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Opinião

Pela primeira vez, Paula desagradou academia e empresários juntos

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Esta terça-feira (21) foi o primeiro dia de vigência da bandeira laranja em Pelotas, após duas semanas de vermelha.

Como se sabe, ontem (segunda-feira, 20), a prefeita Paula aceitou regredir na coloração da bandeira, mas – na prática – manteve restrições de bandeira mais grave, vermelha, algo que a Aliança Pelotas, entidade de lideranças empresariais, manifestou que não desejava que ocorresse.

Para robustecer sua posição, horas antes da live em que a prefeita anunciou suas decisões, a AP apresentou como argumentos uma série de números dos prejuízos que a severidade das medidas tem causado ao setor produtivo na cidade (AQUI e AQUI).

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Desde o começo da pandemia, Paula tem procurado harmonizar considerações das duas vozes mais fortes e antagônicas do Comitê Municipal formado por ela para basear suas decisões e decretos, a Academia e os Empresários ou vice-versa.

Ocorre que a prefeita fundiu tanto as considerações dos dois grupos, ao que parece em busca de uma solução salomônica, que – pela primeira vez – descontentou os dois lados de uma vez só. No ponto em que chegou, na pratica, a fusão das considerações anulou a lógica, deixando no ar a sensação de que a prefeita não conseguiu chegar a um termo sólido. A impressão, para mim, foi de que a dialética, ontem, foi para o espaço. Um daqueles casos em que a inteligência, por demasiada, se confunde.

A UFPel não gostou da flexibilização. Segundo notas divulgadas pelo Comitê da Universidade para a Covid-19, ao aceitar laranja, ainda que com matizes de vermelho, a prefeita induz ao afrouxamento do distanciamento social em um momento de expansão do contágio na cidade e na região, pressionando o sistema de saúde em proporção maior que a capacidade de resposta do Município. A Academia entende que o Plano das Bandeiras perdeu a finalidade porque relaxou no rigor da metodologia, abrindo margem de manobra política ((AQUI e AQUI).

Já os empresários não gostaram porque, para eles, a flexibilização foi excessivamente restritiva, assim sendo porque o poder público, desde a eclosão da pandemia, depois de vários meses, não foi capaz, embora diga que tenha tentado, de aumentar a oferta de leitos a tempo de poder decidir com menos restrições. Na live de ontem (segunda), Paula anunciou o aumento em 4 do número de leitos de UTI, agora em 35. Os empresários aprovaram o gesto, mas para eles, além de chegar muito depois do prazo, não fez diferença para uma bandeira laranja de verdade.

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Pelas reações nas redes sociais, parte da própria população, que antes apoiava o governo, parece ter ficado confusa e descontente com as novas medidas.

Para Paula, nesse momento, não deve estar sendo fácil ser ela mesma.

    Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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    Brasil e mundo

    Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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    Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

    Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

    Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

    Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

    Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

    Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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    Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

    No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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    Cultura e entretenimento

    O perigo das Gagas da vida

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    Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

    Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

    Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

    Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

    Como assim caos interior?

    Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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    A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

    Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

    Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

    É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

    Mas depois se reerguendo.

    Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

    Gagaaaaaa.

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