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Cultura e entretenimento

MANK, a história do roteirista de Cidadão Kane e sua disputa com Orson Welles

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Mank acompanha a história do roteirista Herman J. Mankiewicz (Gary Oldman), responsável por Cidadão Kane (1941), e sua disputa com Orson Welles pelo crédito do roteiro do filme.

Mank

Dirigido por David Fincher para a Netflix, o longa é uma das obras mais intimistas e autorais do diretor. Isso porque o roteiro foi escrito por seu pai, Jack Fincher, que o desenvolveu junto com o filho durante muitos anos. Ao explorar a reconexão com o ado do protagonista, o filme analisa os relacionamentos que o inspiraram a escrever, ilustrando o cenário político-social da década de 30, além, claro, na busca do autor por aprovação e perfeição.  

Herman Mankiewicz, ou simplesmente Mank, foi roteirista creditado por Cidadão Kane, e vencedor do Oscar de roteiro original ao lado de Welles, mas que se absteve do reconhecimento em diversos filmes, como O Mágico de Oz. Vemos também personagens importantes para a criação de Cidadão Kane, como o diretor Orson Welles (Tom Burke), o empresário e dono do estúdio MGM Louis B. Mayer (Arliss Howard), o magnata da mídia William Hearst (Charles Dance) e Marion Davies (Amanda Seyfried), uma das grandes atrizes de Hollywood na época, que levou o roteirista à rivalidade com Hearst, seu marido. (Marion, aliás, seria a verdadeira “Rosebud”). A polêmica de Hearst e Mank resulta em uma das melhores cenas do filme, em um monólogo do protagonista bêbado em um jantar. A outra controvérsia é referente ao próprio roteiro de Cidadão Kane, já que o diretor sempre falou que escreveu o texto em conjunto com Mank. Porém, o filme de Fincher foca inteiramente no processo em que apenas o protagonista o desenvolve, na companhia de sua secretária e datilógrafa Rita Alexander (Lily Collins).  

Através de uma narrativa não linear, o filme torna-se cansativo após sua longa duração de mais de 2 horas. A produção dá mais destaque para a Era de Ouro de Hollywood do que para a jornada de Mankiewicz e, para isso, David Fincher procurou criar a mesma estética cinematográfica. O longa foi filmado em câmeras digitais, mas as cenas foram tratadas para parecerem uma película envelhecida, com tudo filmado em preto e branco, e até os créditos mostram como o diretor trouxe toda a linguagem audiovisual dos filmes dos anos 30 e 40. Além disso, a trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross foi criada utilizando apenas os instrumentos musicais que estavam disponíveis na época.  

O sempre fantástico Gary Oldman tem tudo para conquistar sua terceira indicação ao Oscar ao viver um personagem adúltero, alcóolatra e inconsequente. Por meio de flashbacks e do período em que está escrevendo o roteiro, o filme leva o espectador a conhecer a trajetória pessoal e profissional de um homem genial e cheio de defeitos. Quem também deverá receber uma indicação ao Oscar é Amanda Seyfried, que se destaca como Marion Davies, distribuindo carisma em cena.  

Em seu final, a sensação que fica é de que algo está faltando, principalmente com o personagem principal. É um filme que falha ao explorar o seu próprio personagem-título, carecendo de consistência entre relatar fatos de sua vida e as inspirações que o levaram a escrever uma das obras-primas do cinema. O longa acerta ao mostrar o cenário de Hollywood da época, mas como estudo de personagem, falta densidade e complexidade. O filme ainda discute visões políticas, inserindo paralelos atuais na disputa entre republicanos e democratas, e até mesmo entre socialismo e comunismo.  

Tecnicamente brilhante, Mank é um tributo à Era de Ouro de Hollywood. Um filme que exala beleza, e ao mesmo tempo que mostra menos do que deveria da jornada de seu protagonista, coloca os devidos holofotes em quem sempre esteve na sombra, negado de seu maior feito.

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Déborah Schmidt é formada em istração de empresas e servidora

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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