Connect with us

Opinião

“Escolhas públicas. Quanto vale uma vida?” Por Rodrigo Sousa Costa

Publicado

on

Rodrigo Sousa Costa, vice-presidente da Federasul

A vida não tem preço, não há bens materiais que preencham o vazio das pessoas que amamos, mas para quem perde um familiar por não ter atendimento adequado, é possível identificar, na soma daquilo que faltou (leitos, médicos, remédios), qual valor teria sido suficiente para salvar aquela vida.

Em resposta ao recente artigo onde questionamos o uso dos primeiros R$ 22 milhões da ajuda federal para Pelotas em função da pandemia, com R$ 19,5 milhões alocados prioritariamente na limpeza urbana e na folha de pagamento dos servidores públicos, a Secretaria de Saúde municipal afirmou “Em Pelotas o que falta na saúde, neste momento, não são recursos financeiros, são recursos humanos. De que vale se dispor de dezenas ou centenas de leitos de UTI e nenhum profissional capaz de monitorá-los com a qualificação indispensável?

Para quem perde um familiar por não ter atendimento adequado, é possível identificar, na soma daquilo que faltou, qual valor teria sido suficiente para salvar aquela vida

    No entanto, ao analisar os três editais para contratação de profissionais da saúde de Pelotas durante a pandemia -, que tiveram baixíssima procura e nos deixaram com dinheiro no caixa e sem as equipes médicas nas UTIs -, fiz algumas observações.

    Considerando a gravidade da pandemia, a remuneração de R$ 1.045,00 para uma carga semanal de 30 horas a um técnico de enfermagem que vai arriscar sua vida, num ambiente contaminado, para salvar as nossas vidas, seria uma proposta razoável? Pergunto ainda se algum médico vai sair do Norte e Nordeste do País, onde a pandemia arrefece, para atender editais que pagam R$ 75,00/hora de plantão ou mesmo os R$ 120,00/h que ainda pretendem propor em agosto?

    Oferecendo uma remuneração baixa pelo risco e estresse em contrato temporário (que pode ser rescindido a qualquer tempo pela Prefeitura), angariamos apenas o desinteresse dos profissionais de saúde em três editais consecutivos, justificando não investir na construção de novos leitos de UTIs, indispensáveis para salvar vidas em 2020 e nos próximos anos.

    O raciocínio é bem simples: os valores oferecidos são menores do que uma consulta médica ou mesmo de vários serviços em salão de beleza, num momento único, onde ter ou não ter o atendimento correto representa a diferença entre a vida e a morte. O argumento de que contratações emergenciais precisariam estar respaldadas pela similaridade com a baixa remuneração histórica de servidores de carreira não se sustenta, pois trata como iguais, situações absolutamente distintas, como se esta pandemia não fosse uma excepcionalidade mundial.

    Para quem se envolve com a saúde em Pelotas nos últimos anos, vendo pacientes amontoados no corredor do Pronto Socorro Regional todos os invernos, a afirmação da Secretaria de Saúde em seu artigo de que “apenas construir leitos teria sido uma irresponsabilidade com os pacientes, com o dinheiro público e com os escassos e dedicados profissionais de saúde que já cuidam dos leitos SUS de que dispomos…” avaliada em conjunto com os editais de contratação temporária,- incapazes de valorizar mesmo funções vitais num momento único e crucial-, diz muito sobre a gestão da saúde, como chegamos até aqui e como vamos continuar em 2021.

    Publicidade

    “Lockdown em Pelotas: Todas as vidas importam”. Por Roberta Paganini

    Publicidade
    Clique para comentar

    Brasil e mundo

    Vivendo em mundos paralelos

    Publicado

    on

    Algo mudou na relação entre o jornalismo e os pelotenses. Até por volta de 2015, havia um marcado interesse nos assuntos da cidade. A mera notícia de um buraco, e nem precisava ser o negro, despertava vívida atenção. Agora já ninguém dá a mínima, nem mesmo se o buraco for um rombo fruto de corrupção na área sensível da saúde. O valor da notícia sofreu uma erosão na percepção humana.

    Não é uma situação local, mas, arrisco dizer, do mundo. Nós apenas sentimos seus efeitos de forma drástica, por razões de ordem econômica e social. E também dimensionais.

    Como a cidade não é grande, os problemas são ainda mais visíveis. Topamos com eles no cotidiano. Acontece que os buracos reais e metafóricos, ainda que denunciados, inclusive pelo cidadão que vai às redes sociais reclamar, avolumam-se sem solução que satisfaça, levando a outro problema, este de ordem comportamental.

    Vem ocorrendo uma cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem. Um corte entre elas e a vida social. O espaço, que no ado era público, já hoje parece ser de ninguém.

    A responsabilidade parcial disso parece, curiosamente, ser das novas tecnologias de comunicação. Se por um lado elas deram voz à sociedade como um todo, por outro, ao igualmente darem amplo o ao mundo virtual, elas nos têm distraído da concretude do mundo, de interação sempre mais hostil — distraído, enfim, da realidade mesma, propiciando que vivamos em mundos paralelos.

    Outra razão é que, ao menos no essencial, nada muda em nossa realidade. Os problemas que dizem respeito à coletividade se repetem sem solução, fatigando a vida, pulverizando a mobilização.

    Publicidade

    Como a dinâmica da cidade (e da realidade) não responde como deveria, eis o ponto, estamos buscando reparações no ambiente virtual, sensitivamente mais recompensador, além de disponível na palma da mão.

    No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades. Estamos habitando no mundo virtual, onde não há frustrações, mas sim gratificação instantânea. Andamos absortos demais em nossa vida. Abduzidos por temas de exclusivo interesse pessoal, retroalimentados minuto a minuto pelo algoritmo.

    Antes vivíamos num mundo de trocas diretas entre as pessoas. Hoje habitamos numa nuvem, no cyber-espaço. Andamos parecendo cada dia mais com Thomas Anderson, protagonista do filme Matrix. Conectado por cabos a um imenso sistema de computadores do futuro, ele vive literalmente em uma realidade paralela. Isso dá

    Para complicar tudo, há pensadores para quem a realidade é uma simulação.

    Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros etc. não existem no mundo concreto, mas são simulações percebidas pelo nosso corpo (pessoas veem as cores em diferentes tons, quando não em diferentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado dos nossos sentidos.

    Assim, a única coisa real seria a razão, quer dizer, o modo como processamos aquelas percepções dos sentidos. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos que amos o concreto, não haveria diferença entre eles.

    Segundo aqueles pensadores, como o mundo virtual está entrelaçado com o mundo concreto, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor.

    Publicidade

    Continue Reading

    Brasil e mundo

    Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

    Publicado

    on

    Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

    Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

    Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

    Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

    Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

    Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

    Publicidade

    Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

    No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

    Continue Reading

    Em alta

    Copyright © 2008 Amigos de Pelotas.

    Descubra mais sobre Amigos de Pelotas

    Assine agora mesmo para continuar lendo e ter o ao arquivo completo.

    Continue reading