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Desde que a pandemia começou, publiquei uma meia dúzia de artigos sobre o assunto em diferentes veículos.
Em 24 de março, o Blog do Coppola publicou um Boletim Especial-Coronavírus, onde incluiu artigo de minha autoria, cujo título era “Quando agosto chegar…”
Alertei sobre o vírus do pânico, da desinformação e da obstrução do debate, que se alastrava mais que o SARS-CoV-2, o responsável pela pandemia de covid-19.
O que me assustava mais do que as perdas humanas pelo coronavírus, que não são desprezíveis, eram as mortes, quebradeiras e desempregos que estavam sendo gestadas pela recessão, que pode durar anos, fruto das decisões irrefletidas, desproporcionais e exageradas em relação à economia, e insuficientes em relação às questões sanitárias, que a maioria de governadores e prefeitos estavam adotando.
A questão principal que levantei: o que causará mais mortes e mais prejuízos: o vírus ou a iminente crise econômica?
Trouxe os argumentos de quem já havia enfrentado uma pandemia (Osmar Terra) e dizia que, fechar o comércio, suspender aulas e proibir o transporte público não resolveria, apenas assustaria as pessoas. Mais efetivo seria cuidar das pessoas vulneráveis.
Naquela ocasião, há exatos 4 meses, o editorial do Wall Street Journal (do dia 19/março), Rethinking the Coronavirus Shutdown, já propunha repensar o colapso que poderia advir da paralisação da economia por conta do coronavírus.
O prestigiado periódico previa um “tsunami que vai destruir a economia e provocar a perda de milhões de empregos, já que o comércio e o setor produtivo simplesmente pararam”.
Nada muito diferente do que se vislumbrava – e aconteceu – aqui no Brasil. “Não existe dinheiro suficiente para compensar perdas desta proporção que estamos vendo caso esta paralisação continue por mais semanas”, alertava o WSJ.
O desemprego no Brasil está aumentando e pequenas e microempresas fechando. Se os EUA, a maior economia do planeta, terá dificuldades para evitar a recessão, o que dizer do Brasil, cujo PIB vem se arrastando desde 2014?
Bem, mas o importante é salvar vidas. Sem dúvida, é papel do Estado salvar vidas. Mas todas as vidas. As das vítimas do coronavírus e das vítimas da recessão econômica. Ou, pior, da depressão que vem aí, fruto de decisões equivocadas.
A recessão mata. E não estamos falando da fome, do desalento, do aumento da criminalidade, das falências, de mais uma década perdida. Mas de óbitos adicionais por câncer e outras enfermidades, como consequência da recessão – sem falar em tragédias pessoais e famílias destruídas.
A paralisação inconsequente e intempestiva imposta pelos governos do RS e de Porto Alegre vai trazer consequências danosas e pode durar anos, 2020 já está perdido.
Eu acabei o artigo assim:
“No Rio Grande, no começo do inverno, tempo de mortes em consequência do frio inclemente, se diz, com humor, que, caso os mais velhos cheguem até agosto, ganham mais um ano de vida. Se, quando agosto de 2020 chegar, continuarmos nesta toada irracional, talvez estejamos apenas no começo de um longo, depressivo e mortífero inverno econômico.”
Pois agosto está chegando, e continuamos nessa toada irracional.
No caso da Porto Alegre, que inacreditavelmente se encaminha para o lockdown já quase em agosto, compartilho o vídeo do Ricardo Gomes sobre razões que nos trouxeram até aqui.