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Mais letal é o vírus da ideologia cega. Por Mateus Bandeira q4r6e

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A crise global provocada pelo novo coronavírus não é a primeira da história da humanidade. Houve outras.

Períodos de crises graves e perturbadoras, como o atual, podem mostrar o melhor e o pior de cada indivíduo. Também podem ser momentos de transformações.

A Europa, com a decisiva ajuda dos EUA, renasceu da devastação causada pela Segunda Grande Guerra e criou o Welfare State. À exceção dos países confinados pela URSS atrás da Cortina de Ferro, as nações europeias experimentaram um longo período de bem-estar social que até hoje os distingue do restante do mundo.

Winston Churchill, o líder marcado pelo fracasso militar da Campanha de Galípoli durante a Primeira Grande Guerra, revelou-se decisivo durante a Segunda Guerra. Sem ele, as potências do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) talvez não tivessem sido derrotadas.

Debate interditado

Crises planetárias anteriores devem ser estudadas e servir como referência. Mas é preciso cautela nas comparações.

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Uma das principais diferenças de hoje para o ado é o avanço da medicina, muito superior a tempos de outrora. Outro aspecto muito relevante é a capacidade de comunicação inigualável, tendo em vista a revolução provocada pela internet.

São dois postulados evidentes, certo? Representam a base para um diálogo lógico e racional, que deveria estar conduzindo os debates em torno de como enfrentar a covid-19?

Mas eis que não. Como em momentos obscuros do ado, o debate foi interditado. As redes sociais, por exemplo, aram a censurar quem pensa diferente do mainstream.

Na maior parte da Terra, uma única alternativa de combate à pandemia é aceita. Mesmo diante de argumentação cientificamente sólida, a maior parte dos governantes e da imprensa adotou um lado como o certo.

Pior. Todos os que se opõe à alternativa supostamente correta são taxados de frios, liberais, utilitaristas, capitalistas, insensíveis, avarentos, argentários, etc.

Sem medo de pensar

A primeira atitude para enfrentar o inimigo invisível e poderoso é não ter medo do conhecimento, mesmo que nos contrarie. Se alguém op um argumento, antes de rebatê-lo, que tal pensar?

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Sabemos alguma coisa sobre o coronavírus. Mas, definitivamente, não sabemos tudo.

Por enquanto, é indiscutível que alguns grupos de risco são os alvos preferenciais do vírus. Pessoas idosas e com doenças pré-existentes representam 90% dos casos fatais.

A taxa de letalidade, apontada como muito alta, ainda não pode ser aferida com precisão. Isto porque a maioria da população não está sendo testada.

Utiliza-se como referência situações particulares como a da China (que, como foi a primeira afetada, teve que reagir sem referências anteriores) e da Itália (onde uma região em especial, a Lombardia, foi disparada a mais atingida, matando majoritariamente idosos doentes).

Diante do desconhecido, a maioria dos governantes adotou o isolamento social. Provavelmente, com receio de parecerem inoperantes, um a um foi sucumbido à única receita dada como certa.

Assim é a política. Mas o que dizer de médicos, economistas e jornalistas?

Pode não parecer, já que quase não existe debate, mas há cientistas, economistas, estudiosos e jornalistas que pensam diferente. Porém, bombardeados, raramente têm espaço para expor seus pontos de vista.

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A catástrofe a caminho

Diante da irracionalidade que se impôs, conclui-se que o isolamento social ou o lockdown está certo, não? Não. Não é possível, em tão pouco tempo, afirmar o sucesso desta receita.

Este raciocínio é sustentado pela necessidade de ganhar tempo para evitar o colapso do sistema de saúde. O professor Dr. Anthony Wong, diretor do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, lembra que as medidas restritivas e o isolamento social não impedem o contágio, apenas o retardam.

Enquanto a maior parte da humanidade não estiver imunizada pelo contágio, o número de infectados continuará crescendo. É o óbvio. Retardar esta fase não garante a redução do número de mortes.

Outro erro é comparar regiões e povos desiguais. Em termos relativos, para cada 100 mil habitantes, o Brasil tem mais leitos de UTI (20) do que a Itália (13) e a Espanha (10), para ficar com os dois países com o maior número de óbitos.

Quantos leitos adicionais de UTI precisamos construir? Em que regiões? Em qual prazo? Quantos respiradores adicionais serão necessários? Quando teremos testes suficientes para o tamanho de nossa população? Onde estão os planos de ação?

Vírus diferente, alvo diferente

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Como outras doenças, o coronavírus tem suas características próprias. Por exemplo, o público alvo de cada vírus é diferente.

Portanto, adotar o mesmo remédio para todos é irracional. Era como se disséssemos, quando surgiu o HIV, que todos deveriam se abster de ter relações sexuais e de realizar transfusões sanguíneas para que ninguém fosse contaminado. Absurdo.

O remédio não deve ser igual para todos. O pânico não pode substituir a racionalidade. Para gerir uma crise, qualquer uma, é necessário liderança e método. Mas sobretudo é preciso ter a mente aberta, em busca da verdade.

De olho na Suécia

Verdade que pode ser encontrada em países que fizeram opção diferente. Caso da Suécia, que seguiu outro caminho.

Ela adotou recomendação do distanciamento social no lugar do isolamento ou do lockdown. Buscou uma vigilância mais apurada, com autoisolamento e medidas de proteção para os grupos de risco (pessoas com mais de 70 anos e com saúde vulnerável).

Embora tenha preservado, com cautela, boa parte da vida cotidiana anterior à covid-19, a velocidade de contágio não foi diferente dos países que decidiram enfrentar a pandemia com quarentenas duras e horizontais. A economia está sendo tocada próxima à normalidade.

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Não se trata de subestimar a gravidade da doença. O vírus mata; cada vida é importante; não podemos agir com imprudência.

Quem se recusa a raciocinar, pode achar que a Suécia foi atrás de curandeiros com receitas medievais para enfrentar a crise sanitária. País desenvolvido, ela também se baseou na ciência. Basta ver os números disponíveis até aqui.

Quando se compara a Suécia com seus vizinhos Finlândia, Noruega e Dinamarca – todos países nórdicos e com similaridades no sistema de saúde, características socioeconômicas e perfil demográfico – isso fica evidente.

Na comparação, o número de casos confirmados e a velocidade de crescimento, o número de óbitos e de altas hospitalares, em termos relativos, não se altera. Enquanto a Suécia, que optou por manter a economia funcionando, o comércio e restaurantes abertos, os demais optaram pelo isolamento social ou lockdown horizontal.

Desemprego e fome matam

Se o efeito perverso das mortes for o mesmo, por que não adotar a fórmula sueca de isolamento vertical? Por que insistir num modelo que vai causar perdas econômicas inestimáveis, talvez com um número maior de mortes?

Afinal, desemprego e falências de empresas também causam mortes. Toda a vez que se escreve isto, algum falso humanista se vale do politicamente correto para interditar o debate.

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Boa parte desta turba não quer debater, mas impor pontos de vista. Àqueles que querem debater, sigo na argumentação.

Para estes, dos quais estou disposto a ouvir as argumentações contrárias, reforço: o lockdown também custará a perda de vida humanas. Talvez mais vidas do que as que lamentavelmente vão ser perdidas na necessária batalha contra o coronavírus.

Ideologia cega

Assim, proponho, é essencial refletir, de forma ampla e “descontaminada” do vírus da ideologia cega, em termos de vidas poupadas com a desaceleração do contágio e das vidas perdidas com a paralisação da economia.

Mesmo entre os economistas que defendem o isolamento social, não há dúvida que, a depender do tempo do lockdown mundial, estaremos diante da maior depressão econômica de todos os tempos. Não dá pra saber ainda, mas, talvez, somente nos tempos das Grandes Guerras a catástrofe econômica seria maior. Talvez.

O Brasil não tem o arsenal dos EUA ou da União Europeia em termos econômicos. Além disso, nossa economia anda cambaleante desde a depressão de 2014-2016. A crise econômica que certamente virá vai nos encontrar muito mais frágeis do que as ricas e poderosas nações desenvolvidas do Hemisfério Norte.

Discutimos por anos uma reforma da previdência que, aprovada, renderá uma economia de R$ 800 bilhões ao longo de uma década. Ora, as medidas anunciadas até aqui já somam a totalidade dessa economia.

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E o desastre econômico será tanto maior quanto mais prolongarmos esta agonia. Uma economia em depressão mata. Mata de fome, de doenças, de violência.

Ignorar esta evidência é ir de encontro à ciência. É tão deletério quanto se recusar a lavar as mãos com água e sabão.

Ainda o Brasil. Em cerca de 5,2 mil municípios não temos nenhum caso registrado de covid-19. Entretanto, na maioria destes municípios a economia está paralisada por determinação dos governos estaduais e municipais.

Ora, por que todos devem sofrer da mesma forma? Tratar os diferentes de forma igual é sabidamente um equívoco. Por mais incrivelmente ilógico que isto possa parecer, é o que estamos fazendo.

Para refletir

Encerro com três títulos de três jornais diferentes. Como escrevi acima, a maior parte da mídia adotou um lado.

Grandes jornais, porém, abrem espaço ao saudável contraditório. Cito três títulos e disponibilizo os respectivos links.

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Em países pobres, o lockdown como remédio poderia ser mais letal que a doença” (fonte: Financial Times, “In poor countries, the lockdown cure could be worse than disease]

Excerto: “Em economias falidas, assassinos silenciosos como diarreia, subnutrição e mortalidade infantil podem eliminar populações”.

“Nossa luta contra o coronavírus é pior do que a doença">The New York Times, “Is Our Fight Against Coronavirus Worse Than the Disease?”]

Excerto: “O que precisamos é de uma abordagem mais cirúrgica.”

“Repensando a paralisação pelo coronavírus” (Fonte: The Wall Street Journal, “Rethinking the Coronavirus Shutdown]

Excerto: “Não existe dinheiro suficiente para compensar perdas desta proporção que estamos vendo caso esta paralisação continue por mais semanas”.

Isto é debater. Isto é raciocinar.

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Não concordo com os que defendem o isolamento social ou lockdown, mas leio e estudo com atenção seus argumentos. É por meio do debate racional, sereno e sincero que chegaremos a um denominador comum.

No confronto contra Adolf Hitler, o líder britânico sabia que a vida de conterrâneos seria sacrificada. Winston Churchill sabia que isto era muito ruim. Mas pior seria se a humanidade tivesse sido derrotada pelo nazismo.

A batalha agora é outra. A solução provavelmente não será única. Cada país (às vezes cada região, em territórios muito grandes como o do Brasil) deve adotar seu receituário.

Nosso alvo deve ser o menor número possível de vítimas pelo coronavírus. Isto não impede que, do mesmo modo, trabalhemos pela saúde de nossas economias, o que significa preservar empregos, trabalho e renda. E vidas.

Mateus Bandeira (@mateusbandeirars)

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Mateus Bandeira é conselheiro de istração e consultor de empresas. Foi CEO da Falconi, presidente do Banrisul e secretário de Planejamento e Gestão do Rio Grande do Sul.

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1 Comment

1 Comments 4g66a

  1. João Monteiro

    10/04/20 at 12:31

    Comentário lúcido, inteligente e sensato! Brillhante! Parabéns. Sugiro que seja enviado na íntegra para publicação em outros jornais de expressão nacional.

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Brasil e mundo 3m3y11

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio b4o68

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento 1f3218

O perigo das Gagas da vida 1n4w28

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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