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Cultura e entretenimento

Cinema: Soul, uma animação madura e inspiradora

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Por Déborah Schmidt |

Soul acompanha Joe Gardner (Jamie Foxx), um professor de música frustrado que morre após conseguir a chance de tocar no show que mudará sua carreira. Já no outro plano, ele se dá conta de que não aproveitou sua vida e se recusa a aceitar que morreu. Com a ajuda de 22 (Tina Fey), uma alma que ainda não nasceu, Joe deverá ajudá-la a encontrar seu propósito na Terra.  

Devido à pandemia, o filme estreou diretamente no Disney+, e leva o espectador a uma jornada pelas ruas de Nova York e pelo “pós-vida”.

Dirigido por Pete Docter (vencedor do Oscar por Up e Divertida Mente) e co-dirigida por Kemp Powers, o roteiro da dupla, juntamente com Mike Jones, mostra uma aventura colorida e fantasiosa, mas com aquele toque humano que a Pixar vem mostrando em suas produções mais recentes, que exploram emoções, luto e relacionamentos.

Mais uma vez, o estúdio recorre à ideia de um personagem que precisa encontrar seu caminho de volta pra casa, o que não significa falta de criatividade. Muito pelo contrário; afinal, o filme acerta ao inovar a sua tradicional forma de contar histórias. Aqui, vemos o cotidiano de um sujeito comum, para depois vivermos uma história com muitas camadas, resultando em uma experiência transformadora que nos faz refletir sobre nossas próprias escolhas.

Quando Joe repensa suas escolhas, toda sensibilidade da trama só é sentida graças à ajuda de outra personagem que não só dá novos rumos ao protagonista como também ao filme. A pequena 22 é uma alma que nunca encontrou seu verdadeiro propósito e que, após vivenciar muitas reprovações, perdeu a vontade de começar uma vida na Terra.

Enquanto Joe segue firme em seu sonho de ser músico, 22 se encanta por pequenos detalhes da rotina de Nova York, como um pedaço de pizza ou observar as folhas seguindo o vento. A dinâmica entre os dois deixa a narrativa ainda mais ágil, dosando humor e drama com maestria.  

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Com personagens carismáticos e cheios de personalidade, o longa é rico em detalhes. A fotografia é repleta de luzes que criam nuances belíssimas, e a inspirada direção de arte constrói um universo inteiro usando o minimalismo e personagens secundários em 2D e em 3D. Porém, é a música que faz mergulhar na história.

Em um filme que evoca a relação entre a música e a alma no seu título, a trilha sonora da dupla Trent Reznor e Atticus Ross é impecável em seus arranjos, assim como as fantásticas composições de jazz do pianista Jon Batiste.  

Ao apresentar o primeiro protagonista negro da Disney/Pixar, Soul abraça questões existenciais, apresentando uma mensagem final verdadeiramente simples e humana. Uma animação madura, emocionante e inspiradora, que faz refletir sobre como vemos a vida.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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