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Brasil e mundo

Suécia e Dinamarca: duas atitudes diante da epidemia

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As diferenças são bastante extremas.

Do The Local | A Dinamarca foi um dos primeiros países da Europa a fechar suas fronteiras e fechou todas as escolas, jardins de infância, restaurantes e cafés e proibiu todas as reuniões de mais de dez pessoas.
 
Já nas creches da Suécia, outro país escandinavo, escolas primárias, bares e cafés ainda estão abertos normalmente.
 
Christian Wejse, epidemiologista da Universidade de Aarhus, disse ao The Local que apoiava a ação rápida da Dinamarca para retardar o desenvolvimento da pandemia. “Sou fã. Acho que temos um governo corajoso e eles estão prontos para responder muito rapidamente e de maneira muito dramática, mesmo que as consequências sejam graves em termos de economia”, disse ele ao The Local. “Eu acho que o que se aplica aqui é o velho ditado, ‘se você acha que prevenir doenças é caro: experimente doenças'”.
 
Na Suécia, o epidemiologista estadual Anders Tegnell foi criticado por cientistas e pelo público por não pressionar por um bloqueio mais difícil.
“Quantas vidas eles estão dispostos a sacrificar para evitar o fechamento e o risco de grandes conseqüências para a economia do país”, disse Joachim Rocklöv, professor de epidemiologia e ciências da saúde pública da Universidade de Umeå, em uma conversa por e-mail obtida pela emissora pública sueca SVT.
 
Mas mesmo Søren Brostrøm, diretor geral da Autoridade de Saúde Dinamarquesa, descreveu a decisão de sexta-feira de fechar as fronteiras da Dinamarca como “política”.
 
“O fechamento de fronteiras não estava em nosso catálogo [de ações]. Isso ocorre em parte porque há evidências bastante modestas de que são eficazes”, disse ele em entrevista coletiva no sábado, acrescentando que não fazia parte das recomendações da World Health. Organização também.
 
O epidemiologista estatal sueco Anders Tegnell, que tem sido a principal força por trás da abordagem mais gradualista da Suécia, explicou ao DR por que a Suécia adotou uma abordagem mais lenta e lenta.
 
“Na Suécia, nossa avaliação é de que não é mais relevante fechar as fronteiras porque a infecção já se espalhou tanto em todos os países da Europa que inibir as viagens não teria efeito”, afirmou.
 
A mesma análise de custo-benefício estava por trás de sua decisão de ainda não fechar escolas primárias e jardins de infância.
 
“Fechar escolas é uma medida muito significativa, muito complexa e discutimos bastante”, afirmou. “Sabemos que veremos muitos efeitos muito negativos ao fechar escolas: você perde força de trabalho na área da saúde em uma extensão totalmente inaceitável para a Suécia
 
“As crianças também saem da escola e conhecem muitas outras pessoas, por isso aumenta o risco de espalhar a infecção para outras pessoas e também o risco de espalhá-la para os idosos, que achamos muito importante proteger”.
 
Na segunda-feira, o ministro da Saúde da Dinamarca, Magnus Heunicke, deixou claro que algumas das ações de seu governo não tinham evidências médicas ou científicas para apoiá-las.
 
“Não temos evidências de que tudo o que estamos fazendo funcione”, disse ele. “Mas preferimos dar um o longe hoje do que descobrir em três semanas que fizemos muito pouco”.
 
“Se tivermos que esperar por evidências completas para combater a coroa, é minha convicção clara de que seremos tarde demais”, disse a primeira-ministra Mette Frederiksen na mesma conferência de imprensa.
 
Tegnell atribuiu a diferença nas respostas dos dois países, em parte, ao alto nível de independência de que gozam as agências governamentais suecas, como seu empregador, a Agência de Saúde Pública da Suécia.
 
“Na Suécia, as agências governamentais são extremamente independentes, mesmo que seja o governo que tenha a decisão final, e temos uma longa tradição para isso”, disse ele.
 
Por um lado, isso significa que é menos provável que as decisões sejam tomadas para apelar às emoções do público. Por outro lado, isso significa que os políticos suecos se sentem menos capazes de intimidar burocratas cautelosos.
 
Também existem diferenças demográficas que podem ter um impacto: a Suécia tem uma densidade populacional de 25 por quilômetro quadrado, enquanto a Dinamarca tem uma população de 137 por quilômetro quadrado (embora grande parte da população sueca esteja concentrada nas grandes cidades).
 
Mas Tegnell argumentou que a crise do coronavírus havia revelado diferenças culturais mais profundas entre os dois países do que o esperado.
 
“Há uma diferença maior entre a Suécia e a Dinamarca de muitas maneiras do que pensávamos”, disse ele. “Falamos quase a mesma língua, compartilhamos muita história e cultura – mas temos sistemas sociais diferentes e há diferenças na maneira como a população reage”.
 
Ele disse que atualmente é difícil julgar, mas que seu sentimento é de que o governo da Dinamarca agiu com muita rapidez e força.
 
“Do ponto de vista sueco, parece que você está reagindo um pouco rápido demais”, disse ele ao DR. “Vamos ver, depois de tudo isso terminar, quem sai melhor.”

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A liberdade sagrada das redes

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Noutro dia escrevi um texto sobre a cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem, responsabilizando parcialmente as novas tecnologias de comunicação. Disse: “Se por um lado as tecnologias deram voz à sociedade, por outro, nos têm distraído da concretude do mundo, de interação mais hostil, levando-nos a viver em mundos paralelos”. E: “No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades, mas sim no mundo virtual, um refúgio, retroalimentado pelo algoritmo, onde não há frustrações, mas sim gratificações instantâneas”. Bem, esse é um lado da questão. E não é novo.

Desde Freud se sabe que, diante do trauma, a criança dissocia-se para á-lo, refugiando-se na neurose, uma estratégia de defesa. Pois, assim como a criança abalada pelo trauma, as pessoas, diante das escalabrosidades do mundo concreto, fazem igual: elas podem se retirar para o mundo virtual, guardando, daquele, uma distância.

O outro lado da questão, o reverso da moeda, é que, sem as novas tecnologias de comunicação, a voz traumatizada da sociedade permaneceria atravessada na garganta, sem chance de extravasar-se.

A possibilidade de expressão liberou uma carga de justos ressentimentos contra os limites da política, as injustiças, o teatro social. De súbito, tivemos uma ideia do tamanho da insatisfação com os sistemas de vida, ando publicamente a protestar, em alguns casos chegando à revolução, como ocorreu na Primavera Árabe, onde as redes sociais cumpriram um papel fundamental.

Pois não é por outra razão que os donos do antigo mundo estão incomodados e querem controlar a liberdade de expressão, especialmente a velha imprensa, os monopólios empresariais, os sistemas políticos totalitários. Enfim, todos aqueles para quem a internet e as redes sociais ameaçam seu poder, ao por de pernas pro ar as certezas convenientes sobre as quais se assentaram.

Fato. As inovações desarranjam os mercados e os modos de vida. Toda inovação faz isso. É o preço do progresso. Mas, assim como é impossível voltar ao tempo do telégrafo (imagine o desespero nas Bolsas de Valores), é impensável retroagir ao mundo exclusivo da prensa de Gutenberg. Porque as descobertas, afinal, permitem avançar nos arranjos produtivos: propiciam economia de tempo, dinheiro e, no caso da comunicação, ampliam a liberdade, seu bem mais precioso. Pode-se dizer que não estávamos preparados para tanta liberdade súbita, e que venhamos, neste momento, usando-a “mal”. Contudo, parece razoável dizer que, à medida que o tempo e, estaremos mais e mais preparados para lidar com a liberdade e seus efeitos.

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Com todos os defeitos que a vida tem, é preferível mil vezes, ao controle da palavra, a liberdade de dizê-la. Quem pode afirmar (ou julgar) o que é verdadeiro e o que é falso, senão as pessoas mesmas, em última análise, de acordo com suas percepções e as pedras em seus sapatos? Pois hoje, depois de provarmos a liberdade trazida pelas novas tecnologias, mais do que nunca sabemos que a imprensa, em sua mediação da realidade, é falha, e como o é!

É interessante (e triste) ver como, após a criação da internet e das redes, grande parte da imprensa, ao perder o monopólio da verdade, se vêm tornando excessivamente opinativa e crítica das novas tecnologias. Deveria, sim, era aprimorar-se no trabalho para prestá-lo melhor. Acontece que — eis o ponto — como a velha imprensa não é livre de fato, como depende do financiador, muitas vezes de governos, ela vê nas novas tecnologias de ampla liberdade uma ameaça à velha cadeia de produção acostumada a filtrar o que valia ser dito, e o que não valia, em seu óbvio interesse, hoje nu, como o rei da história.

Além de tudo, há essa coisa interessante: a percepção. Para alguns pensadores do novo mundo, o que chamamos de realidade é uma simulação, no que concordo. Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros, paladares etc. não existem no mundo concreto (são imateriais), sendo portanto simulações percebidas pelos sentidos (pessoas veem cores em diferentes matizes, quando não divergentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado exclusivo dos nossos sentidos. Assim, a única coisa real seria a razão. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. “Penso, logo existo”.

Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos com que amos o mundo concreto, estando entrelaçados, não haveria diferença entre eles. Logo, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor. Eu acredito que é assim.

Uma vez provadas as inovações, não é possível retroagir. Podemos, isso sim, é refinar, em decorrência delas, o nosso comportamento.

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Vivendo em mundos paralelos

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Algo mudou na relação entre o jornalismo e os pelotenses. Até por volta de 2015, havia um marcado interesse nos assuntos da cidade. Um mero buraco, e nem precisava ser o negro, despertava vívida atenção. Agora já ninguém dá a mínima. Nem mesmo se o buraco for um rombo fruto de corrupção numa área de vida e morte, como a de saúde. O valor da notícia sofreu uma erosão nas percepções. Não é uma situação local, mas, arrisco dizer, do mundo.

Vem ocorrendo uma cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem. Um corte entre elas e a vida social. O espaço, que no ado era público, já hoje parece ser de ninguém.

A responsabilidade parcial disso parece, curiosamente, ser das novas tecnologias de comunicação. Se por um lado elas deram voz à sociedade como um todo, por outro, ao igualmente darem amplo o ao mundo virtual, elas nos têm distraído da concretude do mundo, de interação sempre mais hostil — distraído, enfim, da realidade mesma, propiciando que vivamos em mundos paralelos.

Outra razão é que, no essencial, nada muda em nossa realidade. Isso ficou mais evidente porque as redes sociais deram vazão, sem os filtros editoriais da imprensa, a um volume de problemas reais maior do que o que era noticiado. Se antes já havia demora nas soluções, essa percepção foi multiplicada pelo crescente número de denúncias feitas nas redes pelos próprios cidadãos. Os problemas que dizem respeito à coletividade se avolumam sem solução a contento, desconsolando e fatigando a vida.

Como a dinâmica da cidade (e da realidade) não responde como deveria, eis o ponto, estamos buscando reparações no ambiente virtual, sensitivamente mais recompensador, além de disponível na palma da mão.

No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades. Estamos habitando no mundo virtual, onde não há frustrações, mas sim gratificação instantânea. Andamos absortos demais em nossa vida. Abduzidos por temas de exclusivo interesse pessoal, retroalimentados minuto a minuto pelo algoritmo.

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Antes vivíamos num mundo de trocas diretas entre as pessoas. Hoje habitamos numa nuvem, no cyber-espaço. Andamos parecendo cada dia mais com Thomas Anderson, protagonista do filme Matrix. Conectado por cabos a um imenso sistema de computadores do futuro, ele vive literalmente em uma realidade paralela. Isso dá

Para complicar tudo, há pensadores para quem a realidade é uma simulação.

Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros etc. não existem no mundo concreto, mas são simulações percebidas pelo nosso corpo (pessoas veem as cores em diferentes tons, quando não em diferentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado dos nossos sentidos.

Assim, a única coisa real seria a razão, quer dizer, o modo como processamos aquelas percepções dos sentidos. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos que amos o concreto, não haveria diferença entre eles.

Segundo aqueles pensadores, como o mundo virtual está entrelaçado com o mundo concreto, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor.

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