição frenética, narração em off, quebra da quarta parede, além de tons e estéticas diferentes. O problema é que eles usam tantas técnicas que acabam deixando o enredo em segundo plano.

O filme realmente se sustenta pelo talento e pela dedicação de Tom Holland, que consegue variar e entregar uma boa atuação, que vai desde um garoto tímido, um soldado do exército, um viciado em drogas e um ladrão de bancos. Apostando em papeis mais sérios e intrigantes que contrastem com o seu Homem-Aranha, o ator acerta mais uma vez no tom sombrio, como visto anteriormente em O Diabo de Cada Dia.

Visualmente atraente, Cherry – Inocência Perdida não consegue entregar uma narrativa consistente e interessante. Um filme com qualidades e muito potencial, mas que, em quase duas horas e meia de projeção, acaba se tornando cansativo.

Publicidade

Déborah Schmidt é servidora pública formada em istração/UFPel, amante da sétima arte e da boa música.

Publicidade
Clique para comentar

Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

Publicado

on

Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

Publicidade

Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

Continue Reading

Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

Publicado

on

Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

Publicidade

A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

Publicidade

Continue Reading

Em alta

Copyright © 2008 Amigos de Pelotas.

Descubra mais sobre Amigos de Pelotas

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter o ao arquivo completo.

Continue reading