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Opinião

PAULA: ‘SE FOR PRECISO, DECRETAREI LOCKDOWN’

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Abaixo, a segunda e última parte da entrevista que fiz com a prefeita Paula Mascarenhas. A primeira parte pode ser conferida – AQUI. Ou no final do texto.

 

Algo em especial incomodou a senhora na nota da Aliança Pelotas, com as críticas dos empresários à sua condução de medidas na pandemia?

Três coisas me incomodaram muito, não pela critica em si, já que eu espero por elas e entendo.

Quando nos chamam de indolentes, isso me pareceu uma injustiça a todo o esforço que temos feito. Desde fevereiro, tem sido um trabalho louco. Muito trabalho.

Creio que não foi à toa que Pelotas chegou a se destacar por ter ficado muito tempo sem óbitos. Nós somos minuciosos, detalhistas, ao ponto de quebrar paredes para adequar o Centro Covid na Bento (Avenida Bento Gonçalves), garantir um ambiente de desinfecção, limpo, coisa que a maioria dos hospitais nem tempo tem para fazer.

A outra coisa que me deixou muito chateada é quando dizem que só na sexta-feira ada nós lançamos um edital para contratação de médicos, dando a entender que deixamos para a última hora. Não é verdade.

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Esse edital que eles falam não era nosso (da prefeitura), e eles sabiam disso.

No Comitê de Crise, com a presença de membros da AP, foi informado a todos que o edital era do Hospital Escola, UFPel.

Nós, prefeitura, desde março, fizemos três chamamentos, e eles sabem disso.

Portanto, darem a entender que deixamos para chamar médicos no último momento me chateou.

Uma outra critica me chateou: como o reitor (Pedro Hallal, da UFPel) disse que avaliava que não deveríamos recorrer da bandeira vermelha, a Aliança Pelotas achou que foi isso o que mais me influenciou na decisão. É até um pouco desrespeitoso comigo.

Por exemplo, em 23 de abril ado, quando a UFPel lançou nota pública contra minha posição de abrir o comércio e serviços, a oposição disse que eu era tutelada pelas entidades empresariais. Agora que tomo a decisão de fechar comércio e serviços, os empresários dizem que sou tutelada pelo reitor e pela universidades.

Está faltando racionalidade.

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Eu chamei para o Comitê de Crise pessoas e instituições que respeito, para me ajudarem a formar convicção.

Posso, ao decidir, estar errada. Nem sou imune à critica. Só não digam que sou tutelada. Eu teria que ser uma pessoa muito instável para ser uma pessoa hora lá, hora cá. Então, isso me incomoda um pouco. Mas eu gosto dos empresários, me dou bem com eles, me relaciono com as entidades.

Elas são importantes.

É o setor produtivo que gera riqueza. Pelotas vai se desenvolver com essas lideranças. Se a iniciativa privada não se desenvolver, a cidade não se desenvolve, eu reconheço isso, digo sempre isso. Só que nem sempre nós vamos concordar. É isso.

A senhora diria que, no conflito, haja uma questão ideológica (esquerda-direita), como suscita a nota da AP? 

Hoje (quarta-feira, 8, dia da entrevista), no debate da câmara de vereadores, a oposição me defendeu, já alguns aliados me atacaram. É uma situação que altera as percepções.

Acredito que estou fazendo o melhor, movida por convicções sérias, por ser um quadro grave e inédito de crise sanitária. Eu acho, portanto, um absurdo trazer ideologia para dentro de discussões que são técnicas, numa hora assim.

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Agora mesmo, há quem defenda ardorosamente um remédio (cloroquina) porque o presidente toma e recomenda e há gente que, se não gosta, fala mal. Isso mostra a irracionalidade dessa polarização política no Brasil.

Por falar em cloroquina, a senhora pensa em esclarecer a população sobre anúncios de remédios para tratamento da covid? 

Há grupos de médicos no whatsapp que defendem o uso de medicamentos, cloroquina, ivermectina; é uma questão da prática médica.

O médico é que vai decidir junto com o paciente. Por sinal, tenho uma reunião daqui a pouco para conversar sobre o tema com esse grupo de médicos.

Não serei eu, uma professora de francês, a dizer o que é certo e errado nesse campo. Há divergências, isso sei.

Quem propôs o encontro?

Os médicos sugeriram aos prefeitos (da Zona Sul) o encontro. São médicos ligados à atenção básica. Parece que seriam medicamentos para o começo da doença.

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Eu não me sinto à vontade comprar teses. Acho, sim, que temos de difundir informações.

Há quem considere que os governantes, na gestão da pandemia, estão usurpando da Constituição, ferindo direitos individuais. O que pensa disso?

Acho que a Constituição, de alguma forma, não digo violada, mas está sendo confrontada.

Eu procuro não extrapolar, respeitar a Constituição. Por exemplo, considerei extremado proibir a viagem de ônibus intermunicipais. Não proibi. Quando a gente decidiu multar pessoas, não fiz por decreto, ao contrário da maioria dos municípios. Preferi mandar projeto nesse sentido para a Câmara. Dá mais trabalho, mas é o caminho legal.

Ocorre que nós estamos vivendo um momento de exceção. De qualquer forma, não podemos esquecer de que a justiça está aí para arbitrar essas questões.

Quando morreu aqui na cidade aquele rapaz pernambucano, e nós ficamos sabendo que chegariam dois ônibus vindos do norte e nordeste com mais funcionários da mesma empresa do rapaz, nós fomos à justiça para impedir que entrassem na cidade, pois havia e há uma evolução grave da doença no norte e nordeste. A justiça decidiu que, em vez de proibir, os trabalhadores pudessem entrar, ando por uma quarentena, porém. Nós acatamos.

A preservação da vida é também um valor constitucional.

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Eu fico vendo manifestações de que os gestores estão aproveitando para exercer poder e autorismo, e acho terrível.

Eu gosto de uma sociedade que controle o Estado, que seja forte, mas, em um momento como esse, excepcional, insisto, o estado a a ter muita importância.

Acho até que é uma reflexão boa de se fazer. Pois quem é que decide numa hora assim? Quem deve decidir, ainda mais em uma sociedade polarizada como a brasileira?

Eu não curto esse poder que tenho. o pelas lojas, fechadas por decisão minha, é isso me dói no coração. Não há prazer nesse exercício.

Prefeita, a bandeira vermelha vale por duas semanas. A senhora pretende manter o período de vigência ou, como andei ouvindo, poderá recorrer ao fim da primeira semana, buscando retroceder à bandeira laranja?

Na verdade, nem sei se posso recorrer antes dos 15 dias da vigência da bandeira vermelha.

O que eu tenho dito é que a gente vai avaliar diariamente os números, monitorar o quadro dia após dia, pois o que mais desejo é voltar a abrir (comércio, serviços etc) o quanto antes possível.

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Meu último decreto, na verdade, é um pouco mais rígido do que o que previsto para bandeira vermelha. Não é uma bandeira preta, como Rio Grande. Mas é mais severo que a bandeira vermelha.

Por exemplo, a bandeira vermelha permite que academias funcionem, atendimento individualizado, cada pessoa atendendo em 16 metros quadrados. Já eu fechei as academias, fechei também as igrejas e cultos com 30 pessoas, que são permitidas na bandeira vermelha. Fiz isso porque, já que faremos um sacrifício, vamos fazer sacrifício mais amplo, como sociedade inteira, para ter um benefício maior, para poder ter flexibilização mais duradoura e permanente, quem sabe.

O que, afinal, a senhora está pensando em fazer?

Estrou pensando em ficar essa primeira semana assim, na vermelha e com medidas extras ainda mais restritivas, e, na semana seguinte, flexibilizar para bandeira vermelha, revogando as medidas extras que adotei, voltando então a reabrir academias, com protocolos rígidos que eram vigentes já, e permitir as igrejas e cultos com 30 pessoas de novo. Os treinos de futebol, que já hoje podem ocorrer ao ar livre, poderiam voltar a ocorrer em academias, desde que individualizados. E assim, ao final dos 15 dias da bandeira vermelha, colher os frutos desse sacrifício de agora.

Recorrer pela bandeira laranja na próxima semana, então, está fora de cogitação?

Se a gente conseguisse os 20 leitos novos de UTI que eu falei (na primeira parte da entrevista, aqui), talvez eu até pudesse recorrer na semana que vem da bandeira vermelha e ser atendida. Mas acho que não vou ter esses leitos, porque não vou ter equipes.

Está tendo dificuldades para ampliar a oferta de leitos, assim como de medicamentos?

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Para medicamentos, dependemos do Ministério da Saúde e da Secretaria estadual de Saúde, que estão tentando conseguir. Já o numero de leitos, sim, podemos agir diretamente.

Agora mesmo estou estudando uma forma de contratar uma empresa terceirizada para ver se conseguem formar equipes médicas, pegando gente de outros lugares, pagando salários melhores etc., esse é o desafio. Formar equipes para poder abrir leitos.

Qual a situação real do nosso estoque de remédios?

Estão terminando os estoques. Não recebi a listagem sobre os estoques dos hospitais. Rio Grande chegou a emprestar medicamentos para o Hospital Universitário (São Francisco de Paula). O HU não deve estar tão mal. Mas tem situação grave, isso a gente sabe.

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O que a senhora tem a dizer sobre as críticas em relação ao Hospital de Campanha? De que é improvisado e de que o governo desperdiça dinheiro com ele?

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O Hospital de Campanha não é para UTI e sim para enfermaria, casos mais leves.

Montamos a estrutura básica, lona, piso, camas, sem os equipamentos. Eu decidi não colocar os esquipamentos, embora estejam comprados e depositados na cidade, pois, no momento em que faço isso, tenho de instalar serviço de segurança, o que seria um gasto desnecessário, já que não há pacientes no HC, nem perspectiva disso por ora. O Hospital de Campanha tem 159 leitos. Ao que parece, não vamos precisar usar todos, talvez nem o HC seja necessário.

Compraram equipamentos para todos os 159 leitos?

Não. Compramos para uma parte deles. Porque, como eu disse, a expectativa é de que o HC não venha, no fim, ser necessário. Se for, iremos buscar adquirir mais equipamentos.

De qualquer forma, se o HC não for usado, os equipamentos comprados não se perdem, vão para o Pronto Socorro, para as UPAs.

A gente optou por instalar a estrutura do HC no final de abril, como garantia. Porque as empresas prestadoras do serviço de aluguel de lonas, camas, piso necessárias estavam recebendo pedidos de todo lado. Refleti: O que vai acontecer, não tenho a menor ideia… Vamos precisar e vamos ter? Pelo princípio da precaução, decidi instalar a estrutura e adquirir uma parte dos equipamentos.

Por essa decisão, lá em abril, ninguém me criticou. Não ouvi ninguém dizer: “Que absurdo contratar um Hospital de Campanha”. Não criticou porque ninguém sabia a dimensão do problema. Inclusive, por análises da UFPel, a gente precisaria de quase 300 leitos de enfermaria, o dobro do que temos. Agora estão me criticando. Eu entendo, pois parece dinheiro posto fora.

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Na prática, não foi?

Eventualmente terá sido.

Por um lado, é bom que não precisou ser usado. Se precisasse, é porque teria havido o aumento grande do número de pacientes… Por isso digo: é fácil jogar depois do jogo jogado. Tu te vês obrigado, depois de consultar várias pessoas, a tomar decisões enquanto o jogo está em curso.

Eu não me arrependo de ter contratado o HC.

Gostaria, em abril, de ter a ideia que tenho hoje, pois então não teria contratado o hospital. Mas naquele momento contratei. Repito: o investimento que fiz em equipamentos, e também em medicamentos, não é dinheiro perdido, porque poderá ser incorporado pelo sistema de saúde do município, isso está garantido.

Só se perde então o dinheiro pela locação da estrutura física, a lona, as camas?

Essa estrutura a gente vai perder. Até dia 22 de julho, terei de decidir se renovo o contrato com a empresa ou não do serviço.

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Por quanto tempo foi o contrato inicial e o custo?

Por três meses, no valor, pelo período, de 411 mil reais. Por tudo isso, a lona, que é grande, as camas, o piso e as divisórias.

Pretende renovar o contrato?

Hoje eu não renovaria, porque estamos com dificuldades de formar equipes médicas, ainda que, para enfermaria, não se requeira profissionais com grande experiência.

Minha ideia é não locar mais. Sei que se fizer isso sofrerei críticas. Mas é como digo, após o jogo jogado, é fácil.

Só reconsiderarei minha posição se, até 22 de julho, a situação sair de controle. Nós estamos fazendo esforço para que não saia de controle.

Eu acredito hoje que tenho de priorizar o Centro Covid, os leitos do Hospital Escola (da UFPel) e contar com as estruturas disponíveis nos demais hospitais.

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Se tivesse de fazê-lo, a senhora hesitaria em decretar lockdown em Pelotas?

Espero que não. Vou fazer tudo para preservar as atividades econômicas, emprego, renda, desenvolvimento.

Mas eu não vou hesitar em tomar medidas que achar necessárias para preservação da vida, que é o primeiro valor.

Não gostaria, mas, se a gravidade crescer, não hesitarei em fazer o que for necessário.

Outro dia, numa entrevista, a senhora disse que não é fácil estar no seu lugar, referindo-se ao atual momento da pandemia. Em algum momento foi fácil?

O Eduardo tinha uma frase: Só sabe o que é ser prefeito quem o é.

Por mais que haja pessoas próximas que acompanham o drama das decisões da istração pública, elas não têm noção do que é ser prefeito, sentar naquela cadeira, tendo sob seus ombros o peso das decisões.

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Eu que, como vice-prefeita, acompanhei muito de perto o Eduardo (então prefeito), fui entender o que ele dizia ao ser prefeita.

Eu sofria junto com ele, mas é diferente quando a gente está aqui.

Quando estás ao lado, por mais que sofras dores, estás ali para dar opiniões, mas a decisão final é do outro.

Neste fim de semana, para mim, foi muito pesado, porque tinha de decidir se recorria ou não da bandeira vermelha. E, claro, eu tinha dúvidas, não acho que seja algo tão evidente.

Eu ponderei, conversei com muita gente.

Eu sei que é a primeira semana do mês. Vou fechar comércio logo no começo do mês, quando as pessoas gastam! Isso tudo me doeu muito. Foi bem difícil. Mas tinha de tomar decisão.

Pensei na população, na proteção das pessoas diante do quadro, que é preocupante. Os epidemiologistas também acham preocupante. Não é a Paula que acha. Não é decisão desligada do mundo científico.

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Não é fácil ser prefeito, pois tu és o agente público mais próximo das pessoas. Então, tudo, de alguma forma, é culpa tua.

As pessoas têm mais facilidade de chegar no prefeito, encontram na rua, reclamam, perguntam, pedem, criticam, vaiam, sempre muito exposto.

Nunca é fácil. Mas eu gosto muito.

Gosto de enxergar as pessoas, olhar no olho, ver a transformação.

Diferente de um Presidente da República, que vê números e só eventualmente visita regiões, o prefeito entra na casa das pessoas, e isso é maravilhoso. Agora, também é duro. Neste momento, tem sido ainda mais, porque tem muita incerteza. Nada para te orientar com segurança 100%. Tem de partir do bom senso, da escuta, e eu tenho ouvido todo mundo.

Uma vez um psicanalista me disse que amava a profissão, mas que a frustração era grande porque o índice de cura era baixo. A senhora diz que, apesar de um ser um cargo difícil, gosta de ser prefeita. Contudo, quando vê a cidade real com seus problemas, não tem um sentimento de frustração parecido com o do analista? 

A gente se frustra por um lado, por querer fazer coisas e não conseguir. Mais do que isso, a gente nem consegue ver todos os problemas da cidade.

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Tu sabes que não vais resolver todos. Então, claro, tem uma fatia de frustração.

Por outro lado, isso é assim. Ninguém vai resolver tudo.

A contrapartida disso seria pensar vou me acomodar na minha vida pessoal, com meus problemas.

Por menos que um prefeito faça, ele pode fazer muito, porque aquelas pessoas atendidas por uma ação positiva têm sua vida tocada, transformada. E eu acho, modéstia à parte, que a gente fez muito.

Algumas coias que a gente queria fazer não foi possível. Mas fez muito e muita coisa mudou.

Algumas pessoas nem sabem que tiveram a vida mudada por uma ação pública, como por exemplo com as ações de prevenções à violência, que são as que mais me motivam e tocam. Então, isso é muito bom, produz muita satisfação interna.

Como equaciona a frustração?

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A gente aprende a conviver com ela. O pior é quando tu achas que não fizesse tudo.

Eu tento sempre fazer tudo. Pelo menos me frustrar pensando que não deixei de fazer.

Mas a gente acaba aprendendo a lidar. Faz parte, a vida é imperfeita.

Na verdade, quando a gente se elege, ganha um pacotinho com coisas boas e ruins, não dá para querer só um lado.

Tem gente que não gosta de dizer não. Entra na politica assim. Bom, esses não podem ir para o Executivo, porque não tem como não contrariar interesses, como não dizer não, e é ruim quando a gente contraria interesses de grupos. É difícil.

Quando estás contrariando o interesse de um grupo por um valor maior, por ser difusa e abrangente a decisão, muitas vezes, como eu disse, as pessoas nem percebem que estão sendo beneficiadas. Vivi isso muitas vezes durante o meu mandato. É ruim, mas faz parte. /2020/07/09/entrev-ista-paula/opiniao/rubfilho/

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Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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4 Comments

4 Comments

  1. Aneres Tereza Borges Machado

    18/07/20 at 04:36

    Parabéns ao Sr. Reitor e a nossa prefeita, que está a frente de tudo, preocupada com a saúde dos pelotense.. Parabéns! Vamos achar a curva e praticamente eliminar este vírus.

  2. Sônia Beatriz Gonçalves Cruz

    12/07/20 at 11:57

    Parabéns a prefeita pela postura tomada frente a pandemia

  3. Marcia

    12/07/20 at 09:26

    Parabéns a prefeita Paula, pessoa dinâmica com visão abrangente sobre momento atual e focada no ser humano como todo. Temos pensar momento salvar vidas e economia vai ser prejudicada , mas retomará e vidas não voltam. Prefeita eu apoio

  4. Elis Regina Madeira da Porciúncula

    11/07/20 at 12:54

    Parabéns à prefeita Paula!!! Apesar de eu me situar numa linha partidária diferente da dela. iro o trabalho que vem desenvolvendo na cidade, desde o início e suas colocações sempre são ponderadas e me transmite a responsabilidade de uma gestora comprometida com a sociedade.

Brasil e mundo

Vivendo em mundos paralelos

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Algo mudou na relação entre o jornalismo e os pelotenses. Até por volta de 2015, havia um marcado interesse nos assuntos da cidade. A mera notícia de um buraco, e nem precisava ser o negro, despertava vívida atenção. Agora já ninguém dá a mínima, nem mesmo se o buraco for um rombo fruto de corrupção na área sensível da saúde. O valor da notícia sofreu uma erosão na percepção humana.

Não é uma situação local, mas, arrisco dizer, do mundo. Nós apenas sentimos seus efeitos de forma drástica, por razões de ordem econômica e social. E também dimensionais.

Como a cidade não é grande, os problemas são ainda mais visíveis. Topamos com eles no cotidiano. Acontece que os buracos reais e metafóricos, ainda que denunciados, inclusive pelo cidadão que vai às redes sociais reclamar, avolumam-se sem solução que satisfaça, levando a outro problema, este de ordem comportamental.

Vem ocorrendo uma cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem. Um corte entre elas e a vida social. O espaço, que no ado era público, já hoje parece ser de ninguém.

A responsabilidade parcial disso parece, curiosamente, ser das novas tecnologias de comunicação. Se por um lado elas deram voz à sociedade como um todo, por outro, ao igualmente darem amplo o ao mundo virtual, elas nos têm distraído da concretude do mundo, de interação sempre mais hostil — distraído, enfim, da realidade mesma, propiciando que vivamos em mundos paralelos.

Outra razão é que, ao menos no essencial, nada muda em nossa realidade. Os problemas que dizem respeito à coletividade se repetem sem solução, fatigando a vida, pulverizando a mobilização.

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Como a dinâmica da cidade (e da realidade) não responde como deveria, eis o ponto, estamos buscando reparações no ambiente virtual, sensitivamente mais recompensador, além de disponível na palma da mão.

No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades. Estamos habitando no mundo virtual, onde não há frustrações, mas sim gratificação instantânea. Andamos absortos demais em nossa vida. Abduzidos por temas de exclusivo interesse pessoal, retroalimentados minuto a minuto pelo algoritmo.

Antes vivíamos num mundo de trocas diretas entre as pessoas. Hoje habitamos numa nuvem, no cyber-espaço. Andamos parecendo cada dia mais com Thomas Anderson, protagonista do filme Matrix. Conectado por cabos a um imenso sistema de computadores do futuro, ele vive literalmente em uma realidade paralela. Isso dá

Para complicar tudo, há pensadores para quem a realidade é uma simulação.

Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros etc. não existem no mundo concreto, mas são simulações percebidas pelo nosso corpo (pessoas veem as cores em diferentes tons, quando não em diferentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado dos nossos sentidos.

Assim, a única coisa real seria a razão, quer dizer, o modo como processamos aquelas percepções dos sentidos. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos que amos o concreto, não haveria diferença entre eles.

Segundo aqueles pensadores, como o mundo virtual está entrelaçado com o mundo concreto, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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