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Cultura e entretenimento

“Contos de realidades”. Por Luciara Robe da Silveira

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Luciara Robe da Silveira, promotora

Luciara

Ultimamente, tenho refletido muito a respeito das causas que levam homens e mulheres a irem em busca do seu par com propósitos muitos distintos, ambos despreparados e afastados do ideal comum que deveria nortear a escolha de uma forma de viver a dois.

A raiz desse problema radica lá na infância, possivelmente na primeira infância, em que elas são levadas a acreditar que são princesas, vestem-se como tais e ouvem os contos de fadas em que todas elas, após ter uma vida de sofrimento e injustiças, encontram, ao final, o príncipe encantado, que lhes resgatará dessa vida de problemas e, após casarem, lhes assegurarão a felicidade como prêmio. Vai aí impresso na alma feminina um preconceito sobre sua incapacidade de buscar a própria felicidade, de fazer suas escolhas, e a possibilidade de postergar ou mesmo eliminar de sua vida a opção de formar um par.

Aí está a causa pela qual meninas engravidam precocemente, ainda na adolescência. Embora muitos pensem que isso aconteça por descuido ou desinformação, pesquisas revelam que o fazem deliberadamente. Por outro lado, é de se analisar, também: o que acontece com eles? Ouvem falar desses contos de fadas, embora nenhum pai se disponha a lhes contar a mesma história. Sabem que sua posição é diferente.

Eles crescem acreditando que são para as princesas a solução de suas vidas. Porém, longe de serem preparados para cumprir com esse importante desiderato de fazê-las feliz – se é que isso é possível – desde tenra idade são estimulados a irar seus atributos físicos e instruídos sobre o que devem fazer para despertar seu interesse, seduzi-las.

Já ouvi relatos de que pais, preocupados com que seus filhos desenvolvam bem seu lado varonil, já nos primeiros dias de frequência à escola, lhes perguntam que tal é a professora ou se já olhou para as coleguinhas da sala, fazendo com que se insinue, muito cedo, precocemente, o domínio do instinto sobre suas predileções, de forma tal que chega a atrapalhar, para sempre, o desenvolvimento do nobre sentimento do amor.

Os preconceitos enraizados na infância sobre a vida do homem e da mulher são as causas dos desencontros, dos conflitos e do insucesso da vida conjugal

Evidentemente, os preconceitos enraizados na infância sobre a vida do homem e da mulher são as causas dos desencontros, dos conflitos e do insucesso da vida conjugal, quando não da violência e de outras formas de opressão que, especialmente, elas, acabam sofrendo.

O que fazer, então, para que se deixe de vivenciar dramas tão amargos na vida a dois: violência, traição, desilusões?

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Seria oportuno rasgar os contos de fadas ou mudar sua versão para algo que esteja mais a tom com a realidade da vida. Trocar os contos de fadas por contos de realidades, que bem poderiam ser escritos com base no registro de experiências que as mulheres já viveram, sem acentuar seus dramas, mas dando ênfase ao que aprenderam com eles.

Preparar as meninas para que saibam que a felicidade de homens e mulheres se alcança com o conhecimento que cada um deve ter de suas possibilidades e de como desenvolvê-las. Preparar os meninos para que possam ver nas mulheres não somente um objeto a estimular seus apetites instintivos, mas um ser que contém uma alma com atributos que a colocam em condições de compartilhar com ele a vida na base do desenvolvimento de sentimentos elevados: respeito, afeto, confiança e reciprocidade, permitindo que ambos facilitem, reciprocamente, suas vidas e construam, juntos, a tão sonhada ponte que conduz a felicidade do par.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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