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Cultura e entretenimento

Reflexões de um professor

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Quando olhamos nossa imagem multiplicada infinitas vezes em um conjunto de espelhos adequadamente colocados, não estamos vendo apenas cópias projetadas ao infinito, mas cada uma destas cópias poderá estar copiando um de nossos vários “eus” instalados em bilhões de neurônios e que se manifestarão de acordo com as motivações e estimulações a que estivermos submetidos.

Somos na verdade fragmentos conectados e que se manifestarão de acordo com conveniências, disponibilidades e pressões de forças internas e externas que comandam nossas ações e serão tão melhores quanto mais domínio tivermos sobre estas forças.

Dar significado a estas diferentes variações de nossos eus é uma tarefa de aprendizagem que começa ainda no útero materno e só terminará quando fecharmos definitivamente os olhos e nossos pensamentos, expressos em atos e palavras, sobrarem dentro das esferas de neurônios daqueles que participaram das manifestações de cada um de nossos eus, seguimos vivendo, então, na lembrança dos que ficaram e muitos de nossos eus se somarão a estes e nossa existência se perpetuará . Faremos parte da esfera de pensamentos da humanidade, a noosfera.

Se deitarmos olhar para nossos anteados, seguindo a mesma linha de raciocínio, teremos a perfeita noção que não apenas biologicamente, mas também pelo pensamento, somos a soma das perfeições e imperfeições dos eus que formaram nossos pais, avós e todos que os cercaram durante suas existências terrenas.

Logo, em pensamento, carregamos vários eus de nossos anteados. Temos a tarefa/missão de melhorar, aprimorar e legar aos nossos descendentes cada um de nossos milhares de fragmentos conectados e harmonizados para que a simetria das infinitas imagens dos espelhos mantenha-se em um processo de auto-equilíbrio dinâmico e promova a melhoria da espécie, não apenas na sua estrutura biológica, mas principalmente na sua forma de ser, permitindo que a cada geração surjam pessoas melhores e que possam ter conhecimento de seus vários eus e utilizá-los para o desenvolvimento da humanidade por caminhos justos e perfeitos e que sejam polidas a partir das pedras brutas que são, mas que possuem em seu interior a sabedoria acumulada da humanidade da qual fazemos parte.

O único cuidado que teremos que ter é o de não quebrarmos nenhum destes espelhos, pois estaríamos desconectando partes importantes para que haja continuidade entre os vários eus sobrepostos, entrelaçados em rede e harmonizados, nossas redes individuais conectadas com as demais redes humanas. Não somos máquinas de pensar, somos pensamentos que criam as máquinas que nos facilitarão pensar e serão periféricos de todos os nossos eus e que nos conectarão a grande rede de pensamento da humanidade. Nossa individualidade só existe estável quando equilibradamente conectada interna e externamente. Isto é o que chamamos de Vida.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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