Adolfo Antonio Fetter Jr. é produtor rural, ex-prefeito de Pelotas |
Quem me conhece sabe que não sou médico, nem istro nenhum hospital ou tenho envolvimento pessoal ou profissional com este assunto, e deve ficar surpreso de estar escrevendo texto a respeito do impacto da atual Pandemia nestas entidades.
Adolfo Antonio Fetter Jr.
Ocorre que tenho acompanhado atentamente o que tem sido escrito e falado na mídia e nas redes sociais sobre diferentes aspectos e impactos deste tema, mas tenho observado que geralmente o que se aborda é sobre a realidade do atendimento de infectados, focando especialmente no seu número, nas mortes que têm ocorrido e nas dificuldades que têm sido enfrentadas na “linha de frente” deste combate, onde estão os profissionais da Saúde.
Aliás, creio que nunca se falou tanto sobre a importância e as precariedades do Sistema de Saúde, bem como sua capacidade de nos atender e possibilitar a superação desta doença, até então desconhecida pela população, pelos governantes e também pela imensa maioria de quem tem como missão a imprescindível missão de acolher doentes e salvar vidas.
Na verdade, desde fevereiro – quando o Coronavírus ou a ser assunto crescentemente abordado a partir do conhecimento inicial do que estava ocorrendo na China, ando pela realidade a seguir enfrentada na Europa e depois nos Estados Unidos, até se tornar predominante (e preocupante) também aqui no Brasil – estamos com nossas vidas “em suspense” e submetidos a diferentes graus de isolamento de outras pessoas e de nossas “vidas normais” por 2 meses.
Quem acreditaria que isto seria possível ocorrer em todo o mundo, que cada vez mais vinha se tornando “globalizado” e “super conectado”? Agora nos surpreende ouvir novamente a música premonitória do Raul Seixas com o título “O dia em que a Terra parou” (de 1977), ou assistir ao filme “Contágio” (de 2012), que tinha como tema justamente uma Pandemia que poderia nos afetar de modo tão drástico!
A minha (pouca) experiência pessoal sobre esta importante questão
Pois bem, a familiaridade que tenho com a gestão da saúde foi por – durante 8 anos – ter atuado como gestor público da saúde municipalizada em Pelotas desde 2000 (quando era deputado federal e estive envolvido também com estas tratativas iniciais), bem como pelo fato de ter participado em duas gestões da Mesa da Santa Casa (embora, neste caso, apenas como colaborador, sem qualquer responsabilidade direta sobre sua istração).
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No período em que fui prefeito, um dos grandes desafios permanentes a enfrentar foi o de definir anualmente as metas contratualizadas com os hospitais e tentar comprovar seu atingimento a cada mês, de modo a garantir o ree de recursos estaduais e federais e buscar ampliá-los, bem como entender o papel destas instituições no atendimento à população.
No que diz respeito especificamente à Santa Casa, tive a oportunidade de acompanhar a gestão do então Provedor Roberto Penteado e de “sentir” o “outro lado da moeda”, ou seja, os problemas enfrentados para prestar o atendimento contratualizado à população pelo hospital. Novamente voltando a participar da Mesa na gestão atual do Provedor Neves, há mais de um ano tenho participado de reuniões semanais e acompanhado a grave crise enfrentada pela entidade, o que tem sido abordado pela imprensa local.
Tenho, portanto, alguma familiaridade com esta questão.
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Minhas dúvidas a respeito
Por conta desta relativa proximidade pessoal com o atendimento efetivamente prestado pelo Sistema de Saúde à população de Pelotas e da região (pois aqui cerca de 20% dos procedimentos realizados são de pacientes de outros municípios, pelo fato de ser “polo regional” em diversas especialidades), tenho constatado uma realidade intrigante: Hospitais e até o Pronto Socorro relativamente “vazios” nos últimos 60 dias.
Na escassa abordagem que tenho observado deste assunto, normalmente isto é saudado como POSITIVO e um fato até SURPREENDENTE, pois geralmente o que se conhecia eram filas e reclamações sobre a demora e precariedade em muitos casos. Da mesma forma, as estatísticas oficiais divulgadas e as matérias jornalísticas que busco acompanhar têm focado nos pequenos números de infectados e saudado a falta de mortes por Covid até agora.
No entanto, a divulgação de pesquisa coordenada pela UFPel nos alerta que o número projetado de atingidos é bem maior, ou seja, que há uma “contaminação comunitária” próxima a DEZ VEZES o que as estatísticas informam e isto tem gerado alguma polêmica, especialmente comentários nas redes sociais, onde vejo questionamentos e críticas fortes a respeito.
Afinal, há contradição entre estes números informados e projetados? Nossa estratégia local de enfrentamento da Pandemia está correta? Onde estão sendo aplicados os cerca de R$ 49 milhões anunciados como ree do Governo Federal para o município?
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Para me informar melhor – e tentar entender estas importantes questões – busquei ouvir dois médicos experientes e pessoalmente engajados na istração de duas centenárias entidades e que têm grande relevância: Armando Manduca, da Beneficência, e Maurício Goldbaum, vice-provedor da Santa Casa.
Eles me confirmaram o que intuitivamente eu suspeitava: estes Hospitais estão bastante ociosos desde o Decreto Municipal de 20 de março – quando foi oficializado o “isolamento social” e foram suspensos diversos procedimentos – ando o “foco” ser a preparação para o risco representado pelo Coronavírus e isto continua ocorrendo até hoje.
Além disto, outra dúvida que busquei esclarecer foi o que estava ocorrendo em relação a outras doenças também graves e que historicamente atingem partes relevantes da população, tais como diabetes, câncer, acidentados e acometidos de doenças circulatórias (AVC e infartos sendo as mais impactantes). Isto deixou de ocorrer ou está “represado”?
Estas preocupações pessoais me fizeram querer abordar este tema e procurar entender melhor a realidade atual e suas consequências para o futuro.
A Pandemia e os Hospitais
De um lado, Manduca me informou que a Beneficência estima perder expressivas Receitas neste período de isolamento social e que neste hospital foram atendidos alguns casos de Covid-19, o que agora está oficialmente “determinado” pelas autoridades a não mais fazer, pois só foram declarados 2 “Hospitais Covid” em Pelotas.
No que diz respeito à Santa Casa, Maurício relatou que também há expressiva “ociosidade” e que a entidade tem sido pressionada pelas autoridades a reservar expressiva parte de sua área para este possível enfrentamento (por ter sido considerada como “Hospital Covid” junto com o Hospital Escola da UFPel), que ainda não ocorreu…
Em resumo, os dois Hospitais continuam com suas “despesas normais” (pessoal, encargos, financiamentos etc.) e tiveram “custos adicionais” com equipamentos de proteção (EPI) para seus colaboradores, mas tiveram suas Receitas expressivamente reduzidas, em especial as relativas a Convênios e Particulares.
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Questionados, também, sobre as repercussões futuras deste “represamento” nos atendimentos, ambos me relataram suas preocupações com o que vai acontecer DURANTE a Pandemia e a realidade que vai ser enfrentada APÓS sua superação.
Enfim, a anteriormente já complicada e delicada situação destas instituições filantrópicas e mais do que centenárias, vai se agravar ainda mais, ameaçando suas sobrevivências? Vamos ver o que eles tem a esclarecer sobre isto e quais suas preocupações. (leia abaixo).
Dr. Armando Manduca, da Beneficência Portuguesa
Dr. Mauricio Goldbaum, Vice-Provedor Santa Casa
1º IMPACTO: Determinação de Atender apenas Urgências
A consequência é queda brusca da taxa de ocupação de leitos (de 85% para 45%) e a suspensão dos atendimentos ambulatoriais.
A grande maioria dos pacientes internados é do SUS, provenientes do Pronto Socorro Municipal, e as poucas internações de pacientes privados não deixam resultado suficiente para cobrir as despesas quando juntados aos recursos do SUS.
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Isso faz dobrar o custo da diária hospitalar, sem que o SUS ou planos de saúde se responsabilizem pelo pagamento.
2º IMPACTO: Determinação de Afastamento de Funcionários (Idosos, Gestante e Crônicos)
A consequência é o aumento de despesa com a contratação de pessoal (médicos para UTI, médicos plantonistas, fisioterapeutas, etc…) para substituir os afastados, que continuamos pagando salário.
3º IMPACTO: Os Profissionais da Saúde devem usar EPI
A consequência foi o aumento da despesa com o EPIs de custo elevado e até com exigência de pagamento antecipado com valores exorbitantes, causando aumento da despesa.
4º IMPACTO: Separar Atendimento de Pacientes COVID e não COVID
A consequência foi ter que adaptar a área física do hospital, separando espaços, serviços e treinamento de pessoas. Modificar estrutura de área física de ambulatório, alas de internação, UTI, causando despesas extras consideráveis.
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5º IMPACTO: Divisão dos Hospitais em Covid e não COVID
A consequência é que 45 dias após a determinação, ainda não está definido onde serão atendidos os pacientes com Covid de planos de saúde privados. Inaceitável essa situação.
COMENTÁRIO
Os impactos causaram desequilíbrio econômico-financeiro, tornando a despesa bem maior do que a receita.
Nossa preocupação é que, no momento em que mais se torne necessário o atendimento hospitalar, a instituição não esteja em condições de funcionalidade.
Como prestar atendimento se não tivermos materiais, medicamentos e profissionais de saúde por falta de pagamento?
Nos meses de Março e Abril conseguimos, apesar do aumento da despesa, manter os pagamentos, porque a receita foi proveniente dos serviços executados em Janeiro e Fevereiro, antes dos Decretos.
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A partir de Maio nossa receita será da produção dos serviços já sob o impacto dos Decretos e muito menor do que a despesa. Como manter a funcionalidade nessas condições durante a Pandemia?
Queremos comentar o fato de o Gestor Municipal estar utilizando área física de hospital privado, sem a devida remuneração, bem como ainda não ter liberado as emendas parlamentares destinadas às instituições hospitalares, hoje “sub judice” na tentativa de recebê-las.
SUGESTÃO
Não estamos nos posicionando contra os Decretos, que entendemos terem nos permitido viver até o momento, em Pelotas, uma situação menos desconfortável do que na maioria das cidades com população semelhante.
O que sugerimos é que parte dos 49 milhões de reais advindos do Ministério da Saúde seja disponibilizada aos hospitais pelo Município, para cobertura do prejuízo, causado no cumprimento dos Decretos.
Não faz sentido a proposta de criar novos leitos para receber recurso, quando estamos com dificuldade para manter a estrutura atual.
A liberação parcial de procedimentos eletivos não é a solução, porque os hospitais precisam manter toda a estrutura funcionando, como temos mantido até agora, mas podendo realizar apenas número reduzido de procedimentos.
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Algumas empresas já devem ter sido desativadas. Não podemos permitir que ocorra isso com as instituições hospitalares. É questão de bom senso evitar-se a desestruturação das instituições hospitalares em meio a uma pandemia.
Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.
Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.
Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.
Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.
Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.
Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.
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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.
No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.
Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.
Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.
Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.
Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.
Como assim caos interior?
Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.
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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.
Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.
Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.
É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.