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A violência foi tamanha, que desmaiou.
Scilla conta que, segundos antes de agressão, ocorrida por volta das 11h, o homem a ameaçou de morte, informando que estava com revólveres numa bolsa que trazia no ombro.
“Ele disse que ia me dar um tiro”.
Scilla, que foi professora na UFPel e na Uel, conta que foi a primeira vez, em 22 anos de carreira, em que um fato assim ocorreu com ela.
O que aconteceu para chegar nesse ponto? Ela narra o episódio:
“A legislação permite que gestantes sejam acompanhadas no parto por um familiar de sua escolha. Ela escolheu o marido, um rapaz de pouco mais de 20 anos de idade. A paciente estava em trabalho de parto humanizado, natural, rigorosamente monitorada. Mesmo assim, ele estava nervoso.
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Minutos antes, tinha ameaçado colegas meus. Não gostou quando um colega meu, dr. Eduardo, entrou na sala para, num revezamento comigo, supervisionar o andamento. Não gostou porque era um médico homem, queria uma mulher médica, e avisou que estava perdendo a paciência.
Ele disse que estávamos torturando a mulher dele, e que sabia o que era tortura, porque a havia sofrido no quartel.
Provavelmente ele se referiu à tortura porque o trabalho de parto natural exige uma série de procedimentos, massagens nas costas da paciente, sentá-la num banquinho, aplicar soro, esperar pela dilatação completa, cenas que podem perturbar quem não está acostumado.
O fato é que o parto estava sob controle, nós estávamos esperando a dilatação perfeita para retirar o bebê, seguindo os protocolos.
Num certo momento, avisei a ele que a dilatação não estava perfeita e que o correto era fazer uma cesárea. Ao dizer isso, ele descompensou.
Foi aí que veio a ameaça e a agressão. Dei as costas para sair da sala e preparar a cesárea. Ele veio por atrás, me impediu de sair e avisou que tinha na bolsa dois revólveres, um 38 e um 42, e que ia me matar.
Fiquei branca, mas falei: ‘Eu não tenho medo de revólver, porque aqui estou de coração para cuidar das mães e dos bebês’. Ponderei também que se ele me matasse, o parto corria riscos, já que era eu quem estava responsável pelos trabalhos.
Médicos residentes entraram na sala e o tiraram de cima. Ele então telefonou para alguém e disse que ‘havia feito m… agredido uma médica’.
Na sequência, fugiu do local.
O parto foi feito, mãe e filho am bem”.
Casal grava vídeo acusando médica de maus tratos em parto
A médica Scilla encerra o relato com uma reflexão:
“Fala-se tanto em parto humanizado… e eu já fiz mais de 10 mil partos, apaixonada por obstetrícia. Esse episódio lamentável me faz pensar que o pré-natal deveria preparar não só a mulher, mas o casal, porque o marido, o familiar, a maioria, não sabe o que é o trabalho de parto, as longas contrações, algumas chegando a durar 10 minutos, sangue, secreções etc.
Raríssimos os maridos que am pelo pré-natal. Seria importante que todos assem, para que entendam que um parto não é como em novela, que tem aquelas cenas que eu falei, e que não é tortura, é normal”.
Scilla fez tomografia, está urinando com sangue, mas a bem.
O hospital registrou um boletim de ocorrência na polícia.