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Brasil e mundo

‘Contribuições à visão da Villa XP’. Por Fabiano de Marco, cliente da empresa

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Artigo publicado originalmente no site da ADIT Brasil

Conheci a XP em 2004, ao participar de alguns cursos presenciais em Porto Alegre, no Blue Three Towers, um deles ministrado pelo próprio Guilherme Benchimol, para 20 alunos. Eles eram os únicos a oferecer ensino, e eu, cursando economia e contando com um “mãetrocínio”, viajava 500km para desvendar os encantos do mercado de capitais. Desde então sou um torcedor da XP.

Foto dos fundadores Guilherme e Marcelo extraída do link.

Em 2020, com a quarentena, dediquei algum tempo a rever minha relação com os bancos. Encerrei uma conta de 20 anos no BB e ei a contar com os serviços da XP, para investimentos, e do C6 Bank, para a conta pessoal digital e gratuita.

Dos cursos presenciais à Ceo-Founder da sucessora dos bancões, meu sentimento pela Liderança na XP não poderia ser de maior iração. Fiquei feliz quando assisti a um dos últimos comerciais da empresa no cinema, pois foi #naraça mesmo!

Nos últimos dias acompanhei as manifestações polêmicas sobre o ebook anunciado pela XP, segundo a própria empresa, “uma obra de ficção”. Primeiro me detive em uma postagem no linkedin do Anthony Ling, estudioso das cidades, em artigo divulgado na Veja/SP, depois outro artigo, do Otávio Zarvos, code-breaker da Vila Madalena, mais outro e, por último, uma divulgação no Brazil Journal. A XP, como sempre, mesmo durante a pandemia, liderou mais uma pauta que muito me aguça: cidades e real estate. Foi então que busquei conhecer o tal ebook e compreender melhor a polêmica envolvendo a Villa XP.

Logo no prefácio, as palavras “trabalho remoto”, “mudança”, “estilo de vida”, “estado de espírito”, “engajamento”, “experiência”, “qualidade de vida”, “geração de valor”, “apinhados em filas”, “edifício-garagem” indicam a lucidez no diagnóstico do timoneiro e nos levam ao entusiasmo pela leitura.

A visão de uma Villa XP, na minha opinião de cliente e entusiasta de cidades, destoa da cultura da empresa e do ponto de vista urbanístico, desconsidera pontos importantíssimos. Na tentativa de ser didático e abrangente, analisei o tema por três ângulos: (i) o conceito de escritório; (ii) a localização atual e (iii) cultura.

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O conceito de escritório

O modelo de escritório em lajes e conjuntos, produzido atualmente, é o mesmo desde antes da invenção do telefone celular e da internet. Nossos prédios são do tempo do “preciso falar contigo, mas pessoalmente”, frase que no meio empresarial hoje soaria ridícula. Mas não é de agora e não foi a pandemia que provocou mudanças na forma de ver o mundo do trabalho. Foi, antes, a internet, o smartphone, o webinar, a videoconferência, a velocidade e o imediatismo de comunicação, a expansão das redes sociais, a racionalização de custos e uma nova visão do ambiente e da importância dos bens materiais.

Não foi a XP a primeira empresa a adotar o trabalho remoto. Correspondentes de jornais impressos e até clans de gamers, mesmo antes da invenção do modem 56kbps, já se relacionavam remotamente. A XP está, isto sim, incorporando o “efeito COVID” como catalizador interno de mudanças comportamentais decorrentes da tecnologia que já estavam em vigor.

São Paulo experimenta o “novo normal” há anos e exemplifico, inicialmente, com a REGUS, depois com o DISTRITO MAKERS, CUBO e, mais recentemente, com o STATE, todos lugares onde os assuntos colaboração, criatividade, networking, flexibilidade, expansividade, descentralização, trabalho remoto e terceirização são pautas antigas e assimiladas.

Fotografia do State, retrofit em pavilhão da votorantin, extraída do link.

A localização atual

A XP, embora tenha democratizado a educação financeira dos brasileiros, posicionando-se como rompedora de paradigmas, escolheu habitar um ícone modernista, ostentando o metro quadrado mais caro da cidade de São Paulo, comportamento tradicional similar ao dos bancões, uma “estampa de riqueza e poder”, até então entendida como indispensável na formação de confiança nas marcas. Parece que agora perceberam, não tão cedo quanto sugere o ebook, a irrelevância do luxo material e conceitual e enxergaram o incremento de competitividade ao reduzirem custos com aluguel, mobília, IPTU, condomínio, luz, água, internet, café, suprimentos, faxina e demais custos fixos envolvidos numa operação presencial, sem contar a vantagem tributária (iss) fruto da mudança no domicílio fiscal.

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Internados residentes de Pelotas

Legenda: Fotografia do Triple A da empresa extraída do link.

Ficar em casa escancarou o desperdício na mobilidade de seus colaboradores. Sobrou tempo para, além de trabalhar, ler, correr, viver e se divertir. Todos nós estamos nos adaptando a produzir remotamente, e gostando. É elogiável a capacidade de adaptação, qualidade que está no DNA da XP. Por isso, outra vez, a empresa saiu na frente ao declarar adesão ao trabalho remoto. A XP remota é mais ‘sexy”, como se diz no jargão “startupeiro”, e, enquanto os bancões iniciam o fechamento de algumas agências, a empresa trata de eliminar de uma vez o office por completo.

De fato, não faz sentido acordar cedo, vestir o colete e dirigir por horas para fugir dos onerosos aluguéis oferecidos no entorno do portentoso triplo A da empresa. É tempo perdido (money), e isso empresários não toleram.

Cultura

Um time de colete circunscrito em 12.000m2 de área locada, como ocorre na XP, funde os comportamentos numa cultura fruto das interações diárias, vivenciadas fisicamente, forjando ao longo dos anos uma identidade conhecida como cultura empresarial. Separar estas pessoas da noite para o dia e ainda contratar novas, sem jamais terem convivido no mesmo ambiente de trabalho, leva a uma segunda reflexão: Como preservar a cultura empresarial com todos os colaboradores espalhados remotamente? Como plasmar uma marca sólida, confiável, sem sede física? A reflexão seguinte sugere um prédio icônico, um dissipador cultural, lugar de treinamentos, encontros, muito mais voltado a manter a chama corporativa viva e crescente do que um lugar para sentar, abrir o notebook e responder emails. Mais um ponto positivo para o timoneiro, mas onde e como materializar a cultura?

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Ao que tudo indica este ícone acontecerá em terras da JHSF, a empresa mais exclusiva e elitizada de São Paulo, lugar onde ninguém usa colete, camiseta ou tênis. Uma marca posicionada no topo da pirâmide, onde vôo fretado e aeroporto privado se viabilizam. Os clientes da desenvolvedora desfrutam de um seleto e networking de idade madura, com extrema privacidade.

Fotografia da empreendimento JHSF extraída do link.

A XP que conheço nasceu em turmas de 20 alunos, uma gurizada em Porto Alegre que usa colete, convive e educa milhões de “jovens de todas as idades”. XP e JHSF são excelentes empresas, com enorme portfólio, capacidade de realização, marca e inegável sinergia, a primeira com enorme capacidade de construção e a segunda com um canhão de captação financeira.

Fotografia do time XP na Nasdaq originalmente publicada no link.

Mas seria este o local representativo da Cultura da XP?

Diz assim o ebook: “A Villa XP foi pensada para estimular a convivência das pessoas”. “A troca de conhecimento ganha um lugar de destaque na Villa XP.” Aí começam as primeiras manifestações divergentes. Aos olhos dos urbanistas, convivência e troca pressupõem densidade populacional, diversidade, riqueza cultural, tudo o que NÃO acontecerá em 500.000m2, mesmo quando presentes, simultaneamente, os 2.700 funcionários da empresa. Ainda que levassem para a área suas famílias, não gerariam qualquer adensamento populacional. A área da JHSF pode ser, além de um excelente negócio, um retiro espiritual, um clube private para grandes investidores, um belo veículo para alocar os recursos dos FIIs, mas dificilmente proporcionará os desejados encontros ocasionais, que os urbanistas denominam Balet das Ruas, principal ingrediente do estímulo de convivência e intercâmbio de conhecimentos.

Fotografia de encontros ocasionais em ambiente urbano originalmente publicada no link.

Além da inexistência de densidade humana, faltará diversidade. Cidades prosperam pelas trocas culturais. Já a crença de uniformização de pessoas, a começar pela padronização estética dos coletes, é a antítese da criatividade, detectável nos parques tecnológicos mundo afora, estes sim, mecas da inovação, onde nos deparamos com diversidades criativas e culturais na forma, por exemplo, de tatuagens, piercings, moicanos e múltiplas cores.

Fotografia de Diversidade em ambiente de inovação originalmente publicada no link.

Eu, cliente da XP, iria a São Roque jogar tênis? Conhecer o hotel da JHSF? Entrar na redoma 4D para ver a história do Guilherme e depois cair na Lojinha do colete e da biografia? Não, isto eu faria ao visitar a Disneyworld, logo depois da montanha russa. Cairia na lojinha da Moet Chandon depois de um eio por Reims. A visão da Villa XP em alguns momentos me lembra as estratégias para ancoragem de multipropriedade e resort. São Roque não é destino turístico e atração de público, não é o business da XP.

Fotografia de lojinha de souvenirs da Disney originalmente publicada no link.

A ideia de uma Villa com caráter social e esportiva soa muito familiar a antigas sedes campestres de indústrias, inclusive dos bancos mais tradicionais, justamente um caminho e posicionamento opostos ao trilhado até agora pela XP.

Fotografia da Sede social do Banco do Brasil originalmente publicada no link.

A cidade de São Paulo pode ter todos os defeitos de segurança, mobilidade, disputa por espaços exclusivos, mas de cultura e capital intelectual ela é abundante. E disto a XP não deveria se afastar. Têm razão o Ling e o Zarvos quando apontam para o centro da cidade. A Regus, essa sim, há anos experimentando as tendências em office e home office, poderia orientar a XP a se aproximar dos seus colaboradores em estruturas menores, igualmente voltadas para experiência e cultura, mas com mobilidade e alugueis no entorno íveis. São Paulo precisou de um francês para adquirir o Hospital Matarazzo, vizinho do MASP, e nos dizer: “Não há luxo sem cultura”.

Perspectiva digital do projeto Cidade Matarazzo originalmente publicada no link.

Temos o edifício Martinelli à espera de uma PPP para revitalizar o Rooftop e desenvolver um novo ponto turístico para São Paulo. Por que não retrofitar a antiga sede de um bancão? Certamente o Rooftop do Martinelli geraria mais fluxo e valor para a marca, principalmente cultural, do que a redoma 4D.

Fotografia do Edifício Martinelli originalmente publicada do link.

Por sinal, o bar do cofre poderia ser a XP! Aliás, são infinitas as potencialidades para a XP fincar sua bandeira, difundir sua cultura e fomentar share of mind.

Fotografia do Bar do Cofre originalmente publicada no link.

O que a XP sempre fez melhor do que os bancões e precisa continuar fazendo é se aproximar dos clientes e potencializar a cultura já existente na cidade. Afinal de contas, seus clientes estão e continuarão na cidade.

Embora a princípio não pareça, fugir de São Paulo é mais difícil do que melhorar São Paulo.

Aliás, na quarentena, assistindo gratuita e remotamente ao professor de Harvard Edward Glaeser, fiz algumas anotações cuja reprodução vem a calhar neste momento: “Cidades que funcionam são lugares que nos tornam mais inteligentes estando perto de outras pessoas inteligentes”. E ainda: “Um ecossistema com várias empresas pequenas é mais eficiente do que a concentração em empresas grandes”. E por fim: “As cidades são a maior invenção da humanidade”.

Como cliente XP e irador da JHSF, recomendaria na área a continuidade da visão da desenvolvedora, reforçando o caráter exclusivo, elitizado e suburbano do local, proporcionando aos investidores profissionais da XP uma experiência de consumo diferenciada. A chancela da XP e principalmente a sua capacidade de captação de recursos catapultariam o empreendimento, confirmando o excelente investimento imobiliário e tornando-o ível aos pequenos e médios investidores da corretora.

Mas a chama da empresa, a sua cultura, preservaria no coração da cidade de São Paulo, não por dever social, mas por acreditar no resultado do investimento quando alocado em um ecossistema criativo e diverso como só a cidade de São Paulo oferece. Neste sentido, endosso as manifestações de extrema credibilidade e boas intenções que tenho visto, vozes que só emergem numa cidade plural e muito contribuem com a visão da empresa para seus próximos os. Conhecer o seu buddy, fazendo uma referência ao ebook, será sempre melhor nos botecos e esquinas da cidade.

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Fabiano de Marco é Cliente XP, advogado, sócio da Idealiza Urbanismo e Diretor do Sindicato da Indústria da Construção e Mobiliário (Sinduscon) de Pelotas e Região.

 

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2 Comments

2 Comments

  1. Alfonso Montone

    16/07/20 at 18:11

    Maravilha de texto!

  2. Mauricio Wortmann Marques

    15/07/20 at 23:45

    Texto impecável!

Brasil e mundo

A liberdade sagrada das redes

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Noutro dia escrevi um texto sobre a cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem, responsabilizando parcialmente as novas tecnologias de comunicação. Disse: “Se por um lado as tecnologias deram voz à sociedade, por outro, nos têm distraído da concretude do mundo, de interação mais hostil, levando-nos a viver em mundos paralelos”. E: “No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades, mas sim no mundo virtual, um refúgio, retroalimentado pelo algoritmo, onde não há frustrações, mas sim gratificações instantâneas”. Bem, esse é um lado da questão. E não é novo.

Desde Freud se sabe que, diante do trauma, a criança dissocia-se para á-lo, refugiando-se na neurose, uma estratégia de defesa contra o trauma. Pois, assim como a criança traumatizada, as pessoas, diante das escalabrosidades do mundo concreto, fazem igual: elas se refugiam no mundo virtual, guardando, do mundo concreto, uma distância.

O outro lado da questão, o reverso da moeda, é que, sem as novas tecnologias de comunicação, a voz traumatizada da sociedade permaneceria atravessada na garganta, sem chance de extravasar-se.

A possibilidade de expressão liberou uma carga de justos ressentimentos contra os limites da política, as injustiças, o teatro social. De súbito, tivemos uma ideia do tamanho da insatisfação com os sistemas de vida, ando publicamente a protestar, em alguns casos chegando à revolução, como ocorreu na Primavera Árabe, onde as redes sociais cumpriram um papel fundamental.

Pois não é por outra razão que os donos do antigo mundo estão incomodados e querem controlar a liberdade de expressão, especialmente a velha imprensa, os monopólios empresariais, os sistemas políticos totalitários. Enfim, todos aqueles para quem a internet e as redes sociais ameaçam seu poder, ao por de pernas pro ar as certezas convenientes sobre as quais se assentaram.

Fato. As inovações desarranjam os mercados e os modos de vida. Toda inovação faz isso. É o preço do progresso. Mas, assim como é impossível voltar ao tempo do telégrafo (imagine o desespero nas Bolsas de Valores), é impensável retroagir ao mundo exclusivo da prensa de Gutenberg. Porque as descobertas, afinal, permitem avançar nos arranjos produtivos: propiciam economia de tempo, dinheiro e, no caso da comunicação, ampliam a liberdade, seu bem mais precioso.

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Com todos os defeitos que a vida tem, é preferível mil vezes, ao controle da palavra, a liberdade de dizê-la. Quem pode afirmar (ou julgar) o que é verdadeiro e o que é falso, senão as pessoas mesmas, em última análise, de acordo com suas percepções e as pedras em seus sapatos? Pois hoje, depois de provarmos a liberdade trazida pelas novas tecnologias, mais do que nunca sabemos que a imprensa, em sua mediação da realidade, é falha, e como o é!

É interessante (e triste) ver como, após a criação da internet e das redes, grande parte da imprensa, ao perder o monopólio da verdade, se vêm tornando excessivamente opinativa e crítica das novas tecnologias. Deveria, sim, era aprimorar-se no trabalho para prestá-lo melhor. Acontece que, eis o ponto, como a velha imprensa não é livre de fato, como depende do financiador, muitas vezes de governos, ela vê nas novas tecnologias de ampla liberdade uma ameaça à velha cadeia de produção acostumada a filtrar o que valia ser dito, e o que não valia, em seu óbvio interesse, hoje nu, como o rei da história.

Além disso, há essa coisa interessante: a percepção. Para alguns pensadores do novo mundo, o que chamamos de realidade é uma simulação, no que concordo. Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros, paladares etc. não existem no mundo concreto (são imateriais), sendo portanto simulações percebidas pelos sentidos (pessoas veem cores em diferentes matizes, quando não divergentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado exclusivo dos nossos sentidos. Assim, a única coisa real seria a razão. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. “Penso, logo existo”.

Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos com que amos o mundo concreto, estando entrelaçados, não haveria diferença entre eles. Logo, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor. Eu acredito que é assim.

Uma vez provadas as inovações, não é possível retroagir. Podemos, isso sim, é refinar, em decorrência delas, o nosso comportamento.

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Brasil e mundo

Vivendo em mundos paralelos

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Algo mudou na relação entre o jornalismo e os pelotenses. Até por volta de 2015, havia um marcado interesse nos assuntos da cidade. Um mero buraco, e nem precisava ser o negro, despertava vívida atenção. Agora já ninguém dá a mínima. Nem mesmo se o buraco for um rombo fruto de corrupção numa área de vida e morte, como a de saúde. O valor da notícia sofreu uma erosão nas percepções.

Não é uma situação local, mas, arrisco dizer, do mundo. Nós apenas sentimos seus efeitos de forma drástica, por razões de ordem econômica e social. E também dimensionais.

Como a cidade não é grande, os problemas são ainda mais visíveis. Topamos com eles no cotidiano. Acontece que os buracos reais e metafóricos, ainda que denunciados, inclusive pelo cidadão que vai às redes sociais reclamar, avolumam-se sem solução que satisfaça, levando a outro problema, este de ordem comportamental.

Vem ocorrendo uma cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem. Um corte entre elas e a vida social. O espaço, que no ado era público, já hoje parece ser de ninguém.

A responsabilidade parcial disso parece, curiosamente, ser das novas tecnologias de comunicação. Se por um lado elas deram voz à sociedade como um todo, por outro, ao igualmente darem amplo o ao mundo virtual, elas nos têm distraído da concretude do mundo, de interação sempre mais hostil — distraído, enfim, da realidade mesma, propiciando que vivamos em mundos paralelos.

Outra razão é que, no essencial, nada muda em nossa realidade. Isso ficou mais evidente porque as redes sociais deram vazão, sem os filtros editoriais da imprensa, a um volume de problemas reais maior do que o que era noticiado. Se antes já havia demora nas soluções, essa percepção foi multiplicada pelo crescente número de denúncias feitas nas redes pelos próprios cidadãos. Os problemas que dizem respeito à coletividade se avolumam sem solução a contento, desconsolando e fatigando a vida.

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Como a dinâmica da cidade (e da realidade) não responde como deveria, eis o ponto, estamos buscando reparações no ambiente virtual, sensitivamente mais recompensador, além de disponível na palma da mão.

No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades. Estamos habitando no mundo virtual, onde não há frustrações, mas sim gratificação instantânea. Andamos absortos demais em nossa vida. Abduzidos por temas de exclusivo interesse pessoal, retroalimentados minuto a minuto pelo algoritmo.

Antes vivíamos num mundo de trocas diretas entre as pessoas. Hoje habitamos numa nuvem, no cyber-espaço. Andamos parecendo cada dia mais com Thomas Anderson, protagonista do filme Matrix. Conectado por cabos a um imenso sistema de computadores do futuro, ele vive literalmente em uma realidade paralela. Isso dá

Para complicar tudo, há pensadores para quem a realidade é uma simulação.

Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros etc. não existem no mundo concreto, mas são simulações percebidas pelo nosso corpo (pessoas veem as cores em diferentes tons, quando não em diferentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado dos nossos sentidos.

Assim, a única coisa real seria a razão, quer dizer, o modo como processamos aquelas percepções dos sentidos. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos que amos o concreto, não haveria diferença entre eles.

Segundo aqueles pensadores, como o mundo virtual está entrelaçado com o mundo concreto, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor.

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