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Brasil e mundo

‘Viventes e sobreviventes’. Por Adolfo Fetter Jr.

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Pela imprensa – e pelas redes sociais – estamos sendo “bombardeados” por todo tipo de informação (e de desinformação também). Por isto chego à conclusão que estamos no meio de uma “guerra diferente”, com “batalhas” diárias nos mais diversos temas (desde a Pandemia em si, até temas sociais, ideológicos, religiosos e econômicos, para citar alguns).

Somando-se a isto, estes quase 3 meses de isolamento (e agora de distanciamento) social estão causando profundo impacto na vida, no bolso, nas emoções e no psicológico das pessoas, com as mais diversas reações, na maior parte das vezes de caráter emocional, mas também expressando posições políticas ou explorando temas momentâneos.

É tanta coisa ao mesmo tempo – e tantas informações e opiniões desencontradas – que as reações têm variado desde a radicalização de posições (de um lado e de outro, bem como até entre estes dois extremos), até a exacerbação de sentimentos (refletindo desde o desespero, a raiva, a negação, a insegurança, chegando ao oportunismo político variado).

Nestes “tempos estranhos” alguns se consideram SOBREVIVENTES das batalhas diárias e expressam esta visão de que o “desconhecido” é uma ameaça permanente a si e aos demais e clamam por mais CONTROLE, ISOLAMENTO e até mesmo a imposição de MEDIDAS EXTREMAS.

Outros se veem como VIVENTES e não abrem mão de tentarem continuar sua lida (e vida) anterior, ou definirem uma nova rotina e um “novo normal”, e defendem a RETOMADA (maior ou restrita), a LIBERDADE e, alguns, também MEDIDAS EXTREMAS…

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Os Governantes também têm posições variadas – e até extremadas…

Alguns estão em “fim de mandato” e encontraram nesta crise novos desafios e oportunidades, tendo reações também muito variadas, desde a LIBERAÇÃO TOTAL até a imposição de MEDIDAS ARBITRÁRIAS (muitas vezes “ridículas”, como a retirada de bancos das Praças, para as pessoas não poderem neles se sentar, ou “ilegais”, como a criação de barreiras na entrada de suas cidades…).

Outros estão praticamente no início de seus períodos como governantes e concluíram que teriam que liderar ou impor soluções para momentos tão desafiadores e inusitados, alçando-se à condição de “chefes em uma realidade de guerra”, seja contra um inimigo invisível (o Coronavírus) ou outros visíveis a quem definiram como “adversários” ou “concorrentes” (atuais e futuros…).

Enfim, os governantes também oscilam entre se considerarem viventes ou sobreviventes e suas iniciativas têm variado bastante ao longo deste turbulento período!

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Há alguma LUZ no fim deste TÚNEL?

Certamente as pessoas estão um tanto “perdidas” no meio deste verdadeiro tiroteio (verbal ou factual), ou “achadas” (na reafirmação de suas crenças, aspirações ou temores), mas NINGUÉM está “IMUNE” ao que está afetando nossas vidas e a própria sobrevivência enquanto pessoas e agentes políticos e econômicos.

No entanto, estudando o ADO “amos” a ficar cientes de que OUTRAS PANDEMIAS já afetaram o mundo, em outros tempos. Algumas tiveram impacto mundial, como a Gripe Espanhola há cerca de cem anos e mataram milhões (estima-se que foram 50 no planeta). Outras foram menos impactantes (H1N1, sarampo, dengue, zica, varíola, etc.) ou localizadas (como o Ebola, na África). Portanto, com maior ou menor impacto, ARAM ou ainda ESTÃO PRESENTES no momento atual.

Como não sabemos até quando o Covid19 estará dominando nossas atenções e preocupações, o desafio PRESENTE é a busca da prevenção e de tratamento para uma doença até agora desconhecida até dos médicos.

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A expectativa e a esperança é de que descubram – com a maior brevidade – uma VACINA que nos traga tranquilidade para o FUTURO, ainda tão INCERTO. Até lá, continuaremos sendo VIVENTES ou SOBREVIVENTES!

Mas o que sabemos é que VAI AR!

Como diz a conhecida canção “TUDO A, TUDO ARÁ”, ou no dizer do poeta Mário Quintana “ELES ARÃO, EU ARINHO”.

Se alguns governantes estão “extrapolando” suas atribuições é preciso alertá-los que NÃO podem tudo. Se estão se “omitindo” também precisamos ajudá-los a se darem conta disto.

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Na minha percepção não há um ÚNICO CAMINHO ou uma VERDADE ABSOLUTA em relação a estas questões “inusitadas” – pois a realidade é diferente para cada um de nós -, mas entendo que a função dos governos é nos orientar, disciplinar e mobilizar para este enfrentamento necessário. E nós, os governados, temos o dever de participar, colaborar e compreender o momento que vivemos.

No entanto, TODOS precisamos reler a Constituição brasileira e entender que, nela, estão os DIREITOS, os LIMITES e as GARANTIAS aos cidadãos. Ela assegura que TODOS são iguais perante a lei e, em um Estado Democrático, NINGUÉM pode ser privado de suas LIBERDADES (sejam elas de associação, de trabalho, de manifestação, entre outras).

Enfim, a CIDADANIA não se restringe apenas às Políticas sociais – que são importantes e imprescindíveis – mas à PARTICIPAÇÃO naquilo que nos afeta – o que é fundamental e essencial.

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Adolfo Antonio Fetter Jr. é produtor rural e ex-prefeito de Pelotas.

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3 Comments

3 Comments

  1. josefrade

    22/06/20 at 08:19

    Já por aí se diz que “nada será como dantes”… Reflitamos um pouco sobre o conteúdo desse novo lugar-comum. O que mudará e o que continuará? Continuarão as nossas preocupações de subsistência – as domésticas, como garantir as necessidades alimentares, de vestuário, de habitação, e as de rendimento, como as laborais. Mantendo-se esse núcleo de preocupações básicas, quais serão as mudanças de contexto que sobre elas terão influência? Terá a nossa capacidade de adaptação de ser posta à prova para sobreviver num novo contexto global?

  2. Luis Henrique Dias

    09/06/20 at 17:25

    A perspicácia da palavra (bem) escrita funciona como meditação fundamental que nos permite respirar um pouquinho acima do pântano nestes “tempos estranhos”!
    Obrigado ao Fetter e ao Amigos de Pelotas.

  3. Radamés Padilha

    09/06/20 at 16:36

    Texto muito bem escrito!!! ótimo ponto de vista !!!

Brasil e mundo

A liberdade sagrada das redes

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Noutro dia escrevi um texto sobre a cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem, responsabilizando parcialmente as novas tecnologias de comunicação. Disse: “Se por um lado as tecnologias deram voz à sociedade, por outro, nos têm distraído da concretude do mundo, de interação mais hostil, levando-nos a viver em mundos paralelos”. E: “No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades, mas sim no mundo virtual, um refúgio, retroalimentado pelo algoritmo, onde não há frustrações, mas sim gratificações instantâneas”. Bem, esse é um lado da questão. E não é novo.

Desde Freud se sabe que, diante do trauma, a criança dissocia-se para á-lo, refugiando-se na neurose, uma estratégia de defesa. Pois, assim como a criança abalada pelo trauma, as pessoas, diante das escalabrosidades do mundo concreto, fazem igual: elas podem se retirar para o mundo virtual, guardando, daquele, uma distância.

O outro lado da questão, o reverso da moeda, é que, sem as novas tecnologias de comunicação, a voz traumatizada da sociedade permaneceria atravessada na garganta, sem chance de extravasar-se.

A possibilidade de expressão liberou uma carga de justos ressentimentos contra os limites da política, as injustiças, o teatro social. De súbito, tivemos uma ideia do tamanho da insatisfação com os sistemas de vida, ando publicamente a protestar, em alguns casos chegando à revolução, como ocorreu na Primavera Árabe, onde as redes sociais cumpriram um papel fundamental.

Pois não é por outra razão que os donos do antigo mundo estão incomodados e querem controlar a liberdade de expressão, especialmente a velha imprensa, os monopólios empresariais, os sistemas políticos totalitários. Enfim, todos aqueles para quem a internet e as redes sociais ameaçam seu poder, ao por de pernas pro ar as certezas convenientes sobre as quais se assentaram.

Fato. As inovações desarranjam os mercados e os modos de vida. Toda inovação faz isso. É o preço do progresso. Mas, assim como é impossível voltar ao tempo do telégrafo (imagine o desespero nas Bolsas de Valores), é impensável retroagir ao mundo exclusivo da prensa de Gutenberg. Porque as descobertas, afinal, permitem avançar nos arranjos produtivos: propiciam economia de tempo, dinheiro e, no caso da comunicação, ampliam a liberdade, seu bem mais precioso. Pode-se dizer que não estávamos preparados para tanta liberdade súbita, e que venhamos, neste momento, usando-a “mal”. Contudo, parece razoável dizer que, à medida que o tempo e, estaremos mais e mais preparados para lidar com a liberdade e seus efeitos.

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Com todos os defeitos que a vida tem, é preferível mil vezes, ao controle da palavra, a liberdade de dizê-la. Quem pode afirmar (ou julgar) o que é verdadeiro e o que é falso, senão as pessoas mesmas, em última análise, de acordo com suas percepções e as pedras em seus sapatos? Pois hoje, depois de provarmos a liberdade trazida pelas novas tecnologias, mais do que nunca sabemos que a imprensa, em sua mediação da realidade, é falha, e como o é!

É interessante (e triste) ver como, após a criação da internet e das redes, grande parte da imprensa, ao perder o monopólio da verdade, se vêm tornando excessivamente opinativa e crítica das novas tecnologias. Deveria, sim, era aprimorar-se no trabalho para prestá-lo melhor. Acontece que — eis o ponto — como a velha imprensa não é livre de fato, como depende do financiador, muitas vezes de governos, ela vê nas novas tecnologias de ampla liberdade uma ameaça à velha cadeia de produção acostumada a filtrar o que valia ser dito, e o que não valia, em seu óbvio interesse, hoje nu, como o rei da história.

Além de tudo, há essa coisa interessante: a percepção. Para alguns pensadores do novo mundo, o que chamamos de realidade é uma simulação, no que concordo. Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros, paladares etc. não existem no mundo concreto (são imateriais), sendo portanto simulações percebidas pelos sentidos (pessoas veem cores em diferentes matizes, quando não divergentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado exclusivo dos nossos sentidos. Assim, a única coisa real seria a razão. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. “Penso, logo existo”.

Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos com que amos o mundo concreto, estando entrelaçados, não haveria diferença entre eles. Logo, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor. Eu acredito que é assim.

Uma vez provadas as inovações, não é possível retroagir. Podemos, isso sim, é refinar, em decorrência delas, o nosso comportamento.

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Vivendo em mundos paralelos

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Algo mudou na relação entre o jornalismo e os pelotenses. Até por volta de 2015, havia um marcado interesse nos assuntos da cidade. Um mero buraco, e nem precisava ser o negro, despertava vívida atenção. Agora já ninguém dá a mínima. Nem mesmo se o buraco for um rombo fruto de corrupção numa área de vida e morte, como a de saúde. O valor da notícia sofreu uma erosão nas percepções. Não é uma situação local, mas, arrisco dizer, do mundo.

Vem ocorrendo uma cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem. Um corte entre elas e a vida social. O espaço, que no ado era público, já hoje parece ser de ninguém.

A responsabilidade parcial disso parece, curiosamente, ser das novas tecnologias de comunicação. Se por um lado elas deram voz à sociedade como um todo, por outro, ao igualmente darem amplo o ao mundo virtual, elas nos têm distraído da concretude do mundo, de interação sempre mais hostil — distraído, enfim, da realidade mesma, propiciando que vivamos em mundos paralelos.

Outra razão é que, no essencial, nada muda em nossa realidade. Isso ficou mais evidente porque as redes sociais deram vazão, sem os filtros editoriais da imprensa, a um volume de problemas reais maior do que o que era noticiado. Se antes já havia demora nas soluções, essa percepção foi multiplicada pelo crescente número de denúncias feitas nas redes pelos próprios cidadãos. Os problemas que dizem respeito à coletividade se avolumam sem solução a contento, desconsolando e fatigando a vida.

Como a dinâmica da cidade (e da realidade) não responde como deveria, eis o ponto, estamos buscando reparações no ambiente virtual, sensitivamente mais recompensador, além de disponível na palma da mão.

No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades. Estamos habitando no mundo virtual, onde não há frustrações, mas sim gratificação instantânea. Andamos absortos demais em nossa vida. Abduzidos por temas de exclusivo interesse pessoal, retroalimentados minuto a minuto pelo algoritmo.

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Antes vivíamos num mundo de trocas diretas entre as pessoas. Hoje habitamos numa nuvem, no cyber-espaço. Andamos parecendo cada dia mais com Thomas Anderson, protagonista do filme Matrix. Conectado por cabos a um imenso sistema de computadores do futuro, ele vive literalmente em uma realidade paralela. Isso dá

Para complicar tudo, há pensadores para quem a realidade é uma simulação.

Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros etc. não existem no mundo concreto, mas são simulações percebidas pelo nosso corpo (pessoas veem as cores em diferentes tons, quando não em diferentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado dos nossos sentidos.

Assim, a única coisa real seria a razão, quer dizer, o modo como processamos aquelas percepções dos sentidos. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos que amos o concreto, não haveria diferença entre eles.

Segundo aqueles pensadores, como o mundo virtual está entrelaçado com o mundo concreto, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor.

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