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Mais cedo, nesta sexta-feira (21), o PSDB divulgou uma nota em nome dos partidos governistas da cidade, informando que o vereador Roger Ney, do PP, foi o escolhido por aclamação deles para ser o vice na futura chapa de Paula Mascarenhas à reeleição para a prefeitura. Uma novela.
Ney “parecia fora”, por causa de alguns movimentos de uma ala do PP no rumo da candidatura própria a prefeito. Por isso, não deixa de ser uma certa surpresa. Só não é uma grande surpresa porque, em política, os gestos são muito calculados. Ney, de repente, ganhou maior chance justamente por causa daqueles movimentos. Vai saber…
Por que mesmo Ney, na verdade o PP, foi escolhido? Pelos belos olhos seguramente não foi.
Afinal, o que vem pretendendo o PP no processo? A cogitação é inevitável, por conta de pré-acontecimentos a que temos assistido.
No dia 2 de agosto, baseados num artigo do Estatuto Interno do Partido (que permite realizar pré-convenção por iniciativa de mais de um terço dos membros do Diretório), o PP fez uma pré-convenção. Nela, por 28 votos a dois, os participantes aprovaram indicativo de futura candidatura própria a prefeito e, para o posto, o nome do ex-prefeito Adolfo Fetter Jr.
Presidente do PP em Pelotas, Ney, que há muito ventila o desejo de ser vice de Paula, rebelou-se contra a pré-convenção e foi à Justiça. Hoje, 21 de agosto, por ação judicial de Ney, veio a notícia de que a pré-convenção do PP foi suspensa: a justiça interpretou que, embora convocada por mais de um terço do diretório, não poderia ter sido realizada porque não teve aval da direção do Diretório.
É tanta insegurança jurídica que o cidadão comum fica perdido.
A pré-convenção do PP pode ter perdido efeito formal, mas talvez efeito prático tenha havido, materializado, aparentemente, na escolha de Ney para secundar Paula na futura chapa da Situação, e – talvez mais importante que isso – pode tê-lo legitimado diante dos outros demais pretendentes a vice, que acabaram descartados.
Embora pareça óbvio, aparentemente os tucanos escolheram Ney pensando em anular uma possível candidatura Fetter e evitar uma hipotética dissensão que, a depender de composições partidárias, poderia comprometer a reeleição de Paula.
O fato é que, ao ser escolhido, Ney triunfou sobre os integrantes de outros cinco partidos que também haviam indicado nomes para a vaga de vice – e aqui talvez, de novo, esteja um ponto central: a “ameaça Fetter” foi uma ótima razão para que os demais partidos que cobiçavam pra valer a vaga de vice não se incomodassem de perdê-la para o PP, mantendo-se aglomerados por isso. Cálculo?
Na sequência do anúncio de Ney como preferido para vice dos tucanos, o secretário-geral do PP, Paulo Gastal, enviou à imprensa uma nota lembrando que a decisão final, porém, só virá na convenção – e que permanece o indicativo de candidato próprio, Fetter. Diante das idas e vindas, o leitor talvez se pergunte: Qual o motivo de o PP ter feito pré-convenção se, afinal, só a convenção é que tem o poder definitivo de decidir o futuro de um partido numa eleição?
Se for um pouco imaginativo, talvez se indague:
Terão sido momentos diversivos, apenas com a intenção final de valorizar o PP e obter a vaga de vice para o partido, por meio de Ney, e mais nacos de poder para a agremiação na prefeitura, quem sabe no governo do estado, dirigido pelo tucano Eduardo Leite, justificar a opção pelo PP para vice e afastar os melindres dos demais partidos aliados? Ou não é nada disso e é pra valer que uma suposta maioria do PP quer de verdade concorrer a prefeito com Fetter? E ele, quererá?
São cogitações até um pouco deselegantes com as pessoas envolvidas, mas, como a política é cheia de lances e nem sempre uma coisa é o que parece, são questões plausíveis de serem feitas.
Nesta altura dos acontecimentos, após o anúncio informal de Ney como vice preferencial de Paula, o que fará o PP? A maioria que deu as caras na pré-convenção se manterá, na convenção, com aquela mesma decisão por independência. Existirá mesmo uma maioria geral no partido pró-candidato próprio, pró- Fetter? Havendo, o que acontecerá com os progressistas que ocupam, há anos, 50 cargos na prefeitura? Deixarão o governo para se juntar à possível candidatura Fetter?
Qual será a posição dos demais partidos com cargos no Governo se, eventualmente, decidirem, em suas convenções, apoiar o PP, se a convenção progressista de fato aprovar candidato próprio, Fetter?
Se tem tido tempo de acompanhar os desdobramentos da sucessão eleitoral neste momento de pandemia, o eleitor provavelmente esteja confuso. Talvez nem cabeça para isso tenha.