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Cultura e entretenimento

…CAMINHADA… Por Neiff Satte Alam…

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Peregrino

Os primeiros os eram mais complicados. Os obstáculos, mesmo que pequenos, dificultavam este início de caminhada, rastejando e engatinhando por entre arbustos e valetas produzidas por enxurradas anteriores, os músculos, mais do que sofrendo, iam se fortificando para momentos de maior dureza desta caminhada.

O destino será a recompensa, pois o ponto final da caminhada é um deslumbrante … bem, apenas acompanhemos a caminhada.
O mais árduo e difícil ainda estava por vir. Rios de complicada travessia que exigiriam construção de pontes ou barcos, embora muitos, apressados e impacientes, terminassem por atravessar a nado; montanhas com escarpas perigosas e grande presença de animais peçonhentos ainda teriam de ser enfrentadas; alguns vales mais amenos e planícies irrigadas por mansos lagos e riachos acolhedores também ali estariam para, como verdadeiros oásis, permitir aos caminhantes tomar fôlego e recuperar energias para enfrentar os próximos obstáculos.

Outros rios, desertos de areia grossa e pedras com arestas afiadas e faces lisas e quentes ainda eram obstáculos a serem enfrentados. Já com os mais firmes, aprendidos desde os tempos em que rastejar e engatinhar eram as formas mais fáceis de avançar, os árduos e por vezes agradáveis caminhos iam sendo percorridos com coragem e determinação.

Muitos caminhantes ficavam pelo caminho e suas covas primitivas, mais do que lembranças, eram pontos importantes de orientação para os que vinham atrás, que se permitiam usar um bom tempo para reverenciar aqueles pioneiros que abriram os primeiros caminhos, mas não chegaram ao destino.

Aos poucos o terreno foi ficando menos acidentado e as bordas de uma floresta foram se delineando. Novos obstáculos, já quase no fim da caminhada, apresentavam-se aos caminhantes.

A floresta era densa. Entre arbustos, um solo repleto de folhas mortas e grandes árvores que concorriam pelo sol, as trilhas iam sendo abertas, mesmo ao som de rugidos de feras e ruídos de pequenos animais que se esgueiravam por entre galhos e cipós, os caminhantes avançavam aproveitando marcas importantes de informação dos outros que por ali já haviam ado.

Repentinamente, como um e de mágica, ao descortinarem as folhas de uma enorme árvore, ali estava ponto de chegada. Uma enorme cachoeira lançava uma água morna sobre um pequeno lago cujas margens eram formadas por uma areia fina e alva. Pássaros, borboletas com suas asas coloridas que se confundiam com o arco-íris da cachoeira e alguns outros animaizinhos que bebiam a límpida água do lago disputavam espaço harmoniosamente com viajantes que já lá estavam, que, como nós, enfrentaram adversidades as mais variadas, mas conquistaram o direito a este paraíso terrestre que é o descanso merecido de todos, embora alguns tenham ficado pelo caminho perecendo pela ousadia de preparar nossa caminhada.

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E assim que, desde os primeiros os dos bebês até o descanso merecido dos velhos, os homens vão usufruindo da sabedoria adquirida pela experiência dos mais velhos, beneficiando-se das adversidades como aprendizado e lutando pela tranquilidade de um fim de vida terrena.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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